segunda-feira, 31 de outubro de 2022

MEU ENCONTRO COM PABLO NERUDA

 


MEU ENCONTRO COM PABLO NERUDA

              

Esta noite eu estava visitando a casa de uns amigos, porque lá havia uma festa, e ao sair dela com Sandra, Bela, Ana e Dione encontrei com Pablo Neruda. Vejam só: ele morava na casa ao lado e acabara de passar por mim. Não dava para deixar passar em branco, nem calar. Chamei-o e disse:

- Eu também sou poeta. Adoro seus trabalhos.

Conversamos rapidamente e eu lhe disse que acabara de lançar um livro de poemas “histórias de amor PARA TE SEDUZIR”. Ele me disse que gostaria de possuir um exemplar. Eu falei que ia trazer.

Neruda tinha os cabelos cinza, compridos e desgrenhados. Usava uma calça preta e um casaco tipo cardigã, tricotado a mão, com uma linha bem grossa. Por sinal um lindo casaco. Fez-me lembrar a foto que tinha visto na capa de um de seus livros que eu tinha visto quando tinha 15 anos. A barba estava por fazer e, ele muito simpático, eu tinha vontade de conversar mais, no entanto sem graça se afastou porque uma voz de mulher o apressava para o interior da casa. Minhas amigas, sem entenderem nada e não dando importância ao homem, também me chamavam com urgência.

No chão do quintal de sua casa haviam marcas de muitos pés desenhados e salientados com uma cerâmica salmão clarinha que me inspiraram estes versos:

PÉS

No chão da tua casa

Eu descobri a alma de teus passos

Por onde passavas

E no chão ficavam

As marcas de teus passos

 

Era um chão à beira-mar

Onde o cheiro de maresia predominava

Eu via Neruda, em teus pés,

A imortalidade da poesia abandonada

 

No ar ficou um sorriso simpático

A beleza gris dos teus cabelos

E a elegância de um blusão de lã

Que penso tua musa tricotara

Em noites de deleite...

 

Mário Feijó

31.10.22 (3h15m da madrugada)

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O MENINO E O TEMPO

 


O MENINO E O TEMPO

 

Havia um menino na minha cidade que não tinha idade. Talvez ele já fosse um homem, não sei. Ele queria mudar o mundo. Fazer do planeta um lugar melhor para se viver. Amava os bichos e as plantas, e, tinha cuidados com o planeta Terra. Não a poluía com óleo e plásticos e vivia a plantar flores mundo afora.

No entanto o tempo interferia em seu viver. O sol e a lua faziam dele marionete.

Hoje caiu sobre a cidade uma ventania, seu peito batia mais forte. Seu sangue pulsava revolto feito as ondas do mar. Em noites de lua cheia quando ela surgia frajola no céu em sua saia de nuvens. O menino tem dores no corpo e sua alma sai pela noite em busca da luz do luar.

O sol majestoso em seu esplendor do verão transpassa sua pele e toca seus ossos como se fora um bálsamo a solidificá-los.

O menino não vive longe do mar. Sente falta do cheiro da maresia quando sobe a serra e fica um tempo por lá. Seus músculos se enrijecem e sua pele começa a secar longe do barulho das ondas.

Eu penso que este menino não é um ser deste planeta. Ele deve ser etéreo, uma entidade que a qualquer momento irá se desintegrar viajando pelo espaço em direção a uma estrela dentro de uma galáxia distante. Ele sabe como viajar pelo tempo, se deslocar pelo espaço e conquistar no universo o lugar que lhe é de direito e de lá ficar emanando luz a todos que estão perdidos neste planeta, no decorrer do tempo.

 

Mário Feijó

10.10.22