quarta-feira, 29 de junho de 2016

VENTO: ESTE MENINO TRAVESSO

VENTO: ESTE MENINO TRAVESSO

Todas as manhãs ela ia para a escola com sua saia pregueada (diziam ser plissada, não entendo muito de costuras). Era azul marinho, a blusa branca e no bolso o nome da escola.
Adorava jogar a cintura de um lado para o outro, começava a se descobrir mulher.
Depois de formada passou a usar sempre saias “plissadas” com tecidos finos e leves. Era quase que sua marca registrada.
Certa tarde resolvera que iria dar umas voltas pela cidade, andaria pela praça, e sem nada para fazer especificamente, iria cumprimentar pessoas e sorrir. A vida é bela e agradável.
Aquele dia estava quente. O calor estava infernal. Entrou no banho e em seguida começou a se arrumar. Tinha que ser rápida, afinal pedira ao taxista que lhe buscasse às 15 horas. Faltavam dez minutos para ele chegar.
Estava quase pronta quando o interfone começou a tocar insistentemente. Terminou rapidamente, mas parecia que faltava algo.
Deixa pra lá, pensou. Pegou a bolsa. Jogou um pouco de perfume no pescoço e nos pulsos e saiu rapidinho. Sentia-se fresquíssima.
Lá embaixo, Gilmar, o taxista disse:
- Desculpe D. Marília, mas não tinha lugar para parar e eu estou em local proibido.
- Sem problemas Gilmar, disse ela lânguida, ao taxista, ao qual era freguesa habitual.
Marília era uma linda morena, no auge de seus trinta anos. Os homens nunca deixavam de se virar quando ela passava. Afinal de contas uma bunda daquelas não era para qualquer mulher.
Gilmar pensou “esta mulher deve ter ancestrais negros, porque uma bunda destas, somente as negras têm”. Hoje ela vai ter muito trabalho na cidade, com sua saia rodada. Riu para si mesmo e tocou para o centro.
Dito e feito. Saiu ela do táxi e o vento levantou-lhe a saia que se enrolou na cabeça, sem que ela desse conta de baixa-la. Marília lembrou agora do que tinha esquecido. Não colocara a calcinha. Lembraria para sempre que o vento é um menino travesso.
Nem Gilmar, nem os demais transeuntes se esqueceriam da visão daquela tarde.
Marília voltou para o táxi e pediu ao motorista:
- Por favor, leve-me para casa.

Mário Feijó
29.06.16


Texto desenvolvido na Oficina Literária, com minhas alunas, na tarde de 28.06.16, na Biblioteca Pública de Osório-RS. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

TAL MÃE, TAL FILHA ( o fim )

TAL MÃE, TAL FILHA ( o fim )

 Daniela ficara viúva com trinta anos. Os primeiros anos de viuvez foram terríveis, mas com o passar dos anos tornara-se amiga da filha que insistia para que ela saísse de casa e aproveitasse a vida.
Tornaram-se inseparáveis. Pareciam irmãs. Faziam academia juntas e Daniela voltara para a faculdade.
A filha, Débora, apaixonara-se pelo professor de ginástica, e depois de um namoro relâmpago casara-se com ele. No entanto dois meses depois de casados o marido morrera em um acidente de moto.
Tal mãe, tal filha... Estavam as duas viúvas. Agora era a mãe quem consolava a filha e a incentivava a sair, passear.
Um dia na praia, no verão passado, ambas olharam para aquele homem moreno, 1,90m de altura, sorriso alvíssimo, extremamente simpático chegou e puxou conversa com elas. Ficaram conversando o resto da tarde. Não queriam mais se despedir. Ele as convidou para jantar, num lugarzinho ali perto que tinha música ao vivo e pista de dança. Local romântico. Aceitaram...
Em casa conversaram. Ambas estavam atraídas por ele. Mãe e filha confessaram-se apaixonadas à primeira vista. Decidiram que ele escolheria uma, se fosse o caso e a outra aceitaria.
O jantar estava ótimo. Dançaram ambas se revezando. Ele parecia indeciso e confuso e não decidia a sua preferência. Trocava carícias com uma e com outra quando as tirava pra dançar. Ambas não se sentiram rivais...
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E agora? Você que está lendo decida o fim desta história. Na próxima semana eu publicarei a minha versão ou a versão de quem mais me agradar, com direito a crédito na parceria.

