sexta-feira, 30 de junho de 2017

ABENÇOADO EU



ABENÇOADO EU

Eu me abençoo
Desde que perdi vovó
Pois era ela quem me abençoava
Todos os dias que eu vivi
E todos os dias que ainda viverei

Eu nem sabia
O que era isto
Quando ainda era um anjo
Abençoado pelos céus

Vivia na terra
A voar de flor em flor
Sou apenas uma criança
Que perde o juízo ao envelhecer

E para não descompensar
Eu vou me abençoando
Para que deixe aos filhos e netos
Todas as minhas bênçãos que sobraram

Mário Feijó

30.06.17

quarta-feira, 28 de junho de 2017

CARTA A UM AMOR PERDIDO




CARTA A UM AMOR PERDIDO

Osório, 13 de junho de 2017

Querida Maria de Fátima

                Eu lembro de ti, com 17 anos, sorriso frouxo, boca deliciosamente fresca, beijo de jabuticaba madura, uma adolescente linda e magricela, pela qual me apaixonei.
Houve uma vez em que eu te beijei (foram poucas as vezes) e achei que tinha estourado na minha boca uma jabuticaba madura, doce, fora muito doce aquele beijo. Foi algo tão inusitado que eu nunca esqueci. Eu era um rapaz que tinha feito recentemente 20 anos e tinha passado no vestibular. Bobo, inexperiente, magricelo e ridiculamente feio (era isto que eu pensava de mim).
Hoje eu penso que terias sido meu amor da vida inteira. A vida embaralhou as nossas vidas e eu te perdi por uma bobagem à toa eternamente. Nunca mais te vi. Nunca mais tive notícias tuas, mesmo tendo te procurando depois dos meus términos de casamentos, tanto depois do primeiro, quanto depois do segundo. Já haviam se passado trinta e cinco anos daquele beijo. Ninguém te conhecia no lugar onde antes moravas, nem souberam dar notícias sobre a família.
Hoje já deves ter um pouco mais de sessenta anos e eu sinto saudades do que nunca fomos. Sinto saudades de ti, como se fosse ontem. Penso: como será que tu estás? Terás tido filhos? Netos? Será que casaste? Será que foste ou és feliz? Como será que estás?
Tu bem sabes que eu fui imatura em ter cedido aos avanços da Terezinha que corria e se oferecia para mim como se fosse laranja madura, na beira da estrada. Eu não era apaixonado por ela, mas não resisti à minha sexualidade que estava à flor da pele e cedi aos encantos dela. Culpa minha, confesso, mas o que fazer? Eu era bobo e inexperiente. Não fiquei com ela, mas por causa dela te perdi para todo o sempre.
Eu casei, descasei algumas vezes. Tive cinco filhos e tenho oito netos. Hoje vivo um amor, que, para a nossa época seria proibido. Sou feliz, mas tenho uma saudade infantil e juvenil do teu riso e dos teus beijos. Escrevi um poema que está publicado no meu livro de poemas PERMITA-SE! Cujo título é OS BEIJOS QUE EU NÃO TE DEI, considero um de meus melhores poemas. Pensava em ti na hora da escrita.
Ria Fátima. Você nunca envelheceu para mim e se hoje não és mais aquela menina risonha e amorosa, deixe-me só com estas lembranças.
Querida Fátima, hoje eu moro no Rio Grande do Sul, litoral, uma delícia. Tenho amigos adoráveis como: Heloisa, Marlene, Silvania, Graça, Sandra, Bela, Egon, Lucimar, Regina e tantos outros, e até um amor que te surpreenderia pela contemporaneidade. Nossas praias litorâneas são lindas, apesar de extensas e ventosas, mas venha passear por aqui qualquer dia. Quiçá fazer uma aula de literatura, piqueniques na beira da lagoa ou até mesmo jogar cartas conosco.
Espero que não me surpreendas sendo uma velha senhora amarga, gorda e desdentada por ter um dia perdido um amor, que pensava não correspondido e te exilado da vida porque meus sonhos libidinosos e juvenis contigo tornar-se-iam pesadelos. Ainda és o meu conto de fadas num livro delicioso que me foi arrancado das mãos quando eu estava prestes a ler o final.
Onde será que vou te encontrar? Onde será que lerei a última página de nossa história inacabada?


Mário Feijó

P.S. exercício da Oficina Literária Mário Feijó, onde os alunos fariam uma carta a um amor do passado. Seja este amor fictício ou verdadeiro, convidando-o para visitar o autor na cidade onde hoje reside.


UMA LINDA MOÇA



UMA LINDA MOÇA

Hoje eu vi
Uma linda moça
Cabelos longos
Pernas torneadas
Pele cor de pêssego
Deu-me água na boca
Lembrei-me
De uma moça de outrora

Voltei à minha realidade
Deixando os sonhos de lado
E naquele momento
Pensei em ti
No amor que vivemos
E pensei no que sinto por ti

É por ti
Que eu morro de tesão
E não trocaria você
Por uma moça qualquer
Não... eu não te trocaria
De jeito nenhum...

