terça-feira, 26 de maio de 2015

EXPLICANDO A SAUDADE

EXPLICANDO A SAUDADE

Saudade a gente tem
Daquilo que não mais tem...

De alguém que morreu
Sentimos saudade...

De alguém que está ausente
Sentimos falta...

Do passado
Sentimos saudade
Porque passado não volta...

De momentos vividos
Sentimos falta
Porque podemos
Vivê-los novamente...

Saudade é assim
Um vazio sem explicação
De algo que não dá para recuperar
De alguém que não podemos ver
Daquilo que não podemos mais ser
Como nossos momentos de criança
Como da vida que um dia tivemos
Com nossos pais e avós
Isto é saudade
Algo que não volta mais...

Mário Feijó
26.05.15




segunda-feira, 25 de maio de 2015

OLHAR QUE SEDUZ

OLHAR QUE SEDUZ

A poesia
gosta de entrar em nós
pelos sentidos...

Primeiro
Ela nos seduz o olhar
Fica dentro dos olhos
Repousada algumas vezes
Noutras desce em lágrimas
E mora nos pensamentos...

Há vezes
em que ela
é apenas cor
noutras se veste de saudades
e se ela soubesse o bem que faz
moraria eternamente no coração
ao invés de ficar correndo
dentro das nossas veias...

Mário Feijó

25.05.15

Ler

Ler

É comprar
Um passaporte
Com visto permanente
Para o mundo dos sonhos
E da fantasia...

Mário Feijó

25.05.15

domingo, 24 de maio de 2015

CONVERSANDO COM A LUA

CONVERSANDO COM A LUA

Ser um eterno menino
É uma licença poética
À qual me reservo o direito

Sou um menino do chão
Noutras vezes sou
Apenas um anjo sem asas
Tenho medo de alturas

Mesmo assim eu voo
Quando baixo o telhado do céu
Não quero desaparecer no infinito
Mesmo quando penso que sou finito

E como acredito na eternidade
Continuo menino
Correndo atrás do vento
Debruçado na janela
A conversar com a lua...

Mário Feijó

24.05.15

sábado, 23 de maio de 2015

LUA PURITANA

LUA PURITANA

E depois que a lua
Escondeu-se por entre nuvens
Veio você me abraçando
Abrindo seus lábios
Implorando beijos meus...

Não havia mais desculpas
E por detrás das nuvens
A lua, recuperada, sorria
Tinha um falso pudor no olhar,
Mas ela já deveria estar acostumada
Com o carinho dos enamorados...

Mário Feijó

23.05.15

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A MORTE DA DOCEIRA (suspense e terror)