Mário Feijó
15.06.16

TAL MÃE, TAL FILHA... (o final)

Foram muitas as respostas e soluções para o drama vivido por mãe e filha, diante de uma paixão. No entanto a solução tinha que vir de dentro de cada uma delas. Sendo assim, mãe e filha, sempre confidentes, amigas e experientes, pois a vida as fizera experientes resolveram de comum acordo por fim aquele romance.
Chamaram o rapaz para um jantar e colocaram as cartas na mesa. Contaram suas histórias de vida. Foram sinceras em tudo, até na atração que ambas sentiam por Davi. Ele diante da sinceridade delas também se abriu.
Eu também me senti atraído por ambas e sei que é confuso. Ambas são jovens e eu poderia ter um romance com qualquer uma das duas sem problemas. Só que gostaria que antes de por um fim em toda a nossa história eu queria propor que nos conhecêssemos melhor e queria contar uma coisa que ainda não tinha falado pra vocês. Tenho um irmão gêmeo que mora em São Paulo e estava lá fazendo doutorado com a esposa, mas faz seis meses que se separaram e ele decidiu voltar, pois terminou o doutorado. Fez concurso para a URGS e vai trabalhar em Tramandaí. Não estamos muito enturmados por estes lados, então peço que sejamos amigos. Que me ajudem a socializar meu irmão e eu aqui no Litoral.
As mulheres, que já tinham decidido por fim ao romance, decidiram aceitar a amizade com o rapaz e conhecer o irmão (o tal gêmeo).
Não é que os dois eram mesmo iguais!!
- Meu Deus! Disseram uma à outra. Vai começar tudo de novo. Miguel era tão encantador quanto Davi e logo se sentiu mais atraído por Daniela. Ele era mais maduro que Davi e não tinha dúvidas de que era Daniela a sua preferida. No início ficaram amigos. As mulheres estavam preocupadas que a situação voltasse a ser como fora no inicio, porém logo foram se conhecendo e Davi acabou tendo certeza de que Débora era sua musa. Miguel deixou claro que não estava a fim de casar novamente, e assim, logo. Daniela também não queria um casamento imediato, queria sim, um amigo, um companheiro e se este companheiro lhe desse amor, isto lhe bastava.
Os romances evoluíram e logo depois do primeiro ano Davi e Débora haviam decidido que casariam no ano seguinte.
Miguel alugou um casa em Osório e convidou Daniela para morar com ele. Pelo que todos observam há harmonia entre eles. Todos parecem estar felizes, cada qual com suas convicções.
Débora percebe agora que não tinha nada a ver com Davi que é mais imaturo que o irmão. Por isto se dá tão bem com a filha, prestes a completar 21 anos. Gostam das mesmas coisas, viajam sempre, vão a shows de roque. Planejam ir ao próximo Rock in Rio, e estão sempre em festas e badalações. Já Miguel é como ela: gosta de ficar em casa, ouvir uma boa música, leituras, vão a saraus, cuidam do jardim, são românticos e sonhadores... descobriram-se almas gêmeas, mas têm os pés no chão e tentam não cometer erros. O passado ensina muito, dizem sempre.
Apesar de tudo, o amor venceu.