Mário Feijó

28.06.17

O GATO SE ESFREGA



O GATO QUE SE ESFREGA

Havia uma luz em teu peito
Que brilhava feito raios
Saindo dos teus pelos
Descansavam no leito

Era um emaranhado
Feito novelos de lã da vovó
Que o gato peludo sem pudor
Espalhava pelo chão

Eu se fosse criança
Perder-me-ia no emaranhado
Mas já sou adulto
Uso os fios para tecer amor

Nem dor tu sentes
Acredito no prazer
Como forma de entrega
Enquanto o gato apenas se esfrega

Mário Feijó
26.06.17


ESCREVENDO HISTÓRIAS



ESCREVENDO HISTÓRIAS

Meus olhos viram
Flechas lançadas
De uma fortaleza de pedra
Agora em ruínas

Partes danificadas
Mil anos pareciam ter passado
Não sucumbiram ao tempo

O futuro ali congelara
Todas as lágrimas derramadas
Escritas naquelas paredes

Tudo parecia perdido
O tempo refizera outra história
Escrita naquelas paredes

Parecia que a vida que ali havia
Fora desfeita enquanto o mar
Continuava a acenar
Escrevendo novas histórias


Neuza Silva
Mario Feijó
26.06.17

segunda-feira, 12 de junho de 2017

(CARTA) AO MEU AMOR

(CARTA) AO MEU AMOR

Capão da Canoa, 12 de junho de 2017

                Meu caro amor

                Você é o maior presente que a vida me deu nestes poucos anos que estamos juntos.
Eu quero te agradecer por estar em minha vida. Eu já tinha esquecido como era bom amar, depois de algumas separações e morte de amores anteriores.
Você chegou feito luz do sol, depois de uma grande temporada de chuva. Você também trouxe para mim o canto dos pássaros no final de tarde. É só uma figura poética, mas eu me sinto assim, como se pássaros cantassem para mim todas as tardes, sempre que estás ao meu lado.
Quero também te dizer que é muito bom, dormir e ter você por perto. Acordar e sentir teu corpo aquecendo e me dando energia extra. Eu também quero te dizer que o teu calor desperta em mim algo, feito semente que com a energia adequada, água e luz desperta para a vida.
Não importa a forma como você entrou em minha vida, nem a forma que tomou como ser, para me inspirar amor. Você poderia ser uma flor, porque eu iria te amar, talvez por um curto tempo porque as flores não são eternas. Você poderia ter aparecido como um pet qualquer, um gato, um cachorro ou um peixe que eu também poderia te amar, e seria por um tempo maior que a vida de uma flor.
Eu só percebo que você chegou com um pouco de atraso, porém chegou, eu já estava cansado e envelhecido, ao contrário de você, em plena forma e mais vigor que eu. Porém não me importaria se você não fosse um homem, mas um bicho ou outro ser qualquer. Quero te dizer que eu te amo, que te quero, que te desejo e que sejamos parceiros, amigos e amados como somos no hoje e no agora e que este hoje seja eterno no que for possível.

Com amor,


Mário Feijó


terça-feira, 6 de junho de 2017

A VOLTA E A RECONCILIAÇÃO Capítulo III

A VOLTA E A RECONCILIAÇÃO

Capítulo III

Pedro atende ao telefone e vê que Carol não está bem.
- Calma querida. Diz ele.
- Fique onde você está. Vou pegar um táxi e já encontro você.
Ela fica mais segura e deixa fluir toda a tristeza e desespero pelos quais passara nos últimos tempos, caindo numa crise, quase convulsiva de soluços e lágrimas.
Quinze minutos depois chega Pedro que fica assustado com o desespero de Carol.
Neste momento ambos esquecem as angústias e caem, um nos braços do outro, e no conforto daquele abraço ela o beija apaixonadamente. Tudo é esquecido. Só importa o amor que ainda sentem um pelo outro e percebem que não há motivos para não confiarem um no outro.
Quando se acalma, ela diz a Pedro:
- Por favor, perdoe-me.
- Perdoá-la? Mas por qual motivo? Diz Pedro estupefato.
Carol resolve contar tudo, desde o início quando percebeu a gravidez, e o medo que teve de contar-lhe, depois de algumas tentativas frustradas.
Pedro a ouve, sem falar nada, e percebe que ele também em nada ajudou quando rejeitava a ideia de ser pai. No início apenas arregalou os olhos. Depois passou a um estado de incredulidade diante do que ouvia, até chegar ao ponto em que pediu:
- Não se martirize mais e me perdoe por ter sido tão injusto com você. Eu dizia que não queria ter filhos, por você. Pensei que não poderia mais e não queria ter ilusões, nem tampouco causar decepções em você, caso disse que queria um filho. Eu vinha já pensando em formar uma família com você e como disse não menstruava mais, alegava não querer ser pai.
- Perdão, meu bem! Tudo o que eu quero é você. Case-se comigo e esqueçamos tudo, se possível.

