sexta-feira, 23 de outubro de 2020

 


CHINELOS TROCADOS

 

Todos os dias ao sair da cama ela colocava seus pés alvíssimos no piso gelado da casa. Para que não apanhasse “friagem” nos pés, como diziam os antigos, deixávamos ao seu alcance uma sandália de borracha para que calçasse.

Cabelos desgrenhados, parecendo fios de lã que haviam sido desenrolados por um gato, ela não se preocupava em arrumá-los, vez ou outra, mal os tirava da frente dos olhos. Não dava para achar o fio da meada, caso alguém resolvesse procura-lo.

Os olhos dela eram de um azul celestial, beirando a transparência. Se um dia teve dentes, não havia mais sinal deles em sua boca.

Na cozinha todas as seis crianças se sentaram ao redor da mesa. O cheiro de café tomara conta daquela pequena mesa de café.

De repente, aparece na cozinha, ninguém menos que ela – vó Angelina – atônita! Talvez tenha acordado com a algazarra de todas aquelas crianças famintas que se preparavam para ir à escola.

Fez-se silêncio!

Todos tinham medo dela. Não que fizesse mal a qualquer um, mas era sabido que a avó paterna, em seus setenta e sete anos, estava senil. Mesmo que não contassem bastava olhar para aquele vestido azul clarinho com flores também azuis, de um fino tecido de algodão. Por cima, ela sempre usava um cardigã cinza de lã, podia ser verão ou inverno. Nos pés ela trazia as tais sandálias, sempre com os pés trocados.

O pai das crianças fazia um café que, geralmente, era servido com leite fresco, colhido por um dos filhos na frente do portão, que o leiteiro lá deixara. Os pães também eram torradinhos e frescos que o pai comprara antes de acordar as crianças, na padaria do Sr. Marcelino.

O filho mais velho ajudava a arrumar os menores e depois tinha que entrar no quarto dos pais (a mãe ainda dormia) para pegar um penico cheio de urina e merda para despejar na “patente” que ficava no fundo do quintal. Algumas vezes o penico transbordava em suas mãos parte dos detritos fedorentos. Era uma rotina tão marcante que o menino mesmo quando já tinha quase setenta anos, lembrava daquele cheiro fétido e desagradável.

Tudo retornava à sua mente quando o dia amanhecia e sem perceber, ao se levantar, ele calçava as sandálias que estavam ao lado da cama e sentia algo diferente: os chinelos estavam trocados sob seus pés...

 

Mário Feijó

22.10.20

 

sábado, 17 de outubro de 2020

PANTANAL E AMAZÔNIA...

 


AH! SE NÃO FOSSEM...

 

Ah!  Se todas as dores do mundo

Não me caíssem nas costas

Eu teria mais tempo para olhar o mar

Mais tempo para cheirar as flores

E mais tempo para te amar

Porque o mundo está muito machucado

Por uma pandemia que já dizimou a muitos

E aniquilou tantos outros

 

Os meus olhos estão nublados

Por prantear o mundo

Pela fumaça que queima o “Pantanal”

E destrói grande parte da Amazônia

 

Ah! Se não fossem as dores do mundo

Dos animais que agonizam e morrem

Das pessoas que passam fome

Ai sim eu diria: como é bom

Viver no Planeta Terra!

 

Mário Feijó

17.10.20




sexta-feira, 16 de outubro de 2020

NÃO VOU MAIS CHORAR

 



NÃO VOU MAIS CHORAR

 

E se amanhã eu chorar

Quero que seja de alegria

Porque já chorei muito atualmente

E viver aos prantos é uma agonia

 

Não quero mais pensar em doenças

Nem tampouco em pandemia

Quero poder sentir o sol

E absorver dele a luz que irradia

 

Quero soprar ao vento palavras de amor

Sentir saudade dos muitos que se foram

Lembrar-me de Sônia e de Luzia

 

Mulheres que às vezes me davam nos nervos

Mas normalmente para elas eu sorria

Quero ter novamente

A vida que tive um dia...

 

Mário Feijó

16.10.20

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A MINHALMA CHORA LUZIA... E A CULPADA É VOCÊ

 



LUZIA - A MINHALMA CHORA... E A CULPADA É VOCÊ

 

A minh'alma chora neste momento porque não verei mais teu sorriso lindo e encantador. Não verei mais teu corpo e cara bonitos que encantavam a todos nós.

 

A minh'alma chora porque eu aprendi a amar, mas não me ensinaram a esquecer, e você será eternamente inesquecível. Eu era somente teu amigo, mas poderia ser teu irmão, conforme dizias.

 

A minh'alma chora e vai chorar por muito tempo pelas saudades que eu já sentia por não te ver lá no hospital, queria ir lá e te dar uns tapas, por nos abandonar de forma tão abrupta, nós não merecíamos isto. Agora as lâmpadas da casa da Graça não queimarão mais porque você não está lá para queimá-las (isto é uma piadinha nossa, mas você entende).

 

A minh'alma vai chorar toda vez que uma brisa suave bater em meu rosto, porque eu vou lembrar-me de você embaralhando cartas e eu dizendo que o vento me deixaria gripado.

 

A minh'alma vai chorar quando eu olhar para o céu e pensar que no meio de tantas estrelas você é mais uma que estará lá brilhando e piscando pra mim, como sempre fazia de forma delicada, amável e brejeira.

 

A minh'alma continuará chorando enquanto minha sanidade existir, mas ela nem existirá por tanto tempo assim, afinal não somos eternos... Espere não existiremos muito tempo por aqui, afinal a vida é curta, rápida e passageira, qualquer hora a gente se encontra em algum lugar deste enorme universo. Aí sim, vamos soltar o riso quando você disser: BATI...

 

Beijos querida amiga, irmã. Descanse em paz e que Deus te abençoe... estamos aqui rezando por você.

 

Mário Feijó

13.10.20


INGRATIDÃO E MUDANÇAS

 

INGRATIDÃO E MUDANÇAS


 


Nossos dias são incertos

A vida é assim!

Ela não dá garantias do amanhã

O que importa é o presente

 

O presente é um presente em nossas mãos

Se for para ter medo não podemos segurar

Tudo nos escapará feito água corrente

Que não conseguimos reter

 

Ela vai embora

Por caminhos muitas vezes tortos

Nos rios que rasgam

Pela vida afora

 

Há sempre dor:

Por um amor perdido

Por ingratidões

Por mentiras que dizem a nosso respeito!

 

Mário Feijó

13.10.20

DÓI MUDAR

 

DÓI MUDAR

 



Há sempre muitas dores

Em qualquer partida

Eu diria que a dor

É inerente a qualquer mudança

 

Um bebê que nasce

Causa primeiro dores na mãe

Para depois gerar

Uma enorme felicidade

 

Queremos sempre o comodismo

Temos medo do que pode vir

E por isto deixamos

A felicidade ir embora

 

A vida não é para quem tem medo

Ela é feita para quem tem coragem

Primeiro para admitir nossos erros

E depois para mergulhar sem saber onde cair...

 

Mário Feijó

13.10.12