Mário Feijó

28.06.16

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O COMEDOR DE VENTOS

O COMEDOR DE VENTOS

Há muito tempo venho passando pelas ruas de Osório. Osório é uma pequena e encantadora cidade no litoral norte do Rio Grande do Sul.
Há uns quarenta anos, quando por aqui passava eu percebia que os ventos na cidade eram assustadores, irritantes e “quase” amaldiçoados por alguns. Já ouvi dizer que quem gosta de vento é louco.
Hoje os ventos de Osório são benditos e a causa de sua crescente prosperidade. Osório passou a ser “a Terra dos Bons Ventos”. Basta olhar para o horizonte e ver uma quantidade infinda de torres eólicas. Na cidade parece que os ventos sumiram...
Voltei a ser criança...
Aquelas torres monstruosas me assustam. Dizem que elas transformam vento em energia... Não sei não...
Tivemos uma “presidenta” que queria engarrafar o vento. Como será que se faz isto? Será que não há perigo de o vento não se aquietar e levar a garrafa junto?
Não entendo isto, sou criança... tenho medo daqueles cata-ventos monstruosos. Para mim eles são comedores de vento. Pelo que eu vejo eles comeram os ventos da cidade, mas os ventos que ainda sobram não são mais mal vistos.
Em outros tempos eu fazia cataventos de papel e os soprava pelo mundo. Era outro tempo, uma outra infância. Um tempo onde o meu país era o “país das maravilhas”. Tínhamos sonhos e esperança. Eu vivia encantado. Hoje tento, mas não consigo mais me desencantar. Tudo está desencantado. Deixa pra lá... voltemos à Osório.
Passeio pelas ruas tranquilas. Encontro gente educada, mesmo num país em desenvolvimento, Osório cheira a primeiro mundo. Há esperança em Osório. A cultura é primordial, apesar de alguns políticos não lhe darem o devido respeito, mas o povo de Osório é um abnegado e continua fazendo saraus e cafés poéticos (tipo os promovidos pelo Espaço Cultural Conceição). Existe na cidade uma Academia de Letras que perambula de um lado para o outro sem uma sala para se reunir porque não tem sede, mas a Biblioteca frequentemente lhe abre as portas (por falar em Biblioteca Pública: que espaço maravilhoso e as meninas que lá trabalham são incansáveis em promover eventos). Vale à pena visitá-la. Há um encanto especial nela.
A feira do livro sobrevive. A faculdade cresce a olhos vistos porque não é pública. O Teatro prospera, com alguns abnegados à sua frente.
Enquanto isto os ventos sopram escorrendo da Serra do Mar que termina ali na cidade, descendo pelo morro da Borrússia – lugar aprazível e que deve ser visitado. Lá em cima Jesus, se tivesse ficado por 40 dias e 40 noites teria sido mais feliz meditando. Com certeza o Diabo não o tentaria.
É, eu não sou mais criança. Não tenho medo dos ventos. Nem quando gemem na minha janela. Apenas escuto seus recados, apenas lembro de suas viagens pelo mundo e vindo se espalhar pelas lagoas da região contando histórias, criando lendas, sendo devorados pelos Cataventos da minha infância, crescidos agora nas terras de Osório.

Mário Feijó

27.06.16 

sábado, 25 de junho de 2016

A BATALHA DO(EU)

A BATALHA DO(EU)

Tenho travado
Uma batalha invencível
Com meu eu

Não é uma batalha do ego
Mas uma batalha contra o tempo
Que se alojou dentro de mim
Contra a idade
Contra os males
Que a vida acumulou em meu corpo

É como se eu fosse pedra junto ao mar
Que com o tempo acumula cracas,
Algas, crustáceos, mariscos

É uma batalha inumana, invisível
Incompreensível aos outros
Que não moram em meu corpo

São dores que mutilam a minh’alma
Que não entende a degeneração do corpo
Afetadas pelo tempo
Pela luz do sol
Que ao mesmo tempo é luz e destruição

Mário Feijó

25.06.16

sábado, 18 de junho de 2016

VONTADES SÃO DESEJOS QUE TEMOS QUE ATENDER



VONTADES SÃO DESEJOS

Há vontades que dão e passam
Outras ficam na imaginação
Algumas são contraditórias
Outras até bem explícitas...

Minha vontade agora
Era correr para teus braços
Andar de mãos dadas
Nos campos ou à beira-mar
Beijar os teus lábios
E no teu colo, enfim relaxar

Eu já te dei o meu amor
O meu céu e o meu lar
Traga contigo a vontade
De sempre comigo estar

Vontades são desejos
A serem cumpridos
Deixe que ela aconteça
E acenda luzes em sua vida...

