A LOUCA QUE
EU AMEI
Minhas duas avós eram o oposto uma da outra. Uma era branca, a outra
negra. Uma era louca, a outra parecia uma santa. Ambas eram lindas e eu as
amava. Cada uma de um modo diferente.
É incrível como podemos amar a alguém sem nunca dizer-lhe isto. Eu nunca
disse nem a uma e nem à outra, tampouco elas me disseram. Há um tempo atrás as
pessoas não falavam muito de amor, tampouco diziam EU TE AMO.
Minha avó Angelina era uma idosa completamente envelhecida, enrugada, alvíssima,
sem nenhuma vaidade com uns olhos que pareciam o céu, de tão azuis. Nada é
perfeito e desde que eu me lembro por gente ela era senil. Na época dizíamos louca...
eu nunca soube se ela sempre fora assim ou tinha ficado com a idade. Nos
padrões atuais ela nem era tão velha assim. Minha tia Lourdes hoje faz 84 anos
e tem a aparência mais jovem que a que tinha minha avó com 77 anos, quando
morreu.
Já minha avó materna era diferente. Era gordinha, mulata, olhos verdes,
cheirosa, gostosa e dava vontade de ficar abraçado nela a todo momento. Sempre foi
uma benção tê-la por perto e ela me fazia feliz, não só por ser Felicidade o seu
nome, mas porque ela era um anjo na minha vida.
Eu não sei os motivos que me levaram a amar estas duas mulheres tão
diferentes uma da outra. Não sei se foi a minha responsabilidade social para
com elas, desde criança, ou se a razão era simples e biológica.
Hoje eu reflito sobre isto. Reflito sobre nossas convivências e sobre a
convivência que tenho com meus netos. Os nossos laços com os avós era mais forte.
Eu também me lembro de meus avôs, mas minha interação com eles nunca foi muito
relevante e ambos morreram quando eu ainda era uma criança. Tinha menos de 12
anos nos dois casos.
Vale à pena lembrar o forte amor que tive por meus avós.
O mundo mudou e hoje eu não sei se as crianças amam e respeitam os mais
velhos como as crianças do meu tempo. Mas sempre houve e há um conflito de
gerações em qualquer época da civilização...
Mário Feijó
12.04.13
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