VOCÊ ESTÁ
FELIZ COM O MUNDO EM QUE VIVE?
Eu sonhei que estava voltando aos
bancos da universidade para fazer vestibular. Quando passava por meus colegas
não era reconhecido. Além deles a cidade
estava cheia de gente estranha. É mais ou menos o quadro com que a gente se
defronta quando passeia por Florianópolis. É a mesma situação, dizem os que
conheço, quando voltam depois de algum tempo à terra natal.
Na época que eu era mais jovem a cidade era pequena e pacata e parecia
que todos se conheciam. Dormia-se até com as janelas abertas, nas noites mais
quentes.
Bem, voltando ao sonho. Quando eu entrei na sala de aula vi minha
amiga Elza, com seu filho que também faria o vestibular. Eu não concebia que
ela já tivesse um filho adulto, quanto mais fazendo o vestibular (isto no
sonho). Mas o pior mesmo era não ser reconhecido pelos colegas, e eu era muito
popular, dava-me com todos. Passei por Cida (Maria Aparecida) e ela fez de
conta que não me conhecia, isto ela fez também nas redes sociais – não me
adicionou no facebook e ainda me bloqueou –. Talvez tenha ficado chateada por
eu trata-la como sempre e a tenha chamado de cachorra, mas eu tinha intimidade
com ela. Acho que isto se perdeu. Resolvi me queixar à Elza que intercedeu por
mim.
O mundo mudou demais. Isto não é saudosismo, tampouco uma reclamação.
Mas mesmo vivendo com dificuldades tudo era mais simples e fácil. Eu sou mais
feliz hoje, mesmo diante de muitas perdas, mas tudo mudou muito, principalmente
quanto ao assunto poluição, alimentação – hoje muito industrializada – as
tecnologias evoluíram e os relacionamentos pessoais pioraram.
As pessoas se virtualizaram. Fala-se, hoje em dia, com a pessoa que
está ao lado, via rede social. Cria-se uma redoma ao redor do ‘SER’ e passa-se
a viver no mundo virtual. Eu conheço gente que não “come” mais ninguém. Suas experiências
sexuais são todas via internet.
Aonde foram parar aquelas tardes embaixo das árvores frutíferas,
comendo a fruta direto do pé e a turma rindo e dizendo piadas? As piadas agora
são com as pessoas que saem dos padrões. Ninguém mais lê Machado de Assis,
Érico Veríssimo, José de Alencar. Os textos que aparecem na internet (muitos
deles lindos) são de A.D. (autor desconhecido) e D. A. (desconheço a autoria)
ou então qualquer um escreve mas como não tem coragem de se expor coloca o nome
da Martha Medeiros e do Luís Fernando Veríssimo, autores em voga.
Minha felicidade vai muito além. Eu continuo dependente de abraços, de
beijos, de amor. Alguns o substituíram por drogas como álcool, crack, e
cocaína. Eu posso me sentir mais completo, mais feliz, mas não deixei de amar
meus amigos vem de querer falar com eles. Vou contar então um segredo: algumas
amigas de faculdade, depois que casaram pararam de falar comigo “porque os
maridos não gostavam destes amigos”. Eu me sentia meio doente com isto. Parecia
que tinha uma doença contagiosa. Algumas nem sorriam mais para mim. Hoje eu
penso que elas é que estavam doentes. Feito o mundo que deveria evoluir, mas no
aspecto relacionamento “involuiu”.
E lá fui eu, navegando num mar de emoções, prestar mais um vestibular (agora
em sonho).
Nestas alturas da vida, estou descobrindo novas formas de fazer meu
antigo “eu” sobreviver no mundo atual.
Mário Feijó
09.04.13
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