Larissa era uma
menina tão doce que parecia haver mel nos seus abraços. Outro dia ela “descabelada”
veio em minha direção e eu lhe disse:
- Larissa, ainda não penteaste o
cabelo? Ao que ela me respondeu:
- É que você é muito mais
importante pra mim, vô. Então eu vim primeiro te dar um beijo.
Ela me desarmou com isto.
Larissa não quer ler! Larissa
não quer estudar. Larissa nunca tem deveres. Larissa só gosta de se balançar na
rede como se estivesse pendurada num balanço amarrado embaixo de uma árvore. E Larissa
balança tanto que já destruiu oito fones de ouvido do seu celular que ela
rebenta na rede. Ela nem quer créditos no celular, basta escutar músicas.
Algumas vezes eu ficava preocupado
pensando que ela não tinha inteligência para os estudos, mas outro dia estávamos
viajando e para passar o tempo brincamos de jogo de perguntas e adivinhação e
Lara, sua irmã, onze meses mais velha, sempre metida à sabichona e que em
algumas horas chama a Larissa de burra desistiu do jogo porque a Larissa
respondia questões gerais, de história, geografia e matemática, mais rápido e
certo que ela. Antes do final da viagem a Lara tinha um bico maior que um
tucano e a Larissa um sorriso enorme no rosto.
Passei a lhe dar mais crédito e
a fazer a irmã respeitá-la mais. Agora a Larissa balança na rede os seus
cabelos lisos e despenteados à vontade e eu não exijo tanto dela os deveres. Afinal
eu também era assim “meio infantil”, conforme definição dela própria, e eu
acabei conquistando o respeito das pessoas como profissional liberal, professor
e escritor.
Quanto ao futuro de Larissa eu
não sei, pois não consigo fazer previsões, mas estou deixando-a usufruir da
inocente criança que conscientemente ela cultiva na idade certa.
Mário Feijó
05.04.10
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