segunda-feira, 31 de julho de 2017

DELÍRIOS POÉTICOS




DELÍRIOS POÉTICOS

“Só uma parte da existência cabe num poema.
A maior parte esbarra no muro das palavras
e permanece do lado de fora”
José Castello
In: COUTO, M. Poemas Escolhidos.  1ª. Ed. São Paulo : Cia das letras 2016

O poema é um delírio
Um momento de beleza
Em um instante de loucura
Na vida de um poeta

Ele (o poeta) tem os olhos
Que enxergam além do físico
Porque enxerga com olhos d’alma

Vê os encantos da vida
Na natureza das coisas
Nos eventos de cada sentimento
Na extensão de cada um

As palavras pouco dizem
O todo que o poeta vê
Em um mundo no qual
Ele é apenas o agente do sentir

Mário Feijó

31.07.17

DIA DO ESCRITOR




DIA DO ESCRITOR
Não pense você que só aqueles que têm livros escritos são escritores, mas todos aqueles que escrevem cartas, bilhetes, pequenos poemas, historiadores, pesquisadores são escritores.
É importante que registremos para a posteridade histórias que nos envolvem e que envolvem nossas famílias. Boas ou más histórias, mas eventos diários. Por isto é importante que não deixemos estas memórias morrerem e assim nos tornarmos eternos... imortais.
A todos os meus amigos escritores que estão na minha estante, a todos os meus amigos escritores, a todos os que vivem comigo histórias que morarão na minha memória ou que contribuem para a história da humanidade o meu carinho agradecido... Torne-se um escritor... escreva sempre e se possível leia-nos...
Mário Feijó
25.07.17

domingo, 30 de julho de 2017

LAMÚRIAS DE AMOR



LAMÚRIAS DE AMOR

Algumas pessoas
Procuram o amor
E quando encontram
Não satisfeitos
Continuam a procurá-lo
Em outros...

E quando perdem
Aquele amor que tinham
Por não saberem dar valor
Ficam a dizer que sofrem
Por não serem compreendidos...

Mário Feijó

30.07.17

segunda-feira, 10 de julho de 2017

A ENXURRADA

A ENXURRADA

“Restou a nós ficar olhando o vale arrasado. A chuva destruiu nossas plantações, levou toda a criação de animais domésticos, inclusive as duas vaquinhas que tínhamos”.
Este foi o relato da mulher, ao repórter que a entrevistava, no mês de junho passado, numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, próximo ao Rio Uruguai, no sul do estado.
O casal desolado estava no alto do morro apreciando o volume das águas que não parava de subir. A mulher estava grávida havia sete meses, e no colo tinha mais um menino com pouco mais de um ano. Eram felizes, afirmara.
Simples, porém felizes e agora estavam desolados porque a única coisa que lhes restara foi a terra. Não sabiam o que fazer para recomeçar. Teriam que esperar as águas baixarem. Quase dois dias depois, o volume dos rios no Estado começou a baixar.
Quinze dias depois o volume dos rios no Estado começou a ficar normal. Houve lugares onde a água subiu 11 metros acima do normal. A comunidade empobrecida, das zonas rurais, começou a receber ajuda de outros municípios e até de outros estados. O poder público prometeu e não cumpriu, nem a ajuda de 2015. Agora em julho de 2017 começou a enviar uma parcela de recursos aos municípios em estado de calamidade pública.
As famílias recebiam ajuda de parentes e amigos e os que perderam suas casas estavam alojados no salão paroquial, algumas outras no ginásio coberto das escolas. Tudo muito precário.
O estado do Rio Grande do Sul está com as finanças falidas, o país diante da crise política dos últimos tempos vive situação semelhante. Tudo se torna difícil e caótico. No entanto o povo brasileiro e bravo e vai à luta. Geralmente quando a ajuda chega o problema já está quase resolvido. No entanto diante de tamanho caos uma perda como esta leva muitos anos para que as famílias se recuperem. Muitos acreditam piamente em tudo e esperam a ajuda divina para resolver seus problemas. Todavia Deus nem sempre está disponível para resolver todos os problemas que o próprio povo causa ao planeta, como: poluição e desmatamento e muitos dos desastres naturais são em consequência do descaso da humanidade. Vamos acreditar que podemos mudar isto e não esperar somente soluções vindas do poder público ou da ajuda divina.
Educação é o caminho. Nossa ação a solução. Vamos à luta e vencer esta batalha. Outros povos conseguem, nós conseguiremos. É nisto que eu acredito. É nisto que espero que as pessoas comecem a acreditar. Só assim as mudanças acontecerão e podemos todos ter uma vida com qualidade. O resto se Deus der é lucro!

Mário Feijó
10.07.17

P.S. Trabalho executado na Oficina Literária Itinerante “Mário Feijó”

(usar a imagem como referência na criação de um texto)

