(fotos da internet, ilustrativa só para mostrar um par de gêmeos)
(Meu personagem participa de um salvamento no mar)
CAP. XII
A FORÇA DO DESTINO
O cheiro de linguiça frita espalhava-se no ar. Daiane na cozinha cantarolava: é o amor! Que mexe com minha cabeça e me deixa assim! Que faz eu pensar em você e esquecer de mim! Que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver!...
Minutos antes, ela fora até o mercadinho e comprara duzentas gramas de linguiça. Picara em pedacinhos e agora fritava numa panela pequena no fogão à lenha enquanto a água fervia. Daiane tinha acordado pensando na avó Dona Felicidades, já falecida, que adorava comer pirão d’água escaldada com farinha de mandioca e linguiça frita. Dentro da água colocara apenas uma pitada de sal. Enquanto cantava sentia a boca salivar pensando nos tempos em que tinham tão pouco para matar a fome, mas havia amor e cumplicidade entre elas.
Os meninos tinham ido surfar, e Daiane prometera que, quando terminasse o serviço na cozinha, iria até à praia espiá-los.
Havia começado a primavera. No quintal, as primeiras rosas amarelas se abriam. Eram lindas. Noutro canto do jardim copos de leite e jasmins cheirosos.
Desceu a Avenida Rudá atravessando a Paraguaçu, e foi em direção à praia. Tarde gostosa, com pouco vento, é o que lhe parecia ali. No entanto, na beira da praia, o vento era mais forte: vento sul, o que fazia o mar repuxar para os lados.
Com os olhos voltados para o mar viu alguns surfistas. Não muitos. Continuou caminhando pela beira d’água, pés no chão, segurando sua saia floral, de um leve algodão. Foi em direção à Zona Nova, como lhes disseram os guris e não em direção à plataforma.
Ao chegar à área destinada à pesca, viu que nem placa de alerta havia para os surfistas e, naquela zona muitos pescadores lançavam suas redes, o que era perigoso para a prática do esporte. E quanto mais se aproximava daquela área mais seu coração batia forte. Estava com uma estranha sensação. Mesmo num dia que parecia ter começado perfeito.
Neste momento, assusta-se com um corre-corre de pescadores na praia e de alguns surfistas alvoroçados no mar. Estão retirando um rapaz d’água, meio sem fôlego. É Marcos, reconhece Daiane. Correu até ele ajudando aos que o carregavam enquanto aflita pergunta:
- E seu irmão?
Ao que ele ainda sem fôlego em choque, respondeu:
- Ficou enrolado nas redes. Eu não consegui salvá-lo.
Na praia não havia salva-vidas, visto que só aparecem com a Operação Verão. Quando chegou efetivamente ajuda da Brigada trouxeram do mar o rapaz sem vida.
Daiane estava desesperada. Marcos chorava feito criança, lamentando não poder salvar o irmão. Na cidade a Prefeitura culpava a Brigada Militar e a Brigada dizia que a culpa era da Prefeitura que já teria as placas no depósito e ainda não as colocara.
É castigo de Deus! Dizia Maria de Lourdes, a mãe desesperada. Eles não deviam ter saído do seminário.
É a força do destino, diziam os moradores da cidade.
Maktub, dizem os árabes...
Nos jornais locais comoção geral! Na Zero Hora mais um assunto a ser debatido com a chegada do verão.
Daiane, prostrada e em choque, estava sendo atendida por paramédicos da SAMU que recomendavam calma. A moça tinha que ir para o hospital porque estava grávida e seu estado inspirava cuidados...
Mário Feijó
Primavera de 2011
(*) Este fato realmente aconteceu em Capão da Canoa há mais ou menos um ano atrás.
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