sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

REZEM POR MIM... (Conto)

REZEM POR MIM... (Conto)

Marido morto, sendo velado na sala. Ela inconsolável entra no Facebook e pede “rezem por mim”, enquanto retocava o batom vermelho.
Preciso de muita oração para que até sexta feira eu esteja bem para poder dançar. Infelizmente ele morreu, mas eu estou viva, pensava ela enquanto pedia orações pra si.
Ela nunca acreditou muito em outra vida. Mas pensava em orações pra si, não para o falecido. Ela queria estar bem para não faltar ao bailinho já marcado há meses. Sabia que lá, seria o centro das atenções, e todos iriam consolá-la. Agora ela até já poderia ceder, discretamente, aos encantos dos cortejadores.
Puxa com tantas datas para morrer. Ele tinha exatamente uma semana antes do bailinho! Não, eu não posso faltar. Pensava ela retocando o batom vermelho, dentro de um vestido estampado. Eu não vou colocar um vestido preto. Valdo sabia que eu era alegre, expansiva e que gostava de roupas coloridas, prefiro agradá-lo...
Ele sempre fora um marido submisso. Ela sempre uma luz de farol acesso. Via-se ao longe. E sempre atraia marinheiros, muitos marinheiros.
Tereza era assim. Um tipo meio cigano. Muitos brincos, colares, balangandãs. E não seria nesta hora que ela abriria mão de suas excentricidades. Sei lá se a vida continua mesmo. E eu não vou desperdiçá-la sofrendo, dizia.
Voltemos às mensagens do Facebook de Tereza que informava o horário do enterro e que o velório já estava acontecendo.
Rezem por mim... escrevia ela a cada curtida na nota de falecimento...

Mário Feijó

23.01.15

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