quarta-feira, 5 de julho de 2017

SER INVISÍVEL







SER INVISÍVEL

Éramos seis irmãos e ainda somos, antigamente mais unidos que hoje. Criança faz barulho: corre, grita, canta, brinca. Os quatro mais velhos tinham no máximo um ano e três meses de diferença entre um e outro. Éramos unidos, mas brigávamos bastante por qualquer coisa, mas nada muito sério, igual à maioria das famílias. Passados dez anos nasceram mais dois e completou-se o grupo de seis irmãos. Sendo eu o mais velho.
Muitos filhos, para os tempos de hoje, penso eu, porém dois irmãos de meus pais tiveram dezessete cada um. Crescemos crianças com pouco amor e atenção dos pais. Eu me sentia invisível aos olhos deles, principalmente para meu pai, que parecia ter seus olhos todos voltados para minha irmã, a terceira de todos.
Ganhei a responsabilidade informal de ser o tutor de todos, ai quando alguém fazia uma diabrura – uma arte qualquer que desagradasse meu pai, ou que minha mãe queixosa contasse a ele – eu me tornava visível e a “Iracema tira a teima” entrava em ação no meu lombo ou qualquer parte do corpo. Era dolorido e cruel, eu lembro (Iracema era uma vara ou cinta que servia para nos castigar). Porém na maioria das vezes era somente eu quem apanhava as surras, os outros eu não lembro se foram surrados alguma vez.
Cresci e fui cuidando mais de mim. Logo me tornei adulto e tive uma família para criar e sustentar, afinal de contas casei com 23 anos. Nunca deixei de me preocupar com meus pais, enquanto estiveram vivos, nem com minha avó, que faleceu com 97 anos. Tampouco deixei de estar vigilante com minhas tias. Sempre as visito, principalmente as da família da minha mãe.
Hoje estou morando sozinho, mas minhas “antenas” estão sempre ligadas em relação à família que cresceu muito: atualmente são quatro filhos e oito netos. É muita gente para cuidar e eu estou chegando numa idade que sou eu quem precisa de frequentes cuidados. Está muito claro que se precisarem é só ligar e estou presente. No entanto eu me sinto invisível aos olhos deles.
Gostaria muito de ser invisível – literalmente – e sei que a oportunidade acontecerá tão logo eu morra, aí poderei saber se o amor que plantei nos corações ainda existe, mesmo que tarde.
Sei, ainda, que ninguém é eterno, porém o amor e as coisas que fazemos a quem amamos torna-nos imortais, como se fossemos escritores numa academia de letras da vida...

Mário Feijó
05.07.17


PS. Trabalho produzido na Oficina Literária Mário Feijó

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A ADOÇÃO: E AGORA? A CRIANÇA É NEGRA - CAPITULO IV


Resultado de imagem para crianças negras olhos azuis

A ADOÇÃO: E AGORA? A CRIANÇA É NEGRA

CAPITULO IV

Sim. Pedro e Carol resolveram atender ao chamado telefônico. Assustados pensavam no drama recentemente vivido no Rio de Janeiro.
O número                 tinha o prefixo 21, porém era da tia de Cleia, a amiga de trabalho de Carol, única conhecida naquela cidade. Haviam deixado com ela o número de Pedro para o caso de resolver problemas possíveis com a perda de documentos e telefone no Rio.
Tia Lia tinha recebido uma ligação da polícia informando que haviam prendido uma gangue e com eles estavam o telefone e os documentos de Carol. Era incrível isto, e tia Lia se encarregara de mandá-los por SEDEX.  
Deu pra relaxar um pouco de toda a tensão sofrida no último mês.
Vida voltando ao normal. Retornaram ao trabalho. Carol resolvera contar todo o drama vivido até o casamento para Cleia, pois eram amigas desde a infância. Não tornar pública toda a história que sofrera, principalmente para a família, mas confiava em Cleia. Trabalhavam juntas há algum tempo e a amiga entrara na empresa por indicação de Carol.
Em contrapartida Cleia contou o drama de uma sobrinha, meio cabeça de vento, que morava com ela e a mãe. A menina tinha 17 anos estava grávida pela terceira vez e decidira que entregaria o bebê para adoção. Até pensara em abortar, mas os mais próximos resolveram influenciar e indicar este caminho.
Carol fora pra casa tocada com a história. Talvez pela perda recente de um bebê e começou a pensar na trajetória daquele bebê que ninguém iria saber onde iria parar. Isto estava lhe incomodando, fragilizando. Falou com Pedro, quase um mês depois. Ele, a princípio nada disse, até que no final de semana falou:
- Se você quiser abraço esta causa com você. Vamos fazer tudo o que é necessário para adotar esta criança.
Começaram por ajudar Luana com médicos, remédios e pré-natal. Carol tinha uma amiga médica que se encarregou de tudo, para evitar um contato direto, e Cleia prometera não contar à Luana quem adotaria seu filho, visto que Pedro tinha uma amiga na Universidade que pertencia à Associação de Pais de Crianças Adotadas que ajudou e entrou na história.
Dra. Miriam se encarregou de fazer o parto, numa maternidade Pública, porém em quarto particular. A moça mãe não teria contato com o bebê que sairia da maternidade com a tia e a garota e na rua entregariam à Cecília, amiga de Pedro. Tudo muito discreto e planejado com cuidado. Tudo transcorrera normalmente até o dia do nascimento do bebê. Com todos estes cuidados, burlaram a adoção e registrariam como filho o menino recém-nascido.
Luana teve alta e na saída da maternidade Cleia veio até o carro, onde estavam Cecília, Pedro e Carol, todos ansiosos e nervosos e entregou aquele pequeno embrulho cheirando a sabonete, enrolado com as roupas que Carol havia comprado. Cleia jurara jamais contar o paradeiro do bebê à sobrinha, que não pareceu se importar muito com isto.
Carol pegara a criança delicadamente enrolada naquele cobertor e nada dissera. Encostara seu rosto no tecido e deixou uma lágrima rolar, tão emocionada estava. O cheirinho do bebê foi tomando conta dela que parecia sentir o mesmo quando seus outros filhos nasceram. Estava feliz. Acolhera aquele bebê ao peito e o instinto materno tomou conta dela. Por incrível que pareça sentiu o peito arder e logo depois ficar molhado. Seu peito estava inchado nos últimos dias e sentiu escorrer no corpo um líquido quente. A espera fez com que ela tivera uma gravidez psicológica e agora seu peito jorrava leite. Parecia um milagre, mas já ouvira casos assim.
Foram pra casa, onde tudo estava preparado. O quarto do bebê todo pintado de azul. Havia armários com carrinhos e alguns brinquedos que os filhos de Carol haviam mandado, para mostrar que aprovavam a ideia de um irmão (quem sabe a mãe pararia de lhes cobrar um neto).
Pedro entrou na dança. Estava feliz com a ideia de ser pai. Nunca pensara que estaria tão feliz.
Chegando em casa e colocou o bebê no berço e fora tomar um banho pois estava toda molhada. Ao sair viu que o menino chorava com fome. Ela já havia comprado leites especiais. Ligou pra médica contando o que aconteceu e perguntou se poderia amamentar o bebê. A médica respondera que sim, mas que gostaria de examiná-la naquela mesma tarde.
Colocara um roupão e destapou a criança. Incrível! Sentia como se fosse tão seu que não tivera nem a curiosidade de ver o rostinho do bebê. Agora tinha o maior susto da vida. A criança era negra. Não havia se preocupado em saber nada e agora tinha um filho natural e negro. Será que fora trocado? Resolvera ir com a criança à médica.
Por que não perguntara nada a Cleia. Por que ela nada lhe dissera, já que a sobrinha era branca. Conhecia toda a família. Não era amiga intima, mas conhecia de vista todos e não lembrava de ter negros na família de Cleia.
Pedro, tão logo passara a surpresa, logo se apaixonara pelo bebê. Nunca tivera preconceito, mas Carol vivia um drama. Sua família era preconceituosa. Sabiam que teriam futuros problemas.
Chamou Cleia em sua casa e pediu que esta contasse toda a história da sobrinha e de quem era o pai da criança. Ela falou que o namorado de Luana era um negro haitiano que chegara há pouco tempo ao Brasil. Luana nem lhe contara sobre a gravidez porque, segundo ela haviam apenas “ficado” e nem houve namoro. A moça era uma típica brasileira, onde há na família todas as raças, mas era loira e tinha olhos azuis.
Passaram-se os dias e ela foi se apaixonando pela criança que ficava cada dia mais linda, aos seus olhos. Todos começaram a esquecer a cor e a beleza exótica do menino começou a prevalecer, encantando a todos.

