quarta-feira, 29 de julho de 2020

TOPO GIGIO (humor)


TOPO GIGIO

                Estou querendo saber o que farei com as orelhas de “Topo Gigio” que estou ganhando pós o uso das atuais máscaras? Não tem como ser diferente! Os elásticos estão puxando minhas orelhas pra frente. Semana passada elas chegaram a abanar quando bateu um vento mais forte e frio.
Para quem não lembra do “Topo Gigio” pense então no “Dumbo”, o elefantinho voador. Também serve de exemplo à minha atual preocupação.
Eu entrei no elevador do meu prédio com máscaras, confesso que levei um susto com a figura orelhuda que me encarou no espelho.
Estão vendo! Novos tempos! Mais uma preocupação estética. Agora não é só mais o medo de doenças, da falta de ar, e da morte. Meu medo ampliou-se! E, se as minhas orelhas crescerem? Dizem que com a idade elas naturalmente crescem junto com o nariz. E, por falar em nariz está ficando amassado... Ah! O de vocês também... Então compreendem minha neurose. O resto eu não vejo crescer, mas o nariz e as orelhas estão me afligindo...
Vou contar uma coisa que lembrei agora. Minha avó Angelina, mãe de meu pai, tinha orelhas de Dumbo. Quando eu era criança, ainda não existia o Topo Gigio. Toda vez que eu ia na casa dela, olhava logo para as orelhas. Sorte que ela era senil e nem reparava na minha indiscrição, mas confesso que ficou marcado isto, e já faz mais de cinquenta anos...
Estou deprimido com a descoberta de minhas orelhas se abrindo. Elas eram tão harmônicas! A quem processo? Se eu tivesse nascido nos Estados Unidos processaria a China onde a pandemia começou, mas circulando de tangas por terras tupiniquins tenho que me conformar com o novo adereço.
Agora entendo porque tem tanta gente bebendo vinho. Penso que é para não ver o que está acontecendo.
Um minutinho! Voltarei logo! Agora preciso abrir mais uma garrafa de vinho! Depois de duas taças, nem vou lembrar mais que tenho orelhas... quanto mais que elas estão crescendo...

Mário R. Feijó
29.07.2020



sábado, 18 de julho de 2020

DESABAFO DA MULHER ESQUECIDA (mini-conto)




DESABAFO DA MULHER ESQUECIDA (mini-conto)

A morte esqueceu-se de mim, ou será que foi a vida que insistiu em viver, mesmo depois da morte?
O tempo passou como se não quisesse existir, sem mágoas, só para ver o sol brilhar e, o dia todo, em noite se transformou.
Eu mesmo sou testemunha de que ela era mulher só por preguiça de ser humana, então se deixava usar como se fora uma máquina de penetração. Os sentimentos foram-se todos embora, naquele velho caminhão que passara por sua rua comprando coisas sem serventia. Vendeu-se para a reciclagem.
E, ao se esquecer de viver, ela comentava com as nuvens do céu, seu destino em ser outra. E, quando outra se tornou ela se lembrou de quem queria ser...

Mário Feijó
18.07.2020

DOR QUE A GENTE NUNCA ESQUECE



DOR QUE A GENTE NUNCA ESQUECE
Nós podemos esquecer até de felicidade
Porém dor a gente não o esquece
Dor de doença é fácil
Curou... partimos pra vida
Mas ferida na alma
É dor plantada
Feito cravos na cruz
Ela pode ser invisível,
Mas fica a cicatriz
Não dá pra esquecer:
Dor da rejeição;
Dor da injustiça
Dor do desamor...
Deboche, humilhação
Ferem a alma
Forjam o caráter
E a dor fica lá, eterna...
Mário Feijó
17.07.20

sábado, 11 de julho de 2020

ANGEL


ANGEL

Para onde você foi?
Em qual estrela
Você se escondeu?

Achei que era pequeno demais
Somente um pequeno filhote
Daqueles que nem sabem voar
Mas você já tinha asas e voou

E agora, todas as vezes
Que eu olho para o céu
Fico procurando
A estrela que te acolheu

Foi tão pouco tempo
Que ficaste por aqui
Fizesse do céu a tua morada
E voas em meus pensamentos

Mário Feijó
11.07.20