A MORTE DA DOCEIRA

Alexandre adora Florianópolis, por isto naquelas férias resolvera pegar sua bicicleta e conhecer todas as praias ao redor da ilha, diziam ser 106.
A praia do morro das pedras era um encanto e tinha uma vista maravilhosa, ficava bem embaixo do Retiro de Padres e bem ali perto era a praia do Pântano do Sul. Ao passar por ali vê um senhor parado, com uma maleta nas mãos, olhar distante, parecia um poeta buscando inspirações. Foi até o homem e puxou conversa. Ele se chamava Antônio, era também gaúcho (feito ele), porém estava aposentado e morava na região.
- Sabia que bem aqui houve um crime recentemente?, disse-lhe Antônio.
- Não diga... Conte-me o que sabe, por favor...
- Bem, encontraram um corpo de mulher, em estado de decomposição, mas sem cabeça e completamente nu.
- Meu Deus, disse o rapaz.
- Faz poucos dias, e como estava chovendo muito, levou mais dias para ser descoberto. Agora, toda vez que eu passo por aqui fico lembrando disto e associo o cheiro do mar à podridão do corpo em decomposição que vi.
- Florianópolis tem o apelido de ILHA DA MAGIA, diz-se ser Terra de Bruxas. Teria sido um sacrifício? Perguntou Alexandre.
- Bem, o fato de ter chovido muito naqueles dias, associado ao fato de ter havido muita trovoada, com raios e trovões, fez o povo criar várias possibilidades, para este crime, ainda não resolvido, disse o professor.
E há muitos suspeitos? Perguntou Alexandre.
- Eu soube que a mulher era uma doceira jovem e viúva, que viera morar na região e que para sobreviver fazia salgados, doces e tortas que ficaram famosos por estes lados, no entanto tinha um romance com um pescador. Quando a história ficou séria ela fez ameaças aos filhos menores do homem e também de destruir sua família. O homem apavorado deve ter cometido o crime. É o que dizem por aqui. Se não foi isto, ninguém sabe o que pode ter acontecido. Mas o amante da doceira é o primeiro e mais implicado suspeito nesta história. Disse o professor, dando um suspiro.
- Sabe moço, falou Sr. Antonio, ainda lembro de uma torta de maracujá com chocolate que comprava no mercadinho, soube que era ela quem fazia. Dá água na boca lembrar aquilo.
- Infelizmente, isto não mais importa agora, não é meu senhor? Não vamos macular tão linda paisagem com tristes lembranças, falou Alexandre. Tenho que me ir. Foi um prazer conhecê-lo, estendeu a mão machucada, forte, áspera, mas machucada, contrastando com a mão macia do velho professor.
O rapaz pegou sua bicicleta e partiu. O homem ficou olhando aquele jovem e começou a se perguntar onde ele poderia ter machucado tanto assim suas mãos. Mas deixa pra lá, pensou Antônio e voltando a olhar o mar e as pedras que nele batiam com tanta força. Coisas da natureza, pensou.
Alexandre partiu pensando na noite daquela sexta feira quando passeava por ali, sozinho em sua bicicleta com o tempo se fechando e ameaçando chover. Reviveu novamente todo o horror que tinha sentido quando aquela mulher dele se aproximara tão sedutoramente, comportando-se feito uma vadia, embriagada, querendo com ele transar. Lembrava sua ex-namorada, sempre tão risonha, gostosa e que parecia lhe amar. Fugira com Fábio e dissera vir morar em Florianópolis, mas não era possível que fosse ela e diante disto, pensando na traidora empurrou a mulher que perdera o equilíbrio e caíra lá embaixo, entre as pedras. Alexandre fugira dali desesperado. Não sabia o que fazer. Foi então que parou no mercadinho do caminho, comprou uma faca de açougueiro e voltou a pé. Escondeu sua bicicleta no meio do mato e levou sua mochila, com a faca dentro.
No local, como não havia uma alma na rua e já era noite, resolvera descer entre as pedras e com a lanterna do celular, procurava o corpo da mulher. Encontrou-o. Tirou toda a roupa, que colocou na mochila. Examinando o corpo, viu que estava com o pescoço quebrado. Pegou a faca e separou-o do corpo. A mulher já estava morta mesmo, e parecia-se muito com sua ex. Colocou a cabeça na mochila, desceu até o mar e entrou na água. Era uma água gelada. Assustadoramente gelada, feito aquele corpo, feito a sua alma, feito o seu que agora tremia de frio e pavor. Pegou o blusão que estava separado, vestiu e foi em busca da bicicleta.
Não havia pensamentos na cabeça de Alexandre. Era uma mistura de sensações e sentimentos. Ele não conseguia raciocinar direito. Será que Marina o havia reconhecido e por isto tentara seduzi-lo? Era crime o que fizera ou fora legítima defesa? E agora que tinha a cabeça da mulher na mochila o que ia fazer?
Estava próximo à beira-mar que sai do túnel e que vinha para o aeroporto, mas ele não iria naquela direção, então procurou um lugar mais claro, e mesmo diante do horror que sentia retirou a cabeça da mulher da mochila. Era mesmo Marina. Sem saber o que fazer e diante de tantos desatinos já cometidos jogou a cabeça, enrolada nas roupas que tirara do corpo no riacho que havia ali perto.
Tinha medo. Continuava tremendo de frio e pavor, mas agora seguiria em frente. Não iria se entregar. Queria ir embora, mas ficara só para poder descobrir que pistas haviam. Agora que nada direcionava pra ele resolvera que não ficaria mais um minuto naquela terra tão bela, mas que iria continuar escondendo mais um segredo, além de todos os segredos que as bruxas escondiam por ali.

Mário Feijó – 19.05.15

sábado, 16 de maio de 2015

AMOR SEM RAZÃO

AMOR SEM RAZÃO

O amor prevalece
Onde ninguém tem razão
Onde ambos cedem
Onde ninguém sobrevive
Impondo-se ao outro

Primeiro porque ele acontece
Sem razão alguma
Onde algumas vezes
Basta um cheiro, um olhar

O amor sobrevive
Quando olhamos na mesma direção
E não tentando descobrir erros um do outro

Então o amor acaba sendo prioridade
E por ser prioritário há concessões, doação

O amor é assim: sem razão...

