quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

PEGADAS NA AREIA


PEGADAS NA AREIA

Pegadas perdidas
De gente, de pássaro
De puto, de puta
De homem e de cavalo

A garça perdia
Pescava tatuíras
Homens e mulheres acordavam
Cedo para pescar filhotes

E a praia, antes deserta,
Enchera-se de carros e gentes
Como se estivessem aberto
Todas as portas do inferno

Gente mal educada
Que joga lixo por tudo
Que grita alto e bebe por todos os motivos
Que destrói a tranquilidade procurando por ela

E o prefeito pomposo
Do alto do trono
Destrói a praia
Para construir algo novo

Pegadas na areia
Lambidas pelo mar
Amanhã todos vão embora
Deixando na areia
Marcas que não vamos gostar...

Mário Feijó

31.12.15

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

TINHOSA

VIDA ESPERTA (TINHOSA)

Sentada na varanda
Vida apreciava a brisa
Fresca que vinha do mar
Enquanto tecia tramas

E não fora somente agora
Ela já fazia isto
Há algum tempo

Eu deixara minhas vontades
Há muito abandonadas
Tudo que planejava
Tinhosa, Vida tinha outros rumos

Eu decidira não mais me debater
Como se estivesse em um redemoinho
E ia adaptando minha felicidade
Ao que me era apresentado...

Mário Feijó

29.12.15

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

AREIA FOFA

AREIA FOFA

Se procurar bem, você acaba encontrando.
Não a explicação duvidosa da vida,
Mas a poesia inexplicável da vida!

Carlos Drumond de Andrade


Então os meus pés afundam
Na areia fofa à beira-mar
Penso na vida enquanto
Tatuíras se afundam na areia, medrosas

Eu, igualmente medroso, afundo-me
Em saudades e lembranças
Enquanto o tempo célere cobra de meu corpo
Uma lentidão até há pouco tempo inexistente

O sol, tímido, esqueceu que é verão
E desbotado esconde-se entre nuvens
Tão cansado quanto eu

Penso nos bons momentos em que
Eu tinha asas e ia longe
Tão longe que desaparecia por entre as nuvens
Agora apenas me afundo na areia fofa

Mário Feijó

28.12.15

sábado, 26 de dezembro de 2015

PASSIONAL É A FLOR QUE FICA PARADA

PASSIONAL É A FLOR QUE FICA PARADA

Qualquer lugar
Serviria para o nosso amor

Você é o urânio
Que mantém em mim
Esta bomba ativa
A ponto de eclodir
Como fazem as flores
Que se abrem ao sol
Quando desponta a primavera

Ou como fazem os ovos
Sob o calor das aves

Eu sou livre
Quando estou contigo
Feito pluma solta no ar
Embalada pela força da natureza

E me atiro para qualquer lugar
Tal qual as dunas
Que à beira-mar mudam-se
Pela vontade dos ventos

Mário Feijó

26.12.15

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

URSO DENTRO DA CAVERNA

URSO DENTRO DA CAVERNA

         Acordei com a intenção
De apagar lembranças
Que só fazem sofrer...

Eu lembrei do teu riso frouxo
Que me fazia sorrir
Das tiradas “sem noção”
- mentiras mal contadas

Mas lembranças são nódoas
Que não conseguimos apagar
Nem mesmo com cloro ativo
Porque fica na memória sua cicatriz

Eu preferia não ter em mim
Este vazio tão cheio de ti
Parecendo um problema sem solução
E com tanta coisa sem explicações

Ficaram mágoas sem explicação
Tramas mal urdidas, parecendo novela mexicana
Onde nunca ficou explicado a Regra do Jogo
Em que não há mocinhos, mas muitos bandidos

É como se na minha caverna
Tivesse entrado um urso selvagem
Destruindo tudo que era meu
Além de levar você dos meus natais...

Mário Feijó

25.12.15 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ASSISTINDO À CHUVA

ASSISTINDO À CHUVA

Assistindo à chuva na janela
Eu vejo gotas levadas pelo vento
Em desespero querendo ganhar o chão

Há um bailado de gotas aflitas
Umas abraçam-se inseguras
E fortalecidas, sem medo
Formam poças no solo

A grama molhada arrepia-se
Quando o vento sopra
As árvores têm suas almas lavadas
E deixam-se brotar em flores e frutos

Os passarinhos correm de um lado para o outro
Alguns se arriscam em banhos refrescantes
Outros voam felizes para os ninhos
Na janela o gato silencioso assiste a tudo

À beira-mar a garça solitária
Busca o alimento dos filhotes
Enquanto tatuíras assustadas
Escondem-se embaixo das caudas das ondas...

Mário Feijó

23.12.15

sábado, 19 de dezembro de 2015

CAMINHOS

CAMINHOS

No jardim
Desiludida
A rosa despiu-se
De todas as pétalas

Pálida, transparente,
Ainda lhe restava no caule
O pólen germinador

Porém estéril
Estava todo o jardim
Recentemente todos os girassóis
Haviam secado

Embaixo do alpendre da janela
Havia uma cascata
Que também secara
Tal qual lágrimas por ali derramadas

A terra, agora seca e árida,
Serviu apenas para a construção
De um castelo que subia aos céus
E por este caminho muitas almas deram adeus...

