ALIMENTADA COM SERRAGEM ELA NASCEU CARA DE PAU
Desde criança
ela sempre foi tão bonitinha. Todos diziam que ela era um amor. Pudera! A mãe
tivera desejos na gravidez e comera serragem. Além de bela teve cara de pau.
Ainda ontem, a
menina, agora mulher contava que a mãe tinha ciúmes dela. Queria chamar atenção
só pra si e disputava espaço com a filha, mas a menina com sua cara de pau
superara o quesito.
Sempre chamara
a atenção para si. Tinha que se superar, disputava com a mãe a atenção dos
outros. Contava piadas, fazia brincadeiras e fazia língua pra todo mundo.
Ela dizia que
não sabia o motivo pelo qual a mãe parecia lhe odiar, porém na aula de
hidroginástica ela contou, para todos os colegas, que seu pai tinha uma fábrica
de móveis e quando a mãe engravidou teve desejos de comer serragem. Por pouco
não se tornou Pinóquio. Cara de pau: da mãe e da filha.
Agora, já na
terceira idade, ela toda floral, maiô colorido, brincos combinando faz questão
de pegar os espaguetes da mesma cor do acessório de banho, para fazer seus
exercícios.
Feito perereca
na lagoa ela coaxa piadas nas aulas, feliz, visto que nos últimos tempos
perdeu mais de vinte quilos e porque a mãe (morta há muito tempo) não havia
compreendido que ela tinha cara de pau porque a mãe comera serragem quando ela
estava em seu ventre.
Esta parece uma
história ficcional, mas é tão verdadeira quanto sua personagem que aqui omiti
os créditos devido aos direitos autorais que a própria quererá cobrar: cara de
pau, lembra?
No entanto para
que não tenhamos dúvidas sobre quem falamos ela sempre se veste com uma capa
verde invisível, tipo mulher maravilha e mergulha na piscina de uma “Piccola
Casa”. Sempre que pode ela salienta que não abre mão da felicidade. Tristezas
ficam escondidas sobre o manto da capa verde desde o dia em que casou com
aquele ogro poeta.
Mulheres assim
tinham que ser clonadas, reproduzidas aos montes, mesmo quando os maridos
implicam com suas alegrias porque elas não deixam a tristeza entrar pela porta.
Assim é nossa
cara de pau que não se deixa afundar porque sua estrutura é toda em madeira de
lei.
Mário Feijó
12.02.15