Mário Feijó

16.05.15

sexta-feira, 15 de maio de 2015

TARDE AGRADÁVEL (texto de construção coletiva)

TARDE AGRADÁVEL (texto de construção coletiva)

Era uma agradável tarde de outono. Tendo em vista o feriado que se emendou com o final de semana resolvi ir para o campo. Adoro perfumes, cheiros diferentes e gostosos. De repente abrindo a janela do carro vejo um campo florido, com flores lilases. O cheiro de lavanda invade minhas narinas.
Não poderia continuar sem parar, diante da sensação agradável que me envolveu. Lembrava-me os bons tempos em que eu e Larissa nos conhecemos. Foi amor à primeira vista.
Sai do carro e me sentei em cima de uma pedra. No entanto logo tive que sair correndo para o carro, pois atrás havia três cabras e um bode que ao me avistar, logo fez menção de atacar. Que raiva!! Tive que abortar meu deleite e procurar um outro locar para fazer meu passeio de final de tarde. (Mário Feijó).
Retornamos para o carro correndo o mais que podíamos, no início apavorados e em seguida rindo muito da situação. Eu dizia que eram bodes e Larissa me corrigia: são cabras cheirando à lavanda.
Não conseguia parar de rir e como bom fumante acendi um cigarro. Larissa, indignada disse pare com isto ou eu abro a porta e pulo deste carro.
- Estava tão bom o cheiro de lavanda e vem você com este vício estragar este perfume. Deste jeito prefiro voltar às cabras, pelo menos estarei perfumada.
Gritei, rindo:
- Isto já é preconceito contra os fumantes. (Heloisa Mascolo).
Seguimos por aquela estrada, na região da serra gaúcha, apreciando as paisagens agradáveis e ao longe uma pequena vila.
Eram casinhas pequeninas. Encantadoramente cuidadas, numa paisagem bucólicas. Haviam jasmins plantados e floridos e o cheiro de jasmim é algo que vai longe. Cheirinho marcante que lembrava paixão em mim, romântico inveterado e apaixonado por flores.
Parei o carro para buscar uma flor daquelas e a ofereci à Larissa. O cheiro invadiu o carro.
- Viu? Agora o perfume vai nos acompanhar, como você queria, no caso das lavandas. (Silvania Anderson)
Foi uma tarde inesquecível. Tantos aromas, tantas flores e paisagens, tantas lembranças revividas.
Reportei-me aos primeiros dias de nosso namoro que já vinha caindo na rotina e pensei que tinha que fazer mais isto. Mais passeios, mais brincadeiras, apreciar novas paisagens e fugir das cabras...
Lembrei que Larissa fugia de mim, quase como nós fugimos das cabras, no entanto ela acenava com a esperança de que eu poderia conquistá-la e foi o que aconteceu. Agora eu queria estar sempre ao seu lado, mas tinha que fazer algo para amenizar a rotina da relação.
No outono as noites são mais frias. Estava ficando tarde.
- Venha! Vamos entrar e tomar um café quente, disse-lhe eu sorrindo e dando um delicado beijo em seus lábios. (Marlene Nahas).
Voltamos para nossa casa. Acendemos a lareira e enquanto eu abria um vinho, trazido da serra, ela preparava um chimarrão e o calor do ambiente começava a nos envolver.
Vieram do campo algumas flores de jasmim que colocamos em vasos. Eu pensava que tinha sido um bobo em ficar com raiva do tal bode e de suas cabras.
Colocamos um filme na TV “meia noite em Paris e envolvidos pelo clima do filme, regados a vinho, enrolados um no outro, cobertos por uma manta, ficamos ali trocando juras de amor que terminou de forma romântica e muito agradável. (Mário Feijó).

Técnica


Texto produzido em aula. Primeiro cada participante sorteava um sentimento e um cheiro e tinha que inseri-lo em seu texto. Terminada a sua parte passava para o outro que continuava o texto do amigo inserindo as suas palavras até chegar de novo ao que iniciou a redação e que deveria por um fim à história que ele começou.  