...

Passados seis meses foram em lua de mel para o Rio de Janeiro. Visitaram o Cristo Redentor, numa manhã de domingo. Dia ensolarado, via-se toda a cidade. Lá embaixo a baia de Guanabara reinava esplêndida. O aterro do Flamengo aparecia resplandecente. No mar muitos barcos e iates ancorados. Do outro lado via-se a Urca e o Pão de Açúcar, com seus românticos bondinhos, indo e vindo. Já era o inicio da tarde quando voltaram do passeio e como a tarde estava quente pensaram em ir à Praia de Copacabana. Passaram no hotel para se trocar e Carol percebeu que sua carteira com documentos, o celular e dinheiro haviam sumido. Ela tinha sido roubada e não percebera.
Em consequência do transtorno passaram o resto da tarde numa delegacia do subúrbio, próxima do hotel onde estavam hospedados. Havia muita gente e poucos policiais de plantão. Ouviram, enquanto aguardavam, casos de estupro, roubo e assassinato. Era uma situação caótica e depressiva. Ele percebeu que seu drama era dos menores ali, afinal o dinheiro não era muito, todo o problema seriam seus cartões e celular. Com o boletim de ocorrência nas mãos poderia viajar e na volta providenciar seus documentos. Na segunda feira iria a uma agencia de seu banco cancelar os cartões e à operadora do seu celular para bloqueá-lo.
Estavam jantando quando o telefone de Pedro toca. Era o número de Carol. Resolveu atender pensando que alguém poderia tê-lo encontrado. Porém eram os ladrões agindo. Ameaçaram os dois de sequestro, caso não depositassem dez mil dólares em determinada conta. Tiveram acesso às mensagens de Carol e sabiam da viagem, do voo, do local da hospedagem e falaram até sobre os filhos dela.
Voltaram à delegacia e foram recomendados pelo delegado a trocar de hotel. Assim resolveram mudar aquela noite e no dia seguinte voltar para casa, em Florianópolis.
Dois dias ficaram envolvidos com o transtorno do roubo. Carol teve sorte por estar acompanhada de Pedro, caso contrário nem saberia o que fazer para voltar pra casa.
Os documentos demorariam uns dias para ficarem prontos. Os filhos de Carol foram orientados a mudar de números. Ligia, a filha de 28 anos, recém-casada fora a que ficou mais assustada com toda a história, já o irmão Alex que morava nos Estados Unidos, por conta de uma pós-graduação, fora avisado de tudo, mas parecera tranquilo.
Depois de tudo resolveram ir para o Águas Mornas Palace Hotel, no pequeno município de Águas Mornas que pertence à Grande Florianópolis. Lá é só campo, descanso e águas termais. O que mais queriam depois de tudo?
Instalados naquele paraíso perceberam que não precisavam ter ido tão longe para encontrar o que procuravam. Bastavam-se um ao outro e se entregaram ao encanto da paixão quando o telefone de Pedro tocou. Era um número do Rio de Janeiro... Esqueceram de trocar o número de Pedro.
Olharam um para o outro... atenderiam? Perguntaram-se com o olhar...


Fim do terceiro Capítulo

Mário Feijó
06.06.17


(E)NAMORADO



(E)NAMORADO

Eu sempre fui romântico e imaginara
Um amor como nos contos de fadas
Agora fico encantado com cada curva tua
Seja ela do teu peito ou do teu ventre

E me encanto mais ainda
Quando acordo com o cheiro de café
Com a casa varrida, o banheiro limpo
Tudo o que nunca fizeste e fazes para me agradar

E me descubro enamorado não mais por fadas
Mas pelos teus beijos com gosto de café fresco
E com teus abraços quando pela casa nos cruzamos
Como se estivéssemos passeando num campo em flor

Tudo é tão diferente do que sempre tive
Porém é o que mais se aproxima do que pensei
Sobre alguém me amando e sobre felicidade
Eu nunca, jamais pensei viver esta nossa forma de amor

Mário Feijó

06.06.17

sábado, 3 de junho de 2017

DEPOIS DA CHUVA




DEPOIS DA CHUVA

Na beira do riacho
As palmeiras dançam um balé
Sincronizadas balançam
Impulsionadas pela força do vento

Por detrás do vidro fumê
Eu me escondo de viventes
Que perdidos descem
E sobem a estrada asfaltada

Ontem as ruas eram cobertas por um lençol de água
Hoje úmidas refletem a luz do sol
Ainda encharcadas pela água
Do temporal que tudo alagara

O frio, o vento e a chuva
Fizeram com que minhas roupas
Grudassem em meu corpo molhado
Enquanto eu, feito um gato, me esticava no sol

Mário Feijó

03.06.17