Fazia uma
tarde brilhante. Dessas que parece ter Tia Lourdes passado saponáceo no sol, de
tão reluzente que ele se fazia.
Tia Lourdes
era dessas mulheres que mesmo com oitenta e tantos anos se achava na obrigação
de tudo limpar, e de tudo arear... talvez até o sol ela areasse, pensava eu.
Tia Lourdes
era uma daquelas idosas que mesmo alquebrada pela idade sempre me parecia uma
adolescente. Seus cabelos eram tão brancos que de tão brancos eu tinha a
impressão de que ela lavava com sabão em pó para clareá-los, como fazia com as
roupas. E os seus olhos então. Os seus olhos eram tão azuis, como os olhos do
céu naquela tarde. Não havia uma nuvem nele. Ela era pra mim o protótipo de
todos os seres que já passaram pela minha família, desde os meus pais aos meus
avós, maternos e paternos, e meus irmãos e tios.
Tia Lordes
era uma mulher linda, desde a juventude. Eu comparava sua beleza a beleza da
Virgem Maria que ela tanto venerava na igreja que ia.
Eu lembro que
na casa de tia Lourdes haviam chinelos para andar dentro de casa, chinelos para
andar na área cimentada e com pisos e chinelos para andar no quintal. E o quintal
era uma beleza. Lá haviam muitas frutas e flores e as flores que eu mais
gostava no quintal de Tia Lourdes eram os lírios e os copos-de-leite. Mas as orquídeas
também causavam inveja aos transeuntes. E naquele quintal “o que se plantava
dava”.
Há alguns
anos eu chupei bergamotas e resolvi jogar as sementes num canto, agora quando
vou visitá-la no mês de maio há sempre bergamotas (tangerina ou mexerica, como
chamam alguns).
Algumas vezes
eu penso que por ela limpar tudo, até o céu do quintal da Tia Lourdes é mais
limpos e quiçá seja por isto que os copos-de-leite e os lírios do seu quintal
sejam tão brancos.
Agora que
minhas lembranças do passado brotaram como se fossem a nascente de um rio. Eu clareio
minha mente com o sol do quintal da Tia Lourdes.
Mário Feijó
03.04.12
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