No espelho da sala eu descubro a
minha viuvez. Sim ela estava patente na pele alva que o sol daquele ano, ainda
não havia tocado. Todo o meu corpo escondia-se nos prantos que eu derramava por
ti e eu definhava na dor da tua não presença.
Mas o espelho era cruel e parecia
me chamar para dentro dele ao teu encontro, como se me oferecesse os abraços
que eu precisava. No entanto havia em mim um resto de anos que teimava por
existir. Eu nem sabia se por carma ou por teimosia mesmo.
E foi então que eu comecei a ficar
indignado. É verdade, indignado mesmo. Algumas vezes reagimos e vivemos por
indignação. Visto que viver por viver é simplesmente morrer aos poucos.
Eu bem que podia ter morrido. Pensava
que já tinha cumprido tudo na vida, mas eu não tinha experimentado viver por
indignação.
Há pessoas que tecem a morte e
para desgosto destas eu sobrevivo.
Agora vivo para agradar aos peixes
e às plantas. Eu sobrevivo para agradar as rosas que morriam sem mim e até as
sempre-vivas que pareciam desesperadas. Mas
eu também sobrevivo para arrancar ervas daninhas, para ver as joaninhas passeando
por meu jardim que não tem sapos, como no jardim de Yara que mora do outro lado
do mapa.
Eu sei que cada canto do mundo tem
a sua diversidade e no meu jardim há um universo encantado. Há nele duendes e
um pote de ouro que o arco-íris esconde na poupança. Pobre coitado, tão
avarento, jamais desconfiou que eu quero sentimentos, como amor, solidariedade,
paixão, não miseráveis moedas empilhadas, umas em cima das outras. Isto é com
Judas que vendeu seu amigo por um punhado delas. Eu quero apenas vida, no
sentido mais visceral da palavra.
Por isto o espelho não me chama
mais...
Mário Feijó
09.04.12
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