quarta-feira, 13 de maio de 2015

VELHA HISTÓRIA DE AMOR


Um dia, eles adolescentes, encontraram os lábios um do outro. Havia culpa, pecado e desejo, porém estavam experimentando ser adultos. Há pouco eram crianças, mas os hormônios os impeliam a fazer o que a igreja e os “outros” diziam ser errado.
Como podia ser errado um beijo de amor? Então seria errado colocar comida dentro de uma panela para preparar o almoço?
Eram coisas naturais e normais – o beijo e a comida. A vida devia ser uma coisa natural feito o rio que nasce na montanha e que, quer queira ou não, encontra o mar. Coisas naturais. Os opostos que se atraem, base de uma mesma essência, feito ele com apenas 17 anos e ela com 15. Como poderia haver algo de sujo num beijo? Então era sujo comer uma fruta madura? Mas os lábios dela tinham gosto de jabuticaba madura colhida no pé.
Tanto fizeram que eles se separaram. Ele já casou algumas vezes e nos intervalos entre um amor e outro a procurou, mas ninguém sabia dela. Ninguém lembrava daquela família naquela rua. Da última vez que ele a procurou começou a imaginar que ela teria sido um anjo, ou até mesmo, um ser de outro planeta e desistiu de encontrá-la.
Pensando em colocar um ponto final na história e guardá-la dentro de um livro ele escreveu um poema que lembra os beijos que se perderam:

OS BEIJOS QUE EU NÃO TE DEI
Mário Feijó

Os beijos que eu não te dei
Fazem falta no meu acervo!
Eu penso que gosto eles teriam?
Seriam doces? Secos ou molhados?

Os beijos que eu não te dei
Fizeram-me pensar
Que eu fui imaturo, idiota
Que mal teria eu ter me permitido?

Os beijos que eu não dei
Ficaram com gosto de pecado
Tinham toques de minha inocência, hoje
perdida
E me deixaram na boca
Um sabor de frustração...

Os beijos que eu não te dei
Foram depois depositados em outras bocas
Que eu, feito colibri passei de flor em flor
Não tiveram marcas particulares...

Mesmo assim eu penso
Que gosto teriam
Os beijos que eu não te dei?


Mário Feijó

13.05.15

terça-feira, 12 de maio de 2015

DESCOBRINDO-SE

DESCOBRINDO-SE

Agora que você já aprendeu a me amar, não pense em me esquecer, não queira ir embora, nem tampouco sair da minha vida. Não pense em outras bocas, além da minha, não sinta desejos por outros corpos além do meu corpo.
E quando você estiver longe de mim lembre-se da felicidade que descobrimos e o quão íngreme é o caminho para chegar até ela.
Agora que você entrou na minha vida não fique distante, mesmo estando perto. Esteja perto, mesmo quando estiver longe.
Agora que você já descobriu que é fácil ser feliz seja egoísta: ame-se e me ame também. Todos os outros que dizem nos amar vão embora, menos quem se compromete com a felicidade.
Agora que você descobriu que os outros sempre te julgarão e dizer que estamos erramos, mesmo quando podemos estar certos. A maioria quer impor suas verdades. Descobrimos que somos donos de nossas vidas só quando envelhecemos. Algumas vezes é tarde demais. Então não tenha medo de amar. A felicidade assusta até a quem a vive e para os outros... Bem, vamos esquecer os outros um pouco...
Algumas vezes esquecemos que viemos nesta vida para aprender, para servir aos outros, aí nada aprendem, nem são felizes. Outros aprendem, mas se tornam prepotentes e esquecem de servir aos outros. Então não amam ninguém e tampouco conseguem ser felizes.
E há, ainda, os que só querem ser felizes. Aí tudo se torna efêmero e perdem tempo sendo infelizes...

Mário Feijó

12.05.15

segunda-feira, 11 de maio de 2015

NÃO NOS PREOCUPAMOS MAIS COM OS OUTROS

NÃO NOS PREOCUPAMOS MAIS COM OS OUTROS

O que diria o tempo
Se nos encontrasse assim
Épocas diferentes
Agarrados sempre?

O que diria o certo
Se nos visse assim
Bichos de raças diferentes
Distraídos no amor?

O que diria o vento
Se tentasse nos empurrar
Para bem longe
E nos encontrasse assim amando?

O que dirão os outros
Que esqueceram de amar
Vendo-nos assim
Amando de todas as formas?

Paramos de nos preocupar
Com o Tempo, com o Certo,
Com o Vento e com os Outros
Só para ter mais tempo pra nós...