Mário Feijó

18.06.16

sexta-feira, 17 de junho de 2016

OUTONO INVERNAL

OUTONO INVERNAL

                Fazia frio, porém ainda era outono.
Deitado na minha cama o frio intenso fazia com que eu tremesse. Do outro lado da rua a menina beijava o namorado, eu assistia através do vidro embaciado, lembrando meu amor ausente.
Dentro do quintal do vizinho o cão uivava. Estava inquieto. Minha avó dizia que quando uiva está agourando morte.
Levantei e fui até a cozinha tomar uma caneca de chá quente.
Tentei escrever. Minha letra estava tremida por causa do frio. Entrava uma friagem por todas as frestas que havia na casa. Os aquecedores não davam conta de esquentar o ambiente. Eu continuava tiritando de frio. Estava me sentindo uma peteca pulando de um lado para o outro.
Estava com fome, mas uma salada é muito pouco. Comi umas bolachas que eu mesmo fiz e fui para o quarto.
Isto não é vida, pensei. Detesto o inverno, ele é meu carraso. Cada vez que o verão termina quero me atirar o penhasco.
Dramático, eu?
Não. Tenho muitas dores no corpo, toda vez que é inverno.


Mário Feijó
16.06.16


Atividade passada aos alunos da Oficina Literária, na tarde deste dia. Usar as palavras: uivo, namorado, salada, caneca, peteca, carrasco, penhasco, vida e morte, numa composição, em qualquer ordem. Se eles fazem eu também me coloco a fazer. 

quarta-feira, 15 de junho de 2016

TAL MÃE, TAL FILHA

TAL MÃE, TAL FILHA

 Daniela ficara viúva com trinta anos. Os primeiros anos de viuvez foram terríveis, mas com o passar dos anos tornara-se amiga da filha que insistia para que ela saísse de casa e aproveitasse a vida.
Tornaram-se inseparáveis. Pareciam irmãs. Faziam academia juntas e Daniela voltara para a faculdade.
A filha, Débora, apaixonara-se pelo professor de ginástica, e depois de um namoro relâmpago casara-se com ele. No entanto dois meses depois de casados o marido morrera em um acidente de moto.
Tal mãe, tal filha... estavam as duas viúvas. Agora era a mãe quem consolava a filha e a incentivava a sair, passear.
Um dia na praia, no verão passado, ambas olharam para aquele homem moreno, 1,90m de altura, sorriso alvíssimo, extremamente simpático chegou e puxou conversa com elas. Ficaram conversando o resto da tarde. Não queriam mais se despedir. Ele as convidou para jantar, num lugarzinho ali perto que tinha música ao vivo e pista de dança. Local romântico. Aceitaram...
Em casa conversaram. Ambas estavam atraídas por ele. Mãe e filha confessaram-se apaixonadas à primeira vista. Decidiram que ele escolheria uma, se fosse o caso e a outra aceitaria.
O jantar estava ótimo. Dançaram ambas se revezando. Ele parecia indeciso e confuso e não decidia a sua preferência. Trocava carícias com uma e com outra quando as tirava pra dançar. Ambas não se sentiram rivais...
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E agora? Você que está lendo decida o fim desta história. Na próxima semana eu publicarei a minha versão ou a versão de quem mais me agradar, com direito a crédito na parceria.

Mário Feijó

15.06.16

terça-feira, 14 de junho de 2016

COISAS QUE EU GOSTO

COISAS QUE EU GOSTO

Eu gosto de dias de sol
De tardes de chuva
E de noites enluaradas

Gosto de caminhar 
Com os pés dentro d’água
Quando estou na beira do mar

Gosto de olhar 
Campos verdejantes
Árvores viçosas 
E jardins floridos

Gosto de ouvir
Risos de alegria
E ver o sorriso
No rosto da pessoa amada...

