UMA PÁSCOA DIFERENTE
Sempre fui um apaixonado por animais. Quando criança tínhamos
galinhas, patos e marrecos no quintal ou embaixo da casa. Sim! Morávamos em uma
casa de madeira erguida por pilares de pedra. Isto permitia que os animais,
criados com o objetivo de produzir ovos e nos finais de semana rendesse um
almoço.
Nesta época
eu não chegava a me apegar aos bichinhos porque entendia que aquela era a
função deles: nos alimentar. No entanto era encantador ver os pintinhos e
patinhos recém-descascados. Nunca vi coisa mais linda que filhotes de animais. Todos
os filhotes são lindos e encantadores, desde os bichos até os filhotes humanos.
Nesta época
eu também descobri minha paixão por peixes e plantas. E planta pra mim vai de
um pequenino cactos a uma enorme figueira.
Meus primeiros
peixinhos eu os criava dentro de uma panela velha de barro, com plantas
aquáticas. Assim os gatos da vizinhança não os comiam, nem eles pulavam pra
fora.
Um dia
quando eu já era adolescente e mantinha um aquário, daqueles redondos de vidro
e o colocava em cima da geladeira, ao lavá-lo e colocá-lo no lugar deixei que
escorregasse e tentei segurar, mas bateu na geladeira e quebrou em muitos pedaços
cortando os dois braços e pulsos. Acho que foi minha primeira morte. Já disseram
que tenho vida de gato.
Em 1990
sofri um acidente de carro que resultou em perda total do veículo. Eu havia
capotado três vezes e caído num precipício de vinte e três metros. Perdi mais
uma vida...
No natal de
2011 sofri um novo acidente, o carro saiu da estrada e bateu em uma árvore. Resultado:
minha companheira morreu. Eu quebrei seis costelas, duas vertebras, dois
pulmões perfurados e estava com a minha esperança despedaçada. Consegui me
recuperar e penso que não foi ainda desta vez. Devo ter missões ainda por cumprir
nesta vida.
Mas não foi
pra falar de minhas mortes que eu resolvi escrever este texto. Eu queria falar
do meu amor pelos bichos e de minha recente paixão por gatos. Eu também percebi
que eles começaram a se aproximar de mim, a me proteger, se é que isto é
possível (solidariedade entre gatos, talvez...).
Descobri com
isto que o amor por gatos é igual a amendoim, você começa a comer e não para. Eu
pensava que podia começar a criar um gatinho e eles estão entrando em minha
vida aos montes. Hoje mesmo havia dois correndo pela casa e saltitando na minha
cama. Eu nunca permiti isto a bicho nenhum. Nem aos cães que já tivemos. Agora fico
encantando quando eles vem e se aninham nas minhas costas e pernas. E, onde eu
vou pela casa eles me seguem, se eu paro, se deitam sobre meus pés. É inexplicável,
quase mágico.
Gatos não
nos obedecem, mas eles se comunicam com o olhar e penso que por telepatia. Eu sinto
isto e percebo que entendem.
Outro dia
eu parei na rua para conversar com uma amiga e do meio do mato saiu um gato que
veio se enroscar na minha perna. Todo este clima surgiu há pouco mais de seis
meses e eu não consigo achar explicações.
Certamente que
posso morrer amanhã ou depois, nunca sabemos a nossa hora. Tampouco eu posso
garantir que tenha mais quatro vidas ou que já não as tenha perdido pela vida
afora. O certo é que não sou gato...
Há um
encantamento mágico nos animais. Alguns até podem ser anjos disfarçados como
são os pássaros que já têm as asas.
Agora com a
páscoa se aproximando eu penso que os gatos deveriam ter uma função nela. Acho-os
mais representantes que os coelhos – nada contra os coelhinhos, que nem ovos
botam, mas os gatos dizem alguma coisa, seja com o olhar, seja com a
independência ou até com a escolha que fazem do dono e do lar. Isto não
acontece com os coelhos.
Pensei em reivindicar uma páscoa de gatos. Uma
cesta de gatos. Ovos de gatos, só para ter uma páscoa diferente, quem sabe...
Mário Feijó
(13.03.13)
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