domingo, 18 de setembro de 2022

ALARIDO DO MAR

 


ALARIDO DO MAR

 

Era primavera

E mesmo assim meu corpo

Tremia como se ainda

Inverno fora

 

O meu corpo gelado

Da cabeça aos pés tremia

E eu sentia falta do teu calor

Que me aquecia nas noites frias

 

No sul do Brasil o frio

Fazia as flores murcharem

E no centro-oeste do país

O calor lembrava alguma estufa

 

No meu quarto

Tento me aquecer

Ouvindo o vento na janela

E o alarido do mar

 

Mário Feijó

06.10.22

MEU PRIMEIRO AMOR

 


MEU PRIMEIRO AMOR

(a história de amor de José Antônio e Alzira)

 

Com uma letra ligeiramente arrastada ele datou 19.10.45, convidando sua noiva Alzira para ir, no outro dia, à Festa de Chico Cap. Dizia ele “a saudade está me maltratando e eu fiquei sabendo que amanhã à festa”.

Estava José Antônio na Fazenda Lúcia da Floresta e Alzira numa outra fazenda, e pouco podiam se ver, onde a condução era feita através de cavalo ou horas andando a pé.

A filha mais velha do Sr. José encontrou esta carta, quando ela já tinha mais de setenta anos, entre coisas que pertenceram a ele.

Descobriu-se que a noiva, Alzira, acabou morrendo um tempo depois e ele acabou encontrando um novo amor, sua mãe, D. Judite e com ela teve 16 filhos.

A tal carta, na realidade não passa de um bilhete, tanto é que começa da seguinte forma:

“Minha querida noiva Alzira, desejo que estas duas linhas te encontrem bem e com saúde, o que está me maltratando é as saudades tuas que são por demais. Queira aceitar uma saudosa lembrança deste seu amante e noivo José Antônio”.

Acaba colocando um P.S. e a convida a estar presente na festa do dia seguinte.

É encantador perceber que ele era um romântico e apaixonado e não tinha vergonha de declarar seu amor quando sabemos que os homens, ainda hoje, têm dificuldade para externar o amor que sentem.

Agora, deixar isto registrado é outra coisa e pelo visto a carta sobrevive por mais de 75 anos e não deve ter chegado às mãos de Alzira, pois estava guardada entre os pertences do falecido pai de D. Iracy.

Acredito, ainda, que D. Judite, sua mãe, o segundo amor do Sr. José Antônio não soubesse ler, caso contrário a carta não teria sobrevivido entre as relíquias dele.

 

 

Mário Feijó

18.09.22   



 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O QUE É VIVER SEM ESPERANÇA?

 


O QUE É VIVER SEM ESPERANÇA?

 

Viver sem objetivos, sem esperança é o mesmo que estar sob a luz do sol e não sentir a claridade. É ter a sensação de que você caiu em um buraco, sem conseguir se levantar.

Há dias em nossas vidas que nos sentimos assim. Eu falo no plural porque já percebi que não sou o único a sentir isto. E, também, porque são muitas as vezes em que isto acontece em nossas vidas.

E, não é só pelo risco que minha vida toma, mas por olhar para a humanidade e perceber que o ser humano caminha para trás.

São os políticos que mentem para conseguir votos. São os “amigos” que se aproximam buscando vantagens. São os parentes que fingem amor para arrancar o que acham ser direitos seus, quando na realidade fomos nós quem estudamos, trabalhamos, passamos por dificuldades para adquirir o pouco que temos.

Há dor em meu jeito quando vejo sempre alguém querendo arrancar de nós algo que eles não merecem. É como você chegar numa horta em que nada ali você plantou e você colhe tudo o que ali tem como se tivesse cuidado da terra e semeado as sementes que agora frutificam.

Onde está a consciência, a inteligência, a solidariedade do ser humano que não dá crédito a quem plantou e que agora colhe frutos como um direito seu.

Quando vejo isto fico chocado com os demais seres humanos e penso: “será que somente eu penso assim?” será que são poucos os que querem construir uma sociedade melhor?

Segundo os ensinamentos religiosos até Deus trabalhou para “CRIAR”.

Quando penso por um lado lúdico, mas que todos sempre têm sua parcela na realização de um mundo melhor, para que depois possamos usufruir as benesses da criação e um dia descansar.

Não quero mais viver sem esperanças. Quero acreditar que tudo vai mudar, embora a realidade esteja muito distante disto.

Mário Feijó - 02.09.22