Mário Feijó 
14.06.16


domingo, 12 de junho de 2016

AGORA JÁ POSSO DIZER QUE TE AMO

AGORA JÁ POSSO DIZER QUE TE AMO

Alguns amores
Gritamos aos quatro ventos
Desde a nossa adolescência
Outros só a experiência
Junto com o tempo para nos dar
Força e coragem para enfrentar
O mundo e o julgamento social

Somos hipócritas e preconceituosos
Muitas vezes acomodados
Mas é chegada a hora
Em que descobrimos ter pouco tempo
Já vivemos mais do que o tempo a viver
E chega a hora de escolher
O que é melhor para nós
E não para os outros

Então eu sinto que já posso dizer
A você e ao mundo:
Venha para os meus braços
Porque eu te amo!

Mário Feijó

12.06.16  

sábado, 11 de junho de 2016

DORES QUE TODO MUNDO TEM

DORES QUE TODO MUNDO TEM

Eu tenho n'alma
Dores invisíveis
Cicatrizes de leito de rio
Dessas que as correntes d’água
Fazem no fundo dele e da gente

Dores de saudades
Não acontecidas
Dores de amores distantes
Algumas vezes tão perto (os amores)
Noutras vezes tão longe

Mário Feijó

11.06.16

quarta-feira, 8 de junho de 2016

NUMA TARDE DE OUTONO TRANSBORDEI MEUS SONHOS

NUMA TARDE DE OUTONO TRANSBORDEI MEUS SONHOS

         Era uma bela tarde ensolarada. Estávamos no final de outono e o inverno se aproximava célere. A noite não fora somente gelada, fora enregelante. No entanto o dia amanhecera com o sol tomando conta de todo o céu límpido e azul.
Eu havia escutado o vento a gemer suas dores reumáticas a noite inteira. As minhas guardei embaixo das cobertas, num quarto superaquecido.
Naquela tarde eu decidira sonhar. Eu não daqueles que dá guarida à velhice, nem mando o menino que em mim habita ir embora.
Convidei minhas amigas (que se dizem alunas, mas eu também aprendo com elas) para passarmos a tarde transbordando sonhos. Levei uma cesta de vime para piqueniques (era a ideia inicial) torradas, pão caseiro (feito com granola e açúcar mascavo), café, chá e poesia.
O cheirinho do pão assando me levou à Felicidade (era o nome de minha avó). O café tinha o aroma de sonhos com doce de leite e eu voltei aos meus tempos de criança. Sonhei!
Minhas parceiras criaram asas e borboletearam feito pandorgas ao vento a escrever seus sonhos. Que bom, pensei: não sou o único com fome de sonhos. Peguei uma folha em branco, coloquei fermento na minha imaginação e me pus a sovar a massa. Agora é só deixar meus sonhos transbordarem. Enquanto isto, fomos aos quitutes...


Mário Feijó
08.06.16


Tema desenvolvido em nossa Oficina Literária de hoje.           

terça-feira, 7 de junho de 2016

EU TENHO UM ANJO

EU TENHO UM ANJO

Eu tenho um anjo
Que me ensinou a voar
Faço isto em seus braços
Vou aos céus
Quando beija a minha boca

Eu tenho um anjo
Que todos os dias
Diz “eu te amo”
Com tamanha energia
Que minhas asas crescem

Eu tenho um anjo
Que além de desejar meu corpo
Deseja a minh’alma
Deseja meus abraços
E me deu esperanças

Eu tenho um anjo
Que tem cara de gente
Corpo de gente
Olhos de criança
E um amor divinal

Mário Feijó

07.06.16

segunda-feira, 6 de junho de 2016

OS SOLITÁRIOS E O INVERNO

OS SOLITÁRIOS E O INVERNO

Infelizmente eu não gosto do inverno
O inverno faz-me lembrar
Que já não sou mais menino
Tenho dores que atingem a alma
Faz-me lembrar das noites de solidão
Onde não tenho quem aqueça meu corpo
Nem tampouco tenho mais uma lareira
Que fazia eu esquecer o frio

Apesar de tudo gosto de pinha
(que só temos no inverno)
Gosto de chocolate quente
(que é bom só no inverno)
Gosto de um bom vinho tinto
À beira da lareira
(mas não tenho mais lareira)
Gosto que me aqueçam no inverno
(mas você não está aqui para me aquecer)

Então eu fecho minha janela
E por entre os vidros fico espiando
As pessoas que passam encolhidas
Pensando quem delas terá um corpo quente
Que as aquecerá nas noites de inverno?