Mário Feijó

19.12.15

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O BRASIL É NOSSO

O BRASIL É NOSSO

Brasil
Tenho estado calado
Por falta de opções

Jamais pensei
Que numa terra tão profícua
O que mais prospera
É o roubo e a corrupção

Demônios vestiram-se de anjos
Deram pão velho
E água enlameada
Para toda a população

E para os que trabalham
Soltam sanguessugas
Mosquitos e muita lama
Que turvaram as nossas cores

Brasil, Brasil, brasileiros
Esta é a nossa pátria
Vamos acreditar que é possível
E com uma cédula eliminar estes políticos...

Mário Feijó

18.12.15

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

VIAGEM

VIAGEM

         Quando eu era criança encontrei-me com a morte. Ela vestiu-se de homem do campo, roupa limpa, calça preta, camisa branca e usava chapéu. Parecia ter uns 40 anos e me pegou pela mão e me levou a passear pelo azul infinito.
Para onde fomos eu nunca soube. Isto ficou para a minha memória pós-morte quando eu perder a consciência nesta vida. Certamente eu não poderia ter consciência de que no outro mundo é muito melhor.
Passados quase sessenta anos eu penso quando será que ela irá voltar? Sim. Um dia ela vem buscar cada um de nós. No entanto penso: será que ela envelheceu?  Será que mandará o mesmo emissário? Ou virá alguém mais moço? Será um homem ou uma mulher? O que ela tem a ver com gênero? Por que se veste de homem ou mulher?
Coisas da minha cabeça, certamente.
Com dores, espero aliviado o dia que ela venha pegar e minhas mãos e me levar de volta para o lugar onde, definitivamente eu nunca deveria ter saído.
Que viagem!!!!

Mário Feijó

14.12.15

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

GATAS DOMESTICADAS

GATAS DOMESTICADAS

Duas meninas doces
Duas gatas manhosas
Imploravam amor
Queriam amar e ser amadas

Aconchegadas em camas quentes
Uma contente ronronava,
A outra arisca arranhava

Ambas sentiam a falta do lar
Uma era apenas “diva”
A outra “divina” é
Ambas têm as garras afiadas

Agora miam macio
Diante de um afago
Diante de um bombom
Ou diante de um cheiro agradável...

Mário Feijó

11.12.15

domingo, 6 de dezembro de 2015

OS EXTRATERRESTRES DENTRO DA GARRAFA PET


OS EXTRATERRESTRES DENTRO DA GARRAFA PET

Ela era uma garrafa plástica que jogada ao mar ficou à deriva por muitos anos. Ganhou cracas, até que um dia foi parar na beira da praia. O líquido que havia dentro deteriorou, ficou rosa. Porém ela continuou intacta.

A primeira vista poderia ser um objeto estranho. Muita imaginação e ela poderia ser um detrito espacial, caído de outro planeta. Seu conteúdo pode ser um gás mortal aos terráqueos e quando for aberto se espalhar pela atmosfera destruindo o ar que respiramos. Quiçá ao ser aberto e em contato com os gazes terrenos entre em combustão e destrua todo o planeta? Somos frágeis embora pensemos que nunca seremos destruídos pelo nosso próprio lixo.

Eu deixei a garrafa onde ela estava. Não tive coragem para abri-la. Tampouco havia uma lixeira onde eu pudesse deposita-la. E se houvesse um extraterreno espiando minha atitude e me abduzisse? Nem sou covarde, mas se sobrevivi a tantos acidentes quem me garante que eu sobreviveria a um ataque extraterrestre? Não posso correr mais riscos.

Além disto quem garante que aquela massa pastosa lá dentro não é um monte de seres extraterrestres prontos para se desenvolverem e eclodir diante do primeiro contato com a nossa atmosfera. Não, eu não poderia libertá-los. Eu não posso ser o responsável pela invasão de seres estranhos no planeta.

Diante da dúvida e da minha responsabilidade com os demais seres humanos deixei a garrafa onde estava, torcendo para que o sol fizesse de todo o seu ingrediente um cozido e que os extraterrestres simplesmente morram dentro da sua nave espacial, disfarçada de garrafa pet.

Fui pra casa tranquilamente tomar um café. Nestas alturas os extraterrestres já estão mortos e eu tranquilamente posso caminhar pela orla marítima de Capão da Canoa sem sustos.

Ufa!!!

Mário Feijó

06.12.15 




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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

CONSCIÊNCIA DISPERSA

CONSCIÊNCIA DISPERSA

Quando somos jovens
Não nos preocupamos com a vida
Algumas vezes ficamos assustados
Quando a morte acontece

Então envelhecemos
E a morte se faz presente todos os dias
Seja nas ruas ou nos obituários de jornais
Ou nas dores do corpo

E descobrimos que o existir
É quase tão efêmero quanto
Um raio em noite de chuva
Iluminando e se apagando na escuridão!

Como ser humano
Pouco me interessa
A eternidade da alma
Coisa tão incerta!

De que me interessa ser eterno
Se viverei de outra forma
Terei outro corpo sem matéria
E uma consciência dispersa...

Mário Feijó

03.12.15