Mário Feijó

03.07.17

domingo, 2 de julho de 2017

EMBARALHADO



EMBARALHADO

Tudo dentro de mim
Está muito embaralhado
Até ontem eu queria
Apenas um amor eterno
Hoje eu descobri que você
Estará eternamente em mim

E num susto eu tenho medo
Um medo enorme de te perder
Eu não saberia mais
O que fazer sem ti

Tive muitos amores
E jamais morri de ciúmes
Por qualquer um deles
Confesso que tenho ciúmes de você

Estou assim embaralhado sozinho
Querendo correr para teus braços
Penso que todas as formas de amar
Sempre valerão à pena
E tudo o que eu mais queria
Era viver este meu eterno amor

Mário Feijó

02.07.17

sexta-feira, 30 de junho de 2017

ABENÇOADO EU



ABENÇOADO EU

Eu me abençoo
Desde que perdi vovó
Pois era ela quem me abençoava
Todos os dias que eu vivi
E todos os dias que ainda viverei

Eu nem sabia
O que era isto
Quando ainda era um anjo
Abençoado pelos céus

Vivia na terra
A voar de flor em flor
Sou apenas uma criança
Que perde o juízo ao envelhecer

E para não descompensar
Eu vou me abençoando
Para que deixe aos filhos e netos
Todas as minhas bênçãos que sobraram

Mário Feijó

30.06.17

quarta-feira, 28 de junho de 2017

CARTA A UM AMOR PERDIDO




CARTA A UM AMOR PERDIDO

Osório, 13 de junho de 2017

Querida Maria de Fátima

                Eu lembro de ti, com 17 anos, sorriso frouxo, boca deliciosamente fresca, beijo de jabuticaba madura, uma adolescente linda e magricela, pela qual me apaixonei.
Houve uma vez em que eu te beijei (foram poucas as vezes) e achei que tinha estourado na minha boca uma jabuticaba madura, doce, fora muito doce aquele beijo. Foi algo tão inusitado que eu nunca esqueci. Eu era um rapaz que tinha feito recentemente 20 anos e tinha passado no vestibular. Bobo, inexperiente, magricelo e ridiculamente feio (era isto que eu pensava de mim).
Hoje eu penso que terias sido meu amor da vida inteira. A vida embaralhou as nossas vidas e eu te perdi por uma bobagem à toa eternamente. Nunca mais te vi. Nunca mais tive notícias tuas, mesmo tendo te procurando depois dos meus términos de casamentos, tanto depois do primeiro, quanto depois do segundo. Já haviam se passado trinta e cinco anos daquele beijo. Ninguém te conhecia no lugar onde antes moravas, nem souberam dar notícias sobre a família.
Hoje já deves ter um pouco mais de sessenta anos e eu sinto saudades do que nunca fomos. Sinto saudades de ti, como se fosse ontem. Penso: como será que tu estás? Terás tido filhos? Netos? Será que casaste? Será que foste ou és feliz? Como será que estás?
Tu bem sabes que eu fui imatura em ter cedido aos avanços da Terezinha que corria e se oferecia para mim como se fosse laranja madura, na beira da estrada. Eu não era apaixonado por ela, mas não resisti à minha sexualidade que estava à flor da pele e cedi aos encantos dela. Culpa minha, confesso, mas o que fazer? Eu era bobo e inexperiente. Não fiquei com ela, mas por causa dela te perdi para todo o sempre.
Eu casei, descasei algumas vezes. Tive cinco filhos e tenho oito netos. Hoje vivo um amor, que, para a nossa época seria proibido. Sou feliz, mas tenho uma saudade infantil e juvenil do teu riso e dos teus beijos. Escrevi um poema que está publicado no meu livro de poemas PERMITA-SE! Cujo título é OS BEIJOS QUE EU NÃO TE DEI, considero um de meus melhores poemas. Pensava em ti na hora da escrita.
Ria Fátima. Você nunca envelheceu para mim e se hoje não és mais aquela menina risonha e amorosa, deixe-me só com estas lembranças.
Querida Fátima, hoje eu moro no Rio Grande do Sul, litoral, uma delícia. Tenho amigos adoráveis como: Heloisa, Marlene, Silvania, Graça, Sandra, Bela, Egon, Lucimar, Regina e tantos outros, e até um amor que te surpreenderia pela contemporaneidade. Nossas praias litorâneas são lindas, apesar de extensas e ventosas, mas venha passear por aqui qualquer dia. Quiçá fazer uma aula de literatura, piqueniques na beira da lagoa ou até mesmo jogar cartas conosco.
Espero que não me surpreendas sendo uma velha senhora amarga, gorda e desdentada por ter um dia perdido um amor, que pensava não correspondido e te exilado da vida porque meus sonhos libidinosos e juvenis contigo tornar-se-iam pesadelos. Ainda és o meu conto de fadas num livro delicioso que me foi arrancado das mãos quando eu estava prestes a ler o final.
Onde será que vou te encontrar? Onde será que lerei a última página de nossa história inacabada?