Mário Feijó
11.05.15

domingo, 10 de maio de 2015

MÃE: mulher-fêmea HUMANA

MÃE: mulher-fêmea HUMANA

Um dia ela já foi
Apenas uma costela do homem
E se transformou no ser
Que foi capaz de amar
Incondicionalmente

Aí foi tomando conta
Da vida de todos nós
E passou a habitar o coração

Tornou-se mãe, mulher,
Companheira, amiga,
Aquela que se dá por sua cria
Que gera filhos para si
E que também é capaz
De gerar filhos para os outros

Aquelas que não se enquadram
Nos requisitos anteriores
São apenas fêmeas
Que pensam apenas em si
E como tudo e todos
Também erra, porém
Tem que ser perdoada
Porque ela também nasceu humana

Mário Feijó
10.05.15


sábado, 9 de maio de 2015

“ACHO QUE JÁ BEBI TODAS”

“ACHO QUE JÁ BEBI TODAS”

E foi assim
Declamando estes versos
Que ela cheia de graça
Leu um de seus poemas

Estava encantadora
Salto alto
Saia rodada
Cabelos penteados

Acho que já bebi todas
Veio depois de um clericot
Quando tudo já tinha terminado
E o grupo se reunia para comemorar

E tropeçando em palavras
E também nas pernas
Ela pediu mais uma
E deu uma umbigada
Passando para o próximo poeta
O direito de recitar um poema...

Mário Feijó

09.05.15

quinta-feira, 7 de maio de 2015

FELICIDADE CONSTANTE

FELICIDADE CONSTANTE

A felicidade pode ser constante
Tudo vai depender
Do quanto você esteja
Disposto a investir nela:

Felicidade toma tempo
                   Exige amor
                   Exige devoção
                   Necessita de doses diárias de carinho
                   Exige concessão e abnegação
                   Necessita de solidariedade
                   Necessita de companheirismo

Felicidade é assim mesmo:
                   Egoísta!
Ela só faz você feliz
Se você colaborar
Investindo nela:
Tempo, paciência, sentimentos

Isto depende também
Do quanto de amor
Você tenha para doar...

Mário Feijó

07.05.15 

METÁFORAS




METÁFORAS

Lido
Lida
Lindo
         Feito metamorfose
         Onde o gato vira tigre
         E devora a gatinha
         Que apenas ronronava
Vida
Linda
Finda
         Uma história
         Que começara serena
         Apenas com uma pluma ao vento
E termina com um tiro no peito
Tino
Timo
Primo
Apenas um destino
Apenas um sentimento
Lembranças de criança
Memórias de outra vida...

Mário Feijó

07.05.15 


quarta-feira, 6 de maio de 2015

SOL FORTE

Nos sulcos da terra
Minha face árida
Escorrem lágrimas
Um sorriso triste
Formam o leito do rio
Apenas um oásis
Num deserto árido
Mesmo assim eu te quero
Sol forte abrasador
Que assola a terra seca
Que não deixa brotar
As sementes plantadas...

No meio da noite
Gotas de orvalho
Aninham-se em folhas verdes
Para nervosas
Atirarem-se ao solo
Tão logo o sol apareça...

Mário Feijó

06.05.15

terça-feira, 5 de maio de 2015

CHEIRO DE FELICIDADE

CHEIRO DE FELICIDADE



É tão bom quando chega o domingo. Toda a família vem e se encontra na casa da vovó. Fico feliz em rever meus primos, tios e até os cachorros e gatos que trazem. A casa vira um sítio. Por sorte vovó mora no interior.
Fico com pena das goiabeiras, pitangueiras e araçás, que quando veem aquele bando de gente da cidade, ficam tremendo.
Essa gente não sabe as diferenças entre um porco e um cabrito. Eu até expliquei para meu primo de quatro anos que porco tem uma tomada no focinho e cabrito além de um saco ou tetas penduradas (iguais às de vaca) têm galhos.
O bode Barnabé de vovó é tão enfezado e não consegue admitir aquela urbanidade toda. Sai correndo atrás de um e outro toda hora. Vovó tinha um galo que fazia a mesma coisa e bicava todo mundo. Comemos ele no último natal, mas Barnabé, vovô não deixava.
Era bicho de estimação que o acompanhava pelas ruas, onde quer que ele fosse. Era muito manso, mas endoidava quando via seu território invadido.
Adoro ajudar vovó a socar café no pilão. Ficava um cheirinho que se espalhava pela casa inteira. Uma vez fiquei intrigado quando ela colocou uma menina negra dentro do pilão e batia com o socador levemente ao seu redor. Disse ela que era simpatia para curar “arca caída”. Neste instante ouvimos os gritos de três primos que entravam correndo pela casa. Eles tinham descoberto na goiabeira uma “cachopa” de marimbondos. O berreiro foi geral e virou assunto no resto do domingo.
Foi um dia das mães inesquecível. Penso que fiquei por lá faz mais de cinquenta anos. Vivo agora das lembranças e da felicidade daquele tempo que se estenderam por toda minha vida.

