segunda-feira, 30 de setembro de 2013

“PLACER: MARTA!"






“PLACER: MARTA!”

Ela já nem lembrava mais se algum dia um homem habitara aquele corpo. E se não olhasse no espelho jamais saberia deste fato.
Talvez estivesse na casa dos oitenta anos, mas o que menos importava naquele momento era a idade. Ela sabia que era mulher e não se importava com o que os outros viam.
A primeira vez que vi Marta foi numa praça, junto a uma feirinha, dessas que vendem de tudo, na “cidade velha”, no centro de Montevidéu, coincidência ou não, a Praça da Independência, onde o General Artigas – herói da independência do Uruguay reinava imponente em seu cavalo, numa estátua com mais de dez metros de altura – ele deveria estar se revirando no túmulo, ali junto à estátua. Seus tempos eram outros, nos dias de hoje tudo é possível na praça, entre a grama e as ervas que por ali eram fumadas.
Num banco próximo onde “Marta” descansava as pernas doloridas sentou-se uma freira com casaco de pele de “oncinha”, bem curtinho, somente de meias arrastão, visto que a saia, ela talvez tenha “esquecido” de colocar.
Na grama, com quase dois metros de altura e, provavelmente beirando os cem quilos, uma Madre Superiora descansava, fazendo pose para as fotos dos que por ali passavam, enquanto descansava as pernas daqueles saltos altíssimos... é conveniente salientar que a Madre também não usava saia, penso ser moda na sua congregação...
Tudo era festa e Marta sentia-se a “rainha da parada”, mas a congregação religiosa arrebanhava muitos súditos. Os trajes, para Marta não importavam, ela vestiu-se com um lindo laço azul no pescoço, de um tecido que devia ter um metro de largura por três de comprimento, portanto algo “discretíssimo” frente às demais colegas. A boca não tinha mais dentes, mesmo assim ela a contornou com um batom “vermelhinho”. No olhar (que não parava de piscar, parecia uma sinaleira com defeito) apenas uma sombra levemente azulada e um traço de contorno que apontavam aos céus, numa leve insinuação à imagem de “Amy Winehouse”. Mesmo sem os dentes era perceptível que ela mascava discretamente alguma coisa, talvez um chiclete ou era apenas um charme a mais para chamar a atenção dos “chicos” que ela encarava acintosamente, como se fora uma adolescente irresistível.
Não foram somente estas figuras que eu vi em Montevidéu e nada do que eu possa dizer tem o caráter de diminuir o povo e as belezas da cidade.
Quando eu me preparava para deixar a cidade fui visitar a linda rodoviária de Montevidéu – nunca vi rodoviária tão bonita, limpa e organizada – junto da rodoviária há um dos shoppings mais bonitos “Tres Cruces” que jamais vi um tão belo junto a uma rodoviária. Sentei para tomar um café e do outro lado percebi uma “senhorinha” que conversava, conversava... Custei para identificar que era com um amigo invisível, mas esta conversa merecerá uma outra crônica. Não quero agora estragar o: “Placer: Marta”...

Mário Feijó
30.09.13

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

MONTEVIDÉU



MONTEVIDÉU

Pássaros verdes voam
Nos ares de Montevidéu
Ruas limpas, praças organizadas
“Artigas” não nos deixa sentar
Nem na beira do seu túmulo
Há sempre ali, cães que latem
Mas não mordem
Se eu quiser deitar contigo

Nas ruas e avenidas
As pessoas caminham
Por entre prédios antigos
Gramas aparadas, praias varridas

As caturritas gritam nos pastos
No mar barquinhos descansam
Em frente ao museu Naval

Estou de partida
Penso na chegada
Splendido!!!

