SAUDADES DO ONTEM
Ah! Eu tenho me
questionado muito nos últimos tempos. Tenho medo da vida, dos riscos que corro,
do meu dia a dia, da solidão, do desamor, entre tantos outros. Eu penso que
estou até com medo de amar.
Você já viu
como andam os seres humanos? Ninguém mais se entende, ninguém mais estende as
mãos. Ontem eu cheguei perto de uma senhora e disse: oi. Ela levou um tremendo
susto. Ontem também estávamos fazendo um sarau e resolvemos distribuir a Antologia
organizada pelo grupo gratuitamente para a plateia e uma senhora rejeitou. Eu
tornei público o gesto, dizendo que estava triste, pois mesmo doando as pessoas
rejeitavam um livro. Ao que ela no final veio se desculpar dizendo que pensou
que estávamos vendendo... mesmo assim... foi desagradável.
Outro dia
encontrei um ex-colega de escola cuja irmã foi minha colega e depois acabou se
tornando minha aluna (acho que parou de estudar e quando voltou a fazê-lo eu
era o professor de uma das matérias). Eu cumprimentei o rapaz e ele pareceu não
me reconhecer. Então eu tentei reavivar a sua memória só para manter contato. O
cara na maior grossura me perguntou:
“- O que é? És candidato?”
Dei meia volta e fui embora
desiludido.
Este fato já aconteceu há mais
de quinze anos e ainda me faz pensar sobre como andam as pessoas: distantes e
frias.
Quando penso nisto eu reflito
que moramos em um pais de origem latina – somos “calientes” – e a solidão e a falta
de calor humano machucam. Não é à toa que alguns estados brasileiros, como Alagoas
apresentam altos índices de suicídio, tal como países como Suécia e Japão. O
Brasil, hoje, é o 11º. Colocado na taxa de suicídios no mundo.
Estamos nos isolando. Todos têm
medo e alguns até se arriscam pela internet em novos relacionamentos, mas está
faltando o cara a cara, o calor de apertos de mão, dos abraços...
A vida não é fácil, mas como era
bom cuidar de um quintal, botar os pés no chão ou dentro de riachos, comer
frutas direto das árvores... ai que saudade...
Mário Feijó
21.07.12
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