CARTA A UM AMOR PERDIDO
Osório, 13 de junho de 2017
Querida Maria de Fátima
Eu lembro de ti, com 17 anos, sorriso frouxo, boca
deliciosamente fresca, beijo de jabuticaba madura, uma adolescente linda e
magricela, pela qual me apaixonei.
Houve uma
vez em que eu te beijei (foram poucas as vezes) e achei que tinha estourado na
minha boca uma jabuticaba madura, doce, fora muito doce aquele beijo. Foi algo
tão inusitado que eu nunca esqueci. Eu era um rapaz que tinha feito recentemente
20 anos e tinha passado no vestibular. Bobo, inexperiente, magricelo e
ridiculamente feio (era isto que eu pensava de mim).
Hoje eu
penso que terias sido meu amor da vida inteira. A vida embaralhou as nossas
vidas e eu te perdi por uma bobagem à toa eternamente. Nunca mais te vi. Nunca mais
tive notícias tuas, mesmo tendo te procurando depois dos meus términos de
casamentos, tanto depois do primeiro, quanto depois do segundo. Já haviam se
passado trinta e cinco anos daquele beijo. Ninguém te conhecia no lugar onde
antes moravas, nem souberam dar notícias sobre a família.
Hoje já
deves ter um pouco mais de sessenta anos e eu sinto saudades do que nunca
fomos. Sinto saudades de ti, como se fosse ontem. Penso: como será que tu
estás? Terás tido filhos? Netos? Será que casaste? Será que foste ou és feliz? Como
será que estás?
Tu bem
sabes que eu fui imatura em ter cedido aos avanços da Terezinha que corria e se
oferecia para mim como se fosse laranja madura, na beira da estrada. Eu não era
apaixonado por ela, mas não resisti à minha sexualidade que estava à flor da
pele e cedi aos encantos dela. Culpa minha, confesso, mas o que fazer? Eu era
bobo e inexperiente. Não fiquei com ela, mas por causa dela te perdi para todo
o sempre.
Eu casei,
descasei algumas vezes. Tive cinco filhos e tenho oito netos. Hoje vivo um
amor, que, para a nossa época seria proibido. Sou feliz, mas tenho uma saudade
infantil e juvenil do teu riso e dos teus beijos. Escrevi um poema que está
publicado no meu livro de poemas PERMITA-SE! Cujo título é OS BEIJOS QUE EU NÃO
TE DEI, considero um de meus melhores poemas. Pensava em ti na hora da escrita.
Ria Fátima.
Você nunca envelheceu para mim e se hoje não és mais aquela menina risonha e
amorosa, deixe-me só com estas lembranças.
Querida Fátima,
hoje eu moro no Rio Grande do Sul, litoral, uma delícia. Tenho amigos adoráveis
como: Heloisa, Marlene, Silvania, Graça, Sandra, Bela, Egon, Lucimar, Regina e
tantos outros, e até um amor que te surpreenderia pela contemporaneidade.
Nossas praias litorâneas são lindas, apesar de extensas e ventosas, mas venha
passear por aqui qualquer dia. Quiçá fazer uma aula de literatura, piqueniques
na beira da lagoa ou até mesmo jogar cartas conosco.
Espero que
não me surpreendas sendo uma velha senhora amarga, gorda e desdentada por ter
um dia perdido um amor, que pensava não correspondido e te exilado da vida
porque meus sonhos libidinosos e juvenis contigo tornar-se-iam pesadelos. Ainda
és o meu conto de fadas num livro delicioso que me foi arrancado das mãos quando
eu estava prestes a ler o final.
Onde será
que vou te encontrar? Onde será que lerei a última página de nossa história
inacabada?
Mário
Feijó
P.S. exercício
da Oficina Literária Mário Feijó, onde os alunos fariam uma carta a um amor do
passado. Seja este amor fictício ou verdadeiro, convidando-o para visitar o autor
na cidade onde hoje reside.
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