Mário Feijó
27.09.13

MONTEVIDEO

Pájaros verdes vuelan
En el aire de Montevideo
Calles limpias, las plazas dispuestas
"Gal. Artigas" no dejaron nos sentarse
En el borde de su tumba
Siempre hay allí, "perros" ladrando
Pero no muerden
Si quiero dormir contigo

Las calles y avenidas
La gente camina
Entre los edificios antiguos
Gramos recortadas, playas azotadas

Los loros gritan en los pastos
Las  embarcaciones marítimas resto
En frente del Museo Naval

Me voy
Creo que a la llegada
Splendido!**

Mario Feijó
(Brasil)

27/09/13

* Gal. José Artigas -  Durante a guerra hispano-portuguesa, combateu os ingleses no Prata, aliados dos portugueses. Nessa época iniciou-se o movimento de libertação das colônias espanholas e Artigas juntou-se aos insurretos, sendo nomeado tenente-coronel pela junta de Buenos Aires. Derrotou os espanhóis na batalha de San José, em 1811, obrigando o chefe da guarnição espanhola a retirar-se com suas tropas para Montevidéu.

** Hotel Splendido



quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SONHOS VAZIOS



SONHOS VAZIOS

De repente eu me vi
Vazio de todos os girassóis
Que havia no jardim

A casa que era nossa
Virou um lugar lúgubre
Algumas vezes assustador
Com fantasmas em todos os cantos

Os meus sonhos
Ficaram esvaziados de esperança
Não havia mais
O eco do teu riso no meu caminho

A grama cresceu
Eu me vesti de palhaço
Tentando enganar a melancolia
Posso até enganar aos outros não a mim

Mário Feijó
25.09.13  

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

IMÃ



ÍMÃ

Há dias assim: chuvosos
Onde atrás das nuvens
Sabemos que existe
O sol luminoso

Por trás de você (ser proibido)
Há um amor sequioso
Carnes que me chamam
Bocas que se calam

Por trás daquela nuvem
Feito ímã irresistível
Você me chama
Ardente como um sol

Na dúvida fico na chuva
Esfriando meu corpo que te clama
Subir aos céus significa o calor

Mário Feijó
23.09.13

domingo, 22 de setembro de 2013

OVELHA NEGRA



OVELHA NEGRA

        O marido não lhe dava o menor valor. Saia com todas que podia e fugia até do convencional por uma noitada de amor. Ela, uma bela e jovem mulher, sentia-se a última de todas. Misturava-se aos animais, estes a entendiam, e as ovelhas negras, pareciam da família.
Um dia aparece em sua casa, trazido por uma amiga, um homem diferente daqueles aos quais estava acostumada. Era gentil, delicado, atencioso e a tratava de igual pra igual. Bateu os olhos na figura e se apaixonou. Não queria uma aventura, mas o homem lhe dizia tente... Mesmo que não dê certo você saberá se é ou não amada. Não estava lhe dizendo para ter uma aventura com ele, mas para fazer isto diante da vida e não se deixar morrer por dentro (como ela dizia que estava).
Ela aos poucos pensou nisto e queria viver um grande amor com este homem tão encantador, aos seus olhos. E foi o que fez.
Valia cada minuto que passavam juntos. Era uma paixão arrebatadora e já queria casar com ele, mesmo sem ter resolvido definitivamente a questão com o marido, que agora vivia pelos cantos a chorar e jurando amor eterno.
Estava vivendo um novo amor, intenso, verdadeiro, correspondido. O homem que agora amava era afetuoso e lhe correspondia a paixão. No entanto vinha de relacionamentos frustrados e se negava a ter um compromisso imediatamente, o que a assustava. Por outro lado, a família, o ex-marido e os amigos faziam pressão.
Ela não resistiu as inúmeras chantagens sofridas e resolveu voltar para o marido que prometia esquecer sua “aventura”, como ele dizia, dizendo que a perdoaria e que tudo seria diferente. Ela estava relutante, mas tendo em vista que até os filhos foram usados como barganha resolveu voltar. Sublimou o amor que a havia encantado.
Deixou de viver uma história que a fazia feliz. Mas o que importava se agora os outros eram felizes e ela podia mostrar as fotos do quanto estava “feliz”.
Sua alma se calava feito um rio que é represado e que vai inchando a floresta. Tentaria não deixar que ele transbordasse ou que rompesse a represa. Enquanto isto continuaria a sorrir feito a ovelha negra que sai a balir depois de parir as crias...

Mário Feijó (21.09.13)