Mário Feijó

P.S. exercício da Oficina Literária Mário Feijó, onde os alunos fariam uma carta a um amor do passado. Seja este amor fictício ou verdadeiro, convidando-o para visitar o autor na cidade onde hoje reside.


UMA LINDA MOÇA



UMA LINDA MOÇA

Hoje eu vi
Uma linda moça
Cabelos longos
Pernas torneadas
Pele cor de pêssego
Deu-me água na boca
Lembrei-me
De uma moça de outrora

Voltei à minha realidade
Deixando os sonhos de lado
E naquele momento
Pensei em ti
No amor que vivemos
E pensei no que sinto por ti

É por ti
Que eu morro de tesão
E não trocaria você
Por uma moça qualquer
Não... eu não te trocaria
De jeito nenhum...

Mário Feijó

28.06.17

O GATO SE ESFREGA



O GATO QUE SE ESFREGA

Havia uma luz em teu peito
Que brilhava feito raios
Saindo dos teus pelos
Descansavam no leito

Era um emaranhado
Feito novelos de lã da vovó
Que o gato peludo sem pudor
Espalhava pelo chão

Eu se fosse criança
Perder-me-ia no emaranhado
Mas já sou adulto
Uso os fios para tecer amor

Nem dor tu sentes
Acredito no prazer
Como forma de entrega
Enquanto o gato apenas se esfrega

Mário Feijó
26.06.17


ESCREVENDO HISTÓRIAS



ESCREVENDO HISTÓRIAS

Meus olhos viram
Flechas lançadas
De uma fortaleza de pedra
Agora em ruínas

Partes danificadas
Mil anos pareciam ter passado
Não sucumbiram ao tempo

O futuro ali congelara
Todas as lágrimas derramadas
Escritas naquelas paredes

Tudo parecia perdido
O tempo refizera outra história
Escrita naquelas paredes

Parecia que a vida que ali havia
Fora desfeita enquanto o mar
Continuava a acenar
Escrevendo novas histórias


Neuza Silva
Mario Feijó
26.06.17

segunda-feira, 12 de junho de 2017

(CARTA) AO MEU AMOR

(CARTA) AO MEU AMOR

Capão da Canoa, 12 de junho de 2017

                Meu caro amor

                Você é o maior presente que a vida me deu nestes poucos anos que estamos juntos.
Eu quero te agradecer por estar em minha vida. Eu já tinha esquecido como era bom amar, depois de algumas separações e morte de amores anteriores.
Você chegou feito luz do sol, depois de uma grande temporada de chuva. Você também trouxe para mim o canto dos pássaros no final de tarde. É só uma figura poética, mas eu me sinto assim, como se pássaros cantassem para mim todas as tardes, sempre que estás ao meu lado.
Quero também te dizer que é muito bom, dormir e ter você por perto. Acordar e sentir teu corpo aquecendo e me dando energia extra. Eu também quero te dizer que o teu calor desperta em mim algo, feito semente que com a energia adequada, água e luz desperta para a vida.
Não importa a forma como você entrou em minha vida, nem a forma que tomou como ser, para me inspirar amor. Você poderia ser uma flor, porque eu iria te amar, talvez por um curto tempo porque as flores não são eternas. Você poderia ter aparecido como um pet qualquer, um gato, um cachorro ou um peixe que eu também poderia te amar, e seria por um tempo maior que a vida de uma flor.
Eu só percebo que você chegou com um pouco de atraso, porém chegou, eu já estava cansado e envelhecido, ao contrário de você, em plena forma e mais vigor que eu. Porém não me importaria se você não fosse um homem, mas um bicho ou outro ser qualquer. Quero te dizer que eu te amo, que te quero, que te desejo e que sejamos parceiros, amigos e amados como somos no hoje e no agora e que este hoje seja eterno no que for possível.

