É NATAL E VOCÊ NÃO VEM
Todos os meus anos de criança eu
esperava os natais, como quem espera algo encantado. Eu acreditava em Papai Noel
e penso que ele também acreditava em mim, porque não me decepcionava. Eu pedia
presentes e ele me dava. Mas na época eu também pedia pequenas coisas. Eu nunca
fui exagerado com meus pedidos, nem com Papai Noel, nem com a vida. E na
véspera do natal eu cortava grama e colocava num pratinho para as renas
comerem.
Eu acreditava nele e ele
acreditava em mim, havia reciprocidade de sentimentos entre nós. E como já
disse, meus pedidos eram simples. Nunca pedi uma bicicleta, por exemplo, talvez
por isto eu seja a única pessoa neste mundo civilizado que não sabe andar de bicicleta.
A minha inocência tornava a vida
mais simples de ser vivida. Tínhamos pouco e havia saúde. Pelo menos eu pensava
assim naquele tempo.
Eu nunca soube ao certo quando
Papai Noel saiu da minha vida, mas a vida adulta sem ele foi muito difícil. Perdi
a inocência, perdi o amigo. Agora chegam os natais e ele não vem mais. Minhas gramas
ficaram todas secas nos pratos. Será que as renas morreram com fome? Ou morreram
apenas dentro de mim?
Eu continuo tocando a vida sem
muitos dos que já se foram, feito Papai Noel porque tenho que viver da
realidade e, meu corpo cada vez mais frágil e alquebrado sofre dores nos ossos
e na alma que desiludida frequentemente ameaça me abandonar. Caminho para transformar
a minha existência, também numa fantasia.
De que me adianta ter natais se Papai
Noel foi embora da minha vida? Agora nem ele, nem aqueles que por aqui ainda
ficaram batem mais na minha porta. Restou-me aprender a conviver comigo e ser
feliz com o que tenho.
Mário Feijó
14.12.14
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