Mário Feijó
06.06.16





sábado, 4 de junho de 2016

UM AMOR SÓ MEU


UM AMOR SÓ MEU

Eu já tive um amor assim
Era tão somente meu
Que só eu amava
Só eu beijava
Só eu fazia carinhos
E comigo gozava
As delícias do amor


Mário Feijó

04.06.06

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O AMOR É PURO

O AMOR É PURO

quando menino
ele arranhava o corpo
em paredes ásperas
fugindo da solidão

tinha um sofrimento infindo
por querer amar
criança não ama
ele não era amado

no máximo criança engana
não sabe escolher o amor
e fica pior quando a criança
acredita nisto

tornou-se homem
e perdeu o medo de amar
descobriu que seu amor nunca foi sujo
como um dia lhe fizeram acreditar

Mário Feijó
02.06.16


BONECAS SÃO POESIAS

BONECAS SÃO POESIAS

Maria Clara era poesia pura. Trajes de princesa, toda em tons de bege. Seus olhos eram grandes, feito os olhos de sua boneca (Elza), pele alva, olhos grandes e expressivos, cabelos loiros que caiam sobre os ombros, ela era pura poesia, porém não acredita nela. Quem a vestira acreditava em poesia, mas Maria Clara não. Era mais uma menina mimada que ao bater os pés conseguia tudo o que queria. Bastava olhar a submissão do pai, que foi logo dizendo “eu poderia ser o avô”. No colo ela trazia Elza, a boneca poesia. Certamente a ganhara da mãe, trazida do exterior.
Elza era loira, feito sua dona. Elza era tão loira quanto Maria Clara. Mas havia uma ruptura entre as duas. Elza era mais um adorno para aquela princesa. Elza não era um nome poético naquele contexto, era um nome antigo, certamente nome de uma avó, penso que não fora escolha de Maria Clara. Tenho dúvidas quanto a isto. Maria Clara não acreditava em poesia, tenho certeza, pois ao conversar com as duas ela me disse ela é apenas uma boneca. Não tinha dúvidas quanto a isto, nem entrou no mundo de Elza. Vi uma lágrima escorrendo no rosto da boneca quando se sentiu desprezada e encaixada na poltrona da frente a que Maria Clara e seu pai estavam em um voo de Porto Alegre para São Paulo.
Elza era apenas um apêndice na figura principesca de Maria Clara, algo que compunha seu figurino.
Quando eu quis entrar no mundo de Elza e perguntei algo a respeito dela, Maria Clara logo respondeu:
- Ela não fala. É apenas uma boneca.
Na idade de Maria Clara esta é uma percepção muito adulta. Cinco anos é a idade dos sonhos. Acredita-se em tudo e, realidade e fantasia, fazem parte de um mundo só. Depois, ao nos tornarmos adultos, praticamente descartamos as fantasias. Ficam os sonhos que já não são mais perseguidos porque desacreditamos na fantasia. E a poesia que mora dentro do mundo da poesia então: inexistirá para quem não persegue sonhos. Embrutecemos! É tão cedo para desacreditar dos sonhos, em idade tão tenra, pensei. Mas eu posso estar errado...
Bonecas são a chave para o mundo da fantasia. O mundo das bonecas é um mundo poético e aquela boneca era pura fantasia. Descobrir que uma criança não acredita em fantasia dá um choque. Eu senti uma dor profunda naquela hora. Espero que o tempo  mude isto para Maria Clara e que aquela boneca em forma de gente, não seja a fantasia dos outros, somente a boneca do amor de alguém...

Mário Feijó

03.06.16