Com amor,


Mário Feijó


terça-feira, 6 de junho de 2017

A VOLTA E A RECONCILIAÇÃO Capítulo III

A VOLTA E A RECONCILIAÇÃO

Capítulo III

Pedro atende ao telefone e vê que Carol não está bem.
- Calma querida. Diz ele.
- Fique onde você está. Vou pegar um táxi e já encontro você.
Ela fica mais segura e deixa fluir toda a tristeza e desespero pelos quais passara nos últimos tempos, caindo numa crise, quase convulsiva de soluços e lágrimas.
Quinze minutos depois chega Pedro que fica assustado com o desespero de Carol.
Neste momento ambos esquecem as angústias e caem, um nos braços do outro, e no conforto daquele abraço ela o beija apaixonadamente. Tudo é esquecido. Só importa o amor que ainda sentem um pelo outro e percebem que não há motivos para não confiarem um no outro.
Quando se acalma, ela diz a Pedro:
- Por favor, perdoe-me.
- Perdoá-la? Mas por qual motivo? Diz Pedro estupefato.
Carol resolve contar tudo, desde o início quando percebeu a gravidez, e o medo que teve de contar-lhe, depois de algumas tentativas frustradas.
Pedro a ouve, sem falar nada, e percebe que ele também em nada ajudou quando rejeitava a ideia de ser pai. No início apenas arregalou os olhos. Depois passou a um estado de incredulidade diante do que ouvia, até chegar ao ponto em que pediu:
- Não se martirize mais e me perdoe por ter sido tão injusto com você. Eu dizia que não queria ter filhos, por você. Pensei que não poderia mais e não queria ter ilusões, nem tampouco causar decepções em você, caso disse que queria um filho. Eu vinha já pensando em formar uma família com você e como disse não menstruava mais, alegava não querer ser pai.
- Perdão, meu bem! Tudo o que eu quero é você. Case-se comigo e esqueçamos tudo, se possível.

...

Passados seis meses foram em lua de mel para o Rio de Janeiro. Visitaram o Cristo Redentor, numa manhã de domingo. Dia ensolarado, via-se toda a cidade. Lá embaixo a baia de Guanabara reinava esplêndida. O aterro do Flamengo aparecia resplandecente. No mar muitos barcos e iates ancorados. Do outro lado via-se a Urca e o Pão de Açúcar, com seus românticos bondinhos, indo e vindo. Já era o inicio da tarde quando voltaram do passeio e como a tarde estava quente pensaram em ir à Praia de Copacabana. Passaram no hotel para se trocar e Carol percebeu que sua carteira com documentos, o celular e dinheiro haviam sumido. Ela tinha sido roubada e não percebera.
Em consequência do transtorno passaram o resto da tarde numa delegacia do subúrbio, próxima do hotel onde estavam hospedados. Havia muita gente e poucos policiais de plantão. Ouviram, enquanto aguardavam, casos de estupro, roubo e assassinato. Era uma situação caótica e depressiva. Ele percebeu que seu drama era dos menores ali, afinal o dinheiro não era muito, todo o problema seriam seus cartões e celular. Com o boletim de ocorrência nas mãos poderia viajar e na volta providenciar seus documentos. Na segunda feira iria a uma agencia de seu banco cancelar os cartões e à operadora do seu celular para bloqueá-lo.
Estavam jantando quando o telefone de Pedro toca. Era o número de Carol. Resolveu atender pensando que alguém poderia tê-lo encontrado. Porém eram os ladrões agindo. Ameaçaram os dois de sequestro, caso não depositassem dez mil dólares em determinada conta. Tiveram acesso às mensagens de Carol e sabiam da viagem, do voo, do local da hospedagem e falaram até sobre os filhos dela.
Voltaram à delegacia e foram recomendados pelo delegado a trocar de hotel. Assim resolveram mudar aquela noite e no dia seguinte voltar para casa, em Florianópolis.
Dois dias ficaram envolvidos com o transtorno do roubo. Carol teve sorte por estar acompanhada de Pedro, caso contrário nem saberia o que fazer para voltar pra casa.
Os documentos demorariam uns dias para ficarem prontos. Os filhos de Carol foram orientados a mudar de números. Ligia, a filha de 28 anos, recém-casada fora a que ficou mais assustada com toda a história, já o irmão Alex que morava nos Estados Unidos, por conta de uma pós-graduação, fora avisado de tudo, mas parecera tranquilo.
Depois de tudo resolveram ir para o Águas Mornas Palace Hotel, no pequeno município de Águas Mornas que pertence à Grande Florianópolis. Lá é só campo, descanso e águas termais. O que mais queriam depois de tudo?
Instalados naquele paraíso perceberam que não precisavam ter ido tão longe para encontrar o que procuravam. Bastavam-se um ao outro e se entregaram ao encanto da paixão quando o telefone de Pedro tocou. Era um número do Rio de Janeiro... Esqueceram de trocar o número de Pedro.
Olharam um para o outro... atenderiam? Perguntaram-se com o olhar...


Fim do terceiro Capítulo

Mário Feijó
06.06.17


(E)NAMORADO



(E)NAMORADO

Eu sempre fui romântico e imaginara
Um amor como nos contos de fadas
Agora fico encantado com cada curva tua
Seja ela do teu peito ou do teu ventre

E me encanto mais ainda
Quando acordo com o cheiro de café
Com a casa varrida, o banheiro limpo
Tudo o que nunca fizeste e fazes para me agradar

E me descubro enamorado não mais por fadas
Mas pelos teus beijos com gosto de café fresco
E com teus abraços quando pela casa nos cruzamos
Como se estivéssemos passeando num campo em flor

Tudo é tão diferente do que sempre tive
Porém é o que mais se aproxima do que pensei
Sobre alguém me amando e sobre felicidade
Eu nunca, jamais pensei viver esta nossa forma de amor

Mário Feijó

06.06.17

sábado, 3 de junho de 2017

DEPOIS DA CHUVA




DEPOIS DA CHUVA

Na beira do riacho
As palmeiras dançam um balé
Sincronizadas balançam
Impulsionadas pela força do vento

Por detrás do vidro fumê
Eu me escondo de viventes
Que perdidos descem
E sobem a estrada asfaltada

Ontem as ruas eram cobertas por um lençol de água
Hoje úmidas refletem a luz do sol
Ainda encharcadas pela água
Do temporal que tudo alagara

