quarta-feira, 11 de setembro de 2019

MINHA SANTA IGNORÂNCIA


MINHA SANTA IGNORÂNCIA

Muita coisa em mim mudou, desde que eu descobri que não sou mais jovem, nem criança.
Descobri que posso fazer tudo o que quero, mas nem tudo o que eu quero eu posso. Tenho que obedecer aos limites do meu corpo. Aprendi que eu posso subir numa escada, no entanto se eu cair dela, as consequências deverão ser desastrosas, devido à idade que tenho.
Eu até já me achei muito inteligente, quando era jovem, porém comecei a respeitar minha ¨santa ignorância¨. A maturidade me fez descobrir que há muito a aprender e quanto mais eu aprendo mais descubro que pouco eu sei.
Eu aprendi a calar, diante da sabedoria de outro. A ouvir mais do que falar. A respeitar o outro, mesmo quando o outro pensa é um suprassumo e eu vejo que não o é. Aprendi a ser humilde. A humildade nos traz sabedoria.
Aprendi que o ser humano está doente e eu não devo usar minhas doenças como se fossem um troféu, ou como forma de chamar a atenção dos outros. Aprendi a silenciar no sofrimento porque sempre haverá alguém querendo nos dar um remédio, ou conhecendo alguém que já morreu disto, ou até que ficou aleijado por este motivo. Aprendi que falar de doenças nos torna frágeis, pequenos e a vida está aí, para que lutemos pela sobrevivência, só assim seremos grandes, foi assim desde a nossa concepção.
Eu, ainda, aprendi que meu corpo se fragiliza a cada ano que passa, mas a minha cabeça diz que eu posso, porque eu estou vivo, e dentro dela eu não envelheci. Só envelhece quem fica balançando numa cadeira, num canto qualquer da vida, ouvindo os outros dizerem: “você não pode” e você acha que é inútil. Sempre podemos ser úteis a alguém ou a nós mesmos. Nada como respirar fundo e sentir-se vivo com o sol no rosto ou aproveitando o que a natureza nos proporciona.
Se você tiver condições viaje mais e gaste menos com coisas que só vão se acumular, se não tiver condições leia e viaje da mesma forma. A leitura é uma viagem gratuita, aproveite.
Bendita esta “Santa Ignorância” que me abre para a vida e para aprender que enquanto eu tiver inteligência para aprender com os outros, ou com os livros (e agora também com a internet), viver é uma experiência diária e aprender é infinitamente necessário à nossa evolução.
Eu não lamento a idade que tenho. Estou na idade em que amigos queridos começaram a ir embora. Já sofri com a perda de meus pais. Já sofri com a perda de um filho. Já sofri com a partida de pessoas companheiras da vida. O que mais me resta senão agradecer pela sobrevivência, sem reclamar, enaltecendo o aprendizado que é a VIDA.

Mário R. Feijó
11.09.19