REZEM POR MIM... (Conto)
Marido morto, sendo velado na
sala. Ela inconsolável entra no Facebook e pede “rezem por mim”, enquanto
retocava o batom vermelho.
Preciso de muita oração para que
até sexta feira eu esteja bem para poder dançar. Infelizmente ele morreu, mas
eu estou viva, pensava ela enquanto pedia orações pra si.
Ela nunca acreditou muito em outra
vida. Mas pensava em orações pra si, não para o falecido. Ela queria estar bem
para não faltar ao bailinho já marcado há meses. Sabia que lá, seria o centro
das atenções, e todos iriam consolá-la. Agora ela até já poderia ceder,
discretamente, aos encantos dos cortejadores.
Puxa com tantas datas para morrer.
Ele tinha exatamente uma semana antes do bailinho! Não, eu não posso faltar. Pensava
ela retocando o batom vermelho, dentro de um vestido estampado. Eu não vou
colocar um vestido preto. Valdo sabia que eu era alegre, expansiva e que
gostava de roupas coloridas, prefiro agradá-lo...
Ele sempre fora um marido
submisso. Ela sempre uma luz de farol acesso. Via-se ao longe. E sempre atraia
marinheiros, muitos marinheiros.
Tereza era assim. Um tipo meio cigano.
Muitos brincos, colares, balangandãs. E não seria nesta hora que ela abriria
mão de suas excentricidades. Sei lá se a vida continua mesmo. E eu não vou
desperdiçá-la sofrendo, dizia.
Voltemos às mensagens do Facebook
de Tereza que informava o horário do enterro e que o velório já estava
acontecendo.
Rezem por mim... escrevia ela a
cada curtida na nota de falecimento...
Mário Feijó
23.01.15
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