O frio, o vento e a chuva
Fizeram com que minhas roupas
Grudassem em meu corpo molhado
Enquanto eu, feito um gato, me esticava no sol

Mário Feijó

03.06.17

terça-feira, 23 de maio de 2017

ENTRE O CHEIRO DE CAFÉ E O DE MARESIA




ENTRE O CHEIRO DE CAFÉ E O DE MARESIA

Sempre morei rodeado de mar. Eu mesmo já me senti uma ilha. Afinal de contas Florianópolis, cidade em que nasci, é uma ilha e eu morava no continente. Quando criança pensava que o resto do mundo era todo igual.
Pelas manhã ouvia o apito dos navios chegando na “Ponta do Leal”, onde havia o que chamávamos de “latões” da PETROBRAS, para descarregar óleo, gasolina, querosene e gás, derivados de petróleo.
Eu acordava todos os dias para ir pra aula com o cheiro do café fresco (que meu pai fazia) e o da maresia. Afinal eu morava a pouco mais de quinhentos metros do mar.
Cresci neste ambiente simples e gostoso. Sai pela primeira vez de casa para uma viagem ao Rio de Janeiro quando já tinha quase 22 anos. Fiquei encantado com aquela metrópole. Era tudo grandioso, movimentado, mas a geografia era muito parecida com a da minha terra. Chacoalhei durante 22 horas num ônibus convencional da “Autoviação Penha”. Que chic eu me senti.
Eu fui visitar minha tia Lourdes que morava há muito tempo no Rio de Janeiro. Sempre falou-se naquela cidade como algo maravilhoso. Até as músicas cantavam seus encantos. Não tínhamos televisão. O máximo que tínhamos eram os cartões postais. Uma beleza indescritível para um sonhador que vivia catando revistas e jornais velhos na rua (nunca inteiros, sempre uma única folha rasgada, mesmo assim eu lia).
A geografia das duas cidades, Rio de Janeiro e Florianópolis, eram muito parecidas: morros e muito mar no pé das montanhas. Para todos os lados que a gente olha é isto o que vemos. Além do mais o Rio de Janeiro também tem a sua ilha de Niterói bem na frente da cidade. As praias são tão belas, numa e noutra.
Meu primeiro choque com a geografia aconteceu quando viajei para o nordeste. Faltavam lá os morros para encantar a paisagem. Nunca vira o mar tão infinitamente grande e assustador, foi assim em Natal e Fortaleza.
Mais tarde, depois dos cinquenta anos, comecei a me aventurar pelos países da Bacia do Prata: Uruguai e Argentina. Lá também o horizonte é infinito e o mar grandioso. Só que o Oceano é o Pacífico e não o nosso Oceano Atlântico.
Neste momento, eu me recolho em minhas reflexões, percebendo o quão pequeno sou diante da grandeza e da força do mar ouvindo suas ondas batendo na frente da casa de minha amiga Maria da Graça. Aprendi a viver no litoral do Rio Grande do Sul sem reclamar das montanhas que faltam atrás do mar.
Volto à realidade ouvindo o chiado da chaleira fervendo onde minha amiga passa um café cheiroso que ameniza o gostoso cheiro de maresia, sem o qual não sei viver.
Minha memória sempre foi acentuada quando ouço ou vejo, e, sem ouvir o mar ou sentir o cheiro de café eu prefiro que “me tirem os tubos”, como dizia um personagem de Jô Soares quando acordava de um coma e se deparava com uma realidade estranha a que estava acostumado.

Mário Feijó
23.05.17


(Texto produzido na Oficina Literária Mário Feijó, nesta data) 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O MOTIVO DA TRISTEZA DE CAROL (segundo capítulo)



O MOTIVO DA TRISTEZA DE CAROL (segundo capítulo)

