Embaixo de um jacarandá magro, sem folhas, lembro-me de rapaz que eu era aos quinze anos. Estava eu sentado na Praça Pedro Osório, na cidade de Pelotas-RS. Linda cidade, majestosa praça, mas não pude deixar de pensar na pessoa que eu era na minha adolescência e a comparação com o pequeno e fino jacarandá. Pobre jacarandá, escondido entre tantos arbustos, talvez ele não se desenvolva pela sombra a que é submetido pelas outras tão majestosas árvores.
A praça se situa bem à frente da Prefeitura e da Bibliotheca Pública Pelotense. Prédios antigos, belíssimos. A biblioteca completa 135 anos este ano. E eu ali perdido numa cidade até então desconhecida pra mim. Já tinha ouvido falar, já tinha visto reportagens da cidade, mas estar lá foi a primeira vez. E eu ali esperando a biblioteca abrir para participar do Sarau Poético a que tinha sido convidado. O que fazer? Fiquei passeando pela praça. Observando as pessoas e escrevendo.
Sentei em um banco molhado e pus-me a apreciar os nativos passantes. Eram estudantes saindo da escola; trabalhadores que corriam apressados para casa ou para estudos noturnos. Outros, talvez, iguais a mim, passantes somente.
De uns eu escutava trechos de conversas, frases que ficavam sem sentido, numa mistura bucólica ao gorjear dos pássaros que em alarido de final de tarde disputavam um galho para dormir. Mudos e observadores, somente eu e as estátuas de cavaleiros empinados em seus cavalos e belas damas, paralisadas em um chafariz no meio da praça.
Fiquei ali, quase duas horas, embevecido pelo clima do lugar observando o cair da tarde, num quase inicio de noite que parecia ia ser chuvosa, o que acabou não acontecendo. E quando passava por um arbusto de “pata-de-vaca rosa” uma rajada de vento jogou sobre a minha cabeça inúmeras flores rosa e branco, como se me dessem boas-vindas à cidade.
Agradeci à natureza pela recepção e fechei meu caderno com um sorriso nos lábios.
No centro da biblioteca de 135 anos convidados para o V Sarau Poético Musical estava Maurício Raupp Martins que nos encantou com uma maravilhosa explanação sobre Pablo Neruda. Junto comigo na mesa Duda Keiber; Valder Valeirão e Victor Hugo Guimarãe Rodrigues. Abrilhantando musicalmente a noite estava Vicente Botti, com sua voz maravilhosa. Foi uma noite encantadora e inesquecível...
Mário Feijó
30.09.10