____________________________

05.05.15

segunda-feira, 4 de maio de 2015

TEMPERANDO A VIDA

TEMPERANDO A VIDA

Quando você suspira
Ou quando você respira
Parece que aspira a minha vida

Eu sinto que dentro mim
Nascem flores
Rejuvenesce o jardim da vida

E quando tu me beijas
Eu sinto mil colibris
Aspirando todos os meus polens

E neste momento
Eu me torno primavera
Porque tu feito botão
Em minha vida florisses

E eu meu torno flor
Exalando aromas
E eu me torno cor e calor
Para ir temperando a vida...

Mário Feijó

04.05.15

OLHAR POÉTICO

OLHAR POÉTICO

Como se fosse um sonho
Desses que nasce
De um pequeno anseio
Que cresce e se torna desejo

Então todo final de tarde
Quando a luz se desvanece
Escondendo todos os detalhes
Dando novas nuances

Tento me acostumar
Com os segredos da noite
E contentar-me com a pouca visão

Assim: há outro olhar
Que só a noite oferece
De um novo mundo
Sob o olhar da poesia...

Mário Feijó

04.05.15

domingo, 3 de maio de 2015

A VIDA FEITA DE PEQUENOS INTERVALOS

A VIDA FEITA DE PEQUENOS INTERVALOS

Nós vivemos
De nos amar
A todo instante

Manhã
Tarde
Noite

Porém para continuar
Descobrimos que precisamos
Fazer de tempos em tempos
Pequenos intervalos...

Mário Feijó

03.05.15

segunda-feira, 27 de abril de 2015

NO JARDIM

NO JARDIM

Eles eram amores perfeitos
E na luz do girassol
Beijinhos estrelados, jasmins,
Margaridas, lírios, cravos
Fugiam de bocas de leão...

Rosas morenas, Rosas rubras
Dançavam ao sabor do vento
Esperando se esconder
Na boca da noite

Doce mel abelhas nectavam
Borboletas polinizadas
Batiam asas coloridas
Enquanto eu apenas espirravam
Como se estivessem em crise alérgica

Caramujos coloridos procuravam
Pelo brilho do amor
Eu Pessoa pensava em Fernando
Enquanto o jardim poetizava Quintana
Ouvindo versos melodiosos de Drummond

Mário Feijó
28.04.15


PARE DE RECLAMAR! AME MAIS...

PARE DE RECLAMAR! AME MAIS...

Se você quer ser amada
Faça por merecer
Não tenha medo de ser mulher
Tenha orgulho em viver

Pare de reclamar da vida
Vá à luta
Ame seu homem intensamente
Não tenha medo de ser vadia

O amor nos faz feliz
E é a partir do sexo
Que realizamos fantasia

Perca as culpas
Perca o medo
Seja feliz todos os dias...

Mário Feijó

27.04.15

sábado, 25 de abril de 2015

MISSÃO DIVINA

MISSÃO DIVINA

Tenho admiração por tigres
Fortes, viris, dominadores
Quase extintos pela ganância...

Tenho dó desta mulher
Que age feito galinha
E faz muito cocó-ri-có...

Tenho nojo dos sapos
Que só comem insetos
E que são devorados por cobras...

Tenho medo das cobras
Que não fazem mal nenhum
Apenas lutam pela sobrevivência...

Tenho paixão por baleias
Um animal esplendoroso
Que consegue sobreviver em nossos mares...

Tenho carinho pelos macacos
Arteiros, parceiros, nossa imagem
Quase semelhança com nosso passado...

Tenho amor por bichos, por plantas,
Pelos que lutam pela sobrevivência
Cumprindo suas missões divinas...

Mário Feijó

25.04.15

sexta-feira, 24 de abril de 2015

AMOR QUE SE MULTIPLICA

AMOR QUE SE MULTIPLICA

Se você não souber amar
Proponha-se a aprender: pratique!

Se voe quer ser feliz
Tente ao menos uma vez. Não dói!

Se você quer ter dinheiro
Levante-se cedo, vá à luta: trabalhe!

Se você quer ter amigos
Abra seus braços e um sorriso no rosto!
É o começo...

Se você quer ver borboletas
Não crie sapos, eles devoram insetos...