Jorge é um homem de 38 anos, 1,90m de altura, atleta, pesando 90 quilos, formado em administração de empresas e trabalha na Universidade Federal de Santa Catarina como professor de administração. É mestre em Recursos Humanos e professor adjunto no departamento de administração, do Centro Socioeconômico.
 Apaixonou-se por Carol quando ela quis fazer mestrado na área de Recursos Humanos e ele foi seu professor. Estão juntos há dois anos e meio. Para ele nunca pesou o fato de ela ser mais velha que ele. Nunca outros perceberam isto física ou emocionalmente.
A relação entre os dois sempre foi ótima. Eram sexualmente liberais, nunca moraram junto. Não havia ciúmes e cobranças entre eles e se encontravam duas ou três vezes por semana.
Ultimamente Carol vinha tocando muito repetidamente neste assunto, no qual Jorge não queria discutir. Sempre soubera que ele não queria ter filhos e ela insistentemente falava em ter mais um.
Ela sempre dissera a Jorge que não queria mais filhos. Tivera dois filhos antes, fruto do seu primeiro amor quanto tinha 15 e 17 anos. Portanto já se preparava para ser avó a qualquer hora.
Pensara estar na menopausa e começou a sentir coisas estranhas em seu corpo e resolvera ir ao médico que confirmara uma gravidez de 13 semanas. No início foi um choque, mas ela era contra o aborto. Totalmente contra. Não fora precavida pelo fato de que sua menstruação muito irregular passara a ser distante acontecendo no último ano somente três vezes. Seu médico lhe dissera que estava entrando na menopausa. Aí relaxou no contraceptivo.
Por isto tocara no assunto com Jorge, porque tinha medo de ser direta, e começaram a discutir e pouco se verem. Ela não falara pra ninguém sobre a gravidez sabida há pouco mais de um mês e no dia sete de maio, na semana que antecedia o dia das mães, ela tinha viajado a trabalho e no hotel tropeçara e caíra numa escada. Foi parar num hospital, teve toda a assistência, porém seu bebê não resistira ao tombo da mãe. Três horas depois o médico lhe informara que o bebê não sobreviveu. Sofrera tudo sozinha. Primeiro porque não conseguira contar a Pedro, e se ele não sabia para quê iria contar. Só depois iria decidir o que fazer. Ficara hospitalizada por dois dias e depois fora embora. Ela estava em Blumenau e pedira para sua colega de trabalho Cléia vir buscá-la como motorista. No caminho lhe contaria tudo. Agora não fazia mais sentido esconder de ninguém. Não só seu corpo estava machucado. Sua alma estava dolorida. O médico lhe dera um atestado de três dias e na empresa tudo ficaria por conta do tombo.
Jorge aparecera e a tratara com carinho. Ela não lhe contou nada... Agora não fazia mais sentido, era o que lhe parecia. E por mágoa resolvera por um fim no relacionamento. Colocou a culpa de seu drama todo na sua intransigência e não conseguia perdoá-lo. Sofriam ambos, pois eram apaixonados. Mas ela pensou que era melhor assim. Sofria agora duas vezes. Por seu grande amor e por seu filho que não vingara.
Refletiu sobre sua vida, desde o primeiro amor que acabara durando apenas sete anos. Ambos eram imaturos, mas valera, pois fora um amor tranquilo. E agora que tinha um grande amor não conseguia a paz e a tranquilidade quando se casara com Alexandre, pai de seus dois filhos e que se tornara um grande amigo.
No dia das mães e aniversário da avó ela tinha bastantes motivos para tamanha tristeza. Não contara a ninguém, além de Cléia, decidiria depois o que fazer com o fato. Primeiro iria se curar daquela dor. Por isto logo depois de comer uma pequena porção de peixe frito com pirão e camarões ensopados, saiu à francesa, sem ser vista. Dentro do carro desmoronou em prantos e com medo pegou o celular e ligou para Jorge.


Mário Feijó  - Fim do segundo capítulo

SIMPLES ASSIM



SIMPLES ASSIM

Eu simplesmente me calo
Diante da beleza da flores
Da energia do mar
Da luz do sol e do brilho do luar

Eu silencio diante do poder de Deus
Do riso de uma criança 
Do olhar carente dos nossos velhos
E me encanto com o sopro dos ventos 

Com a frescura das matas
Com a vitalidade dos rios
Que saciam os seres vivos

Eu simplesmente me calo
Diante do teu corpo 
Que por vezes apenas me aquece
E sempre me oferece muito amor


Mário Feijó
20.05.17

quarta-feira, 10 de maio de 2017

MINHA RESSURREIÇÃO





MINHA RESSURREIÇÃO

Havia sol nos meus dias
Mesmo quando neles chovia
Eu via a luz de felicidade
Nos verdes olhos de minha mãe

Ela era campo perfumado
E eu sentia o cheiro de alfazema
Que ela todos os dias exalava
Como se fossem tardes primaveris

Hoje ela é apenas brisa fresca
Nas lembranças que me sobraram
Porém ela está tão presente
Quanto quarenta anos atrás

Eu apenas me descobria homem
No dia em que me disseram:
“Tua mãe faleceu”
Só agora eu descubro que ainda estamos vivos

Mário Feijó

09.05.17

A TRISTEZA DE CAROL (conto) 1º. CAPITULO




A TRISTEZA DE CAROL (conto)

1º. CAPITULO

                Carol era uma mulher que por onde passava sempre chamava a atenção. Era bonita, dentes brancos, sorriso largo e arrasador, cabelos negros longos, porém seu perfume a precedia, anunciando sua chegada muito antes de sua presença. E, ao adentrar em qualquer ambiente o som da sua voz abafavam qualquer música ambiente.
Ex professora, acostumara-se a falar alto e ela perdera o bom senso, embora muitos já a tenham prevenido quanto a isto.
Toda a família havia combinado de se encontrar, em um restaurante, em Florianópolis, à beira da Lagoa da Conceição. Viria gente de todo lado.
O cheiro de maresia com certeza iria ameninar o perfume forte e adocicado daquela mulher. A família pensara que isto amenizaria seu protagonismo escolhendo um local público, ao ar livre, onde a brisa suave (geralmente causando frisson na pele) e o cheiro de frutos do mar sendo preparados abriria o apetite em todos naquele dia das mães. Ficara para trás a comidinha caseira comum na casa de vovó, todos os domingos, onde a maioria ia sempre, mas também ninguém precisaria lavar a louça daquela tropa toda. Com certeza sentirei falta do cheirinho do café Amélia que vovó agora usava, substituindo seu café produzido no quintal por tanto tempo, e que agora era substituído por um produzido na cidade.
Sobrinhos, netos, irmãos, primos, todos se fizeram presentes. Se faltou alguém eu não saberia dizer quem, pois havia ali quase cem pessoas.
Juntamos duas ocasiões: o dia das mães, no segundo domingo de maio e o aniversário de 100 anos de vovó que seria dia 17.
Carol veio silenciosa. Estava comedida naquele dia. Eu diria que tensa. Pouco falou. Sentou-se num canto, depois de ter cumprimentado vovó e alguns irmãos. Pouco comeu. Pouco falou. Nada bebeu e em determinado momento eu percebi uma lágrima que ela secara rapidamente. Seu atual companheiro não estava presente, porém aquele dia e hora não era o momento certo para uma investigação ou perguntas. Naquele dia não era Carol a protagonista, mas muitos ficaram de ti-ti-ti numa mesa ou outra. Ela comera rapidamente e disfarçadamente se afastou do restaurante. Soubemos mais tarde que havia “saído à francesa”.
A curiosidade aumentara entre os presente, e, todos tiveram que ficar quietos e esperar pela segunda-feira ou por notícias que seriam, certamente publicadas no Facebook. Sua vida sempre fora um livro aberto.
Certamente aquele era um dia feliz para a maioria, mas não foi o melhor dia na vida de Carol...


Mário Feijó
09.05.17



terça-feira, 9 de maio de 2017

O RETRATO (MÃE)


O RETRATO

Os raios de sol
Entram pela janela
E batem na moldura
Da foto sobre a mesa

Reproduz uma linda mulher
Com uma criança ao seio
O cabelo loiro resplandece luz

Os olhos verdes lembram o mar
Tudo remete à harmonia,
À beleza da criação
À vida e o seu desenrolar

Nada parece destoar
Em um quadro amoroso
Rembrandt poderia tê-lo pintado
Com seus pincéis mágicos

Porém nenhuma tinta
Revelaria a magia da Maternidade
Em toda a sua grandeza

Marlene Nahas
09.05.17
(Trabalho desenvolvido na Oficina Literária de Mário Feijó, nesta data)






http://www.recantodasletras.com.br/poesiascomemorativas/5994478

segunda-feira, 8 de maio de 2017

FLORES PARA IEMANJÁ




FLORES PARA IEMANJÁ

Ah! Eu quero olhar o horizonte
E me debruçar nas janelas
Imaginando como será
Lá distante, do outro lado do mundo

Virar a página de livro
E num piscar de olhos
Ver a lua cheia tocar seus lábios
Para beijar as ondas do mar... invejosa!

Olhava-nos à beira mar
Cheirando maresia, degustando ostras,
Siris e camarões enquanto no fundo
Um iate levava turistas aos mares do sul

Em nossos olhos o êxtase do amor
A lua apenas refletia o que sentiam os cidadãos
Da capital do estado que procuravam um descanso
E no feriado jogavam flores pra Iemanjá...

Mário Feijó

07.05.17

domingo, 7 de maio de 2017

RATOLÂNDIA BRASIL




RATOLÂNDIA BRASIL

Há muitos ratos
Ratinhos sem-vergonhas
Que passam por ratoeiras
Que não perdem seus rabos
Porém algumas vezes perdem
Somente os dedinhos

Há ratos com nome de gente:
Luiz, Dirceu, Antônio, Sérgio
Seria o ponto(pt) final deles?
Porém rato é rato, mesmo preso,
E se tiverem oportunidades irão roubar novamente

Mas o povo é o culpado quando faz escolhas
Há quem acredite que sejam “pais dos pobres”
Porem o que eles querem é enriquecer aos seus
E se manter no poder
Um poder que lhes dê poder de decisão
De administrar os recursos da nação
A seu bel prazer e interesse

E os ratos de estimação que aí estão
Sempre farão de tudo pelos seus, porque
Se classificam como seres honestos
Os mais honestos do mundo
Talvez por isto tenham perdido seus dedos
Colocando a mão em cumbuca errada

E depois de descobertos continuam roendo
Mais de 65 bilhões de dólares de uma empreiteira
Colocados à sua disposição.

Socorro! Socorro! Como tem gente cega
Como tem rato político rico
Gente até hoje nunca punida
Que se socorrem apelando ao santo protetor
(São Paulo Maluf)

E têm suas orações sempre atendidas, graças a Deus,
Seus catadores de bosta de elefante limpam tudo
Recolhendo tudo embaixo do tapete
Basta dizer “não sei de nada” e “não é meu”
Enquanto o país vai à bancarrota

Está na hora de construirmos mais cadeias
Em forma de ratoeira
Já que este é um país
Onde os ratos tanto prosperam...


Mário Feijó - 07.05.17

sábado, 6 de maio de 2017

MEMÓRIAS AFETIVAS



MEMÓRIAS AFETIVAS

Meus dias eram assim:

pela manhã


o cheiro do café moído na hora
em um pilão de madeira
que vovó torrava em seu fogão à lenha
era passado em um coador de pano
em um bule de barro (o café nunca queimava)
estava sempre quente e fresco
ao meio dia

Felicidade pegava o feijão que cozinhara
(era um caldo grosso e negro)
e fazia um pirão com ele
alguns chamam de feijão mexido
em cima espalhava uma gema de ovo crua
que o calor cozinhava
e deixava um sabor sem igual
se havia carne seca ou linguiça
(que eu às vezes comprava 100g)
eu nem lembro, até porque
só isto bastava para matar
a minha fome de ter Felicidade por perto
à noite

bem, à noite era inevitável
pulgas sob as cobertas
provavelmente heranças de Peri
um cão branco e velho
que eu nunca vira latir
talvez seja por isto
que hoje mesmo sem as pulgas
eu fique rolando na cama sem dormir
pensando em como fui feliz
quando morei com "Felicidade"
minha querida avó materna.


03.05.17

sobre o AMOR





Quando amamos alguém começamos tirando toda a roupa e aos poucos desnudamos toda a alma. Mário Feijó

SONHOS ADOLESCENTES (LASCÍVIA)




SONHOS ADOLESCENTES (LASCÍVIA)


ela era escorregadia
parecia não ter corpo
porém todas as noites
enfiava-se sob minhas cobertas
e mordia meu corpo
sugava meu sangue
mesmo em partes mais intimas
algumas vezes sem me deixar dormir
sonhava com ela: mulher
provocando em mim tesão
havia em minha adolescente excesso de tesão
hormônios à flor da pele
compreensível,
diriam alguns
libidinosos,
diriam outros
ao acordar eu percebia
que tudo aquilo era apenas um sonho
e colocava as cobertas ao sol
para catar as pulgas que me mordiam


Mário Feijó
04.05.17