O amor se multiplica
Quando aplicado sem restrição
Ai aparece a felicidade
Em tudo o que você faz...

Gente que ama e é feliz
Abre as portas para o sucesso
Aí o dinheiro aparece
Aprenda a não ser seu escravo...

Gente que tem amigos
Tem borboletas pousadas nos pensamentos...

Mário Feijó

24.04.15

AS TUAS COXAS

AS TUAS COXAS

Estas tuas coxas
Torneadas em mármore
Oras tão bronzeadas
Oras apenas carne sedutora
Escondem segredos
Não só quando se chegam
Mas também nas vezes
Em que me envolvem
Escondem segredos
Que afetam a minha libido...


Mário Feijó

24.04.15

quinta-feira, 23 de abril de 2015

AREIA E ÁGUA

AREIA E ÁGUA

Algumas vezes eu penso
Que tudo é eterno
Que não haverá mais noites
E que minha vida
Será de dias sem fim...

Eu penso que todos os dias
Serão dias de amor
Que todos os beijos
São favos de mel
E que nós vivemos em uma colmeia...

Eu gostaria da eternidade de uma primavera
Com flores se abrindo
Com borboletas voando
E nós vivendo a excitação
Que as primaveras incitam...

E penso ainda que todas as noites
Você estará me amando
Como se fossemos praia e oceano
Formando uma única paisagem
Mas eles são coisas distintas:
São areia e água...

Mário Feijó

23.04.15

quarta-feira, 22 de abril de 2015

NO AMOR...

NO AMOR...

Vivo morrendo
E renascendo
Todos os dias
Em nome do amor...

Mário Feijó

2204.15 

CONVERSA DE APAIXONADOS

CONVERSA DE APAIXONADOS

Eu queria um beijinho...
Você tem algum?
Pode ser até um pequenininho
- Não. Não tenho. Pode ser selinho?
- Não. Selinho, não serve...
- Eu queria um beijinho,
Mesmo que fosse um pequenino
- Se você não quiser um selinho
Ficará sem meus beijos...

Mário Feijó
22.04.15


terça-feira, 21 de abril de 2015

MAÇÃ VERDE

MAÇÃ

Trazias na boca
O gosto do pecado
Maçã mordida
Semente plantada
E quando a lua
No alto do céu desponta
Eu vejo no mar
O rastro de um adeus
É o amanhã com gosto de despedida
O ontem com sabor de pecado
Maçã verde
Boca vermelha...

Mário Feijó

21.04.15

sábado, 18 de abril de 2015

AS MIL E UMA NOITES DE SHERAZADE

AS MIL E UMA NOITES DE SHERAZADE

Ontem, meu caro sultão, eu havia pensado que poderíamos ter feito sexo oral, mas percebendo que o senhor estava cansado quis apenas fazê-lo ter bons sonhos contando-lhe histórias que li e ouvi pelo reino quando ainda era solteira.
Eu percebo, meu marido, que nunca ouvi de outra mulher histórias tão interessantes sobre performances sexuais quanto às que vivo com o senhor, agora que é meu marido. Confesso-lhe que estou encantada. Pergunto-lhe se já ouviu falar do livro chamado Kamasutram, um tratado indiano sobre o desejo.
Penso que meu senhor, Rei Shariar,  caso conseguisse um exemplar poderíamos colocar em prática algumas posições que nele são mostradas, onde cada noite seria única para nosso amor. Caso seja este o seu desejo, eu ficaria feliz em praticá-lo com meu marido e senhor.
Hoje podemos começar onde ontem paramos. Já mandei preparar uma banheira com sais aromáticos e ervas. Depois iremos para nosso leito, onde mesmo extasiados poderemos continuar e, se o senhor estiver disposto, tenho uma bela história para lhe contar, disse Sherazade ao sultão.
Ouvi falar que Cleópatra e Marco Antônio tinham um amor tão grande porque aprenderam a não ter pudores no amor. Usava ela cremes afrodisíacos, leite de cabra no banho e até, ouvi dizer, que raspavam os pelos pubianos. O senhor pode ter ficado horrorizado, mas poderíamos tentar algo parecido, caso deseje. Lembre-se de que sou sua esposa, mas sua escrava sexual, caso queira experimentar coisas novas.
Soube pela criadagem que o correio persa trouxe-lhe uma encomenda esta tarde. Será possível que já tenha conseguido o tal livro que lhe falei.
Esta noite pensei em fazer uma dança sensual – a chamada dança do ventre – que aprendi com as dançarinas de um grupo de teatro mambembe que se apresenta na cidade. Uma delas deu-me aulas à tarde inteira.
Amanhã... somente amanhã começaremos a praticar o que o livro Kama Sutra ensina, caso tenha sido esta a encomenda que hoje à tarde lhe entregaram.

Mário Feijó

16.04.15  

ESTÁTUA

ESTÁTUA

Já vens talhada
Não posso mais te moldar
Ou te aceito como és
Ou te descarto por não te amar

No entanto posso mudar tuas cores
E com pinceis e um pouco de tinta
Dou novos coloridos à tua face
Coloco cores em teus cabelos

Ainda ásperas estão tuas pernas
Por teus braços passo verniz
Dou um retoque em teus lábios
Passo tinta no nariz

Tento descobrir teu coração
Escondido por entre uma camada de gesso
Escondo completamente tua pele
Sem poder usar o vermelho

Sopro ar sobre tua cabeça
Tentando dar um pouco mais de vida
Mas a estátua continua parada
Sob a tinta escorrida

Somente o sol pode te dar um pouco de brilho
Vejo um sorriso escondido pelas tintas
Bate o vento cai a estátua
Em mil pedaços no chão partida...

Mário Feijó

18.04.15   

quarta-feira, 15 de abril de 2015

SENHORITA M.

SENHORITA M.

Todos fugiam de ti com medo
Eu apenas te contemplava
Feito destino inevitável
De que me adiantaria fugir?

Mórbida passavas ao largo
Eras apenas um contraponto
À vida que todo o tempo
Fazia questão de me acompanhar

Há doçura no teu abraço
Já que a vida que me enredava
Sempre me oferecias apenas sofrimento
Tu, ao contrário, ofereces o descanso...

Mário Feijó

15.04.15

CRIADOR

CRIADOR

Todo amor
Sou teu anjo
Apenas um aprendiz

Mário Feijó

15.04.15

terça-feira, 14 de abril de 2015

BEIJOS COM CHOCOLATE

BEIJOS COM CHOCOLATE

         Ontem à tarde derretendo chocolate para fazer bombons ela vestiu-se apenas com avental e calcinha. Afinal de contas a tarde estava quente e ela estava sozinha em casa.
Preparou as formas. Pegou leite condensado, coco ralado e morando... lembrou que esquecera dentro do táxi as caixas de morango. Telefonou para o taxista e pediu que mandasse lhe entregar em casa, mas ele falou que não poderia ir e ia ver o que podia fazer.
A casa transcendia a chocolate quente... Pensava na sua solidão e nos filhos distantes e se controlava para que as lágrimas não se tornassem ingredientes da sua receita.
Seu coração era tão doce e naquele momento estava amolecido pela saudade. Lembrava do ex-marido e da saudade de ter alguém ou estar nos braços de alguém.
Distraída com as lembranças nem ouvira alguém batendo na porta. Era um jovem entre 25-30 anos, alto, queimado de sol, musculoso, sorriso de pipoca, tão alvo e brancos. Seus olhos verdes pareciam o mar distante.
- Olá sou Roberto. Meu pai pediu que lhe trouxesse os morangos que ficaram no táxi.
- Meu Deus. Não acredito. Lembra de mim? Estudamos juntos.
Tinham sido os primeiros amores, um na vida do outro e a vida os tinha separado.
Que homem lindo ele havia se tornado. Agora ela percebia. Abriu somente uma fresta da porta para apanhar os morangos, tendo em vista seus trajes.  
Ele disse:
- Mas que cheiro delicioso de chocolate não vai me oferecer um bombom?
- Entre que eu vou colocar uma roupa decente, eu estava sozinha em casa e com este calor...
Roberto entrou e não resistiu Heloisa naqueles trajes, puxando-a para si, ao que ela pegou um bombom de chocolate e colocou na boca do rapaz tentando evitar o que parecia inevitável.
Roberto com o bombom na boca apertou mais Heloisa contra o peito e tascou-lhe um beijo que era puro chocolate.
Os bombons de morango que seriam os próximos a serem feitos foram esquecidos para depois. Heloisa nem lembrava mais de seus trajes. Agora suas lágrimas nem faziam mais sentido...

Mário Feijó

14.04.15

segunda-feira, 13 de abril de 2015

BEIJOS DISTRAÍDOS

BEIJOS DISTRAÍDOS

Eu era feliz contigo
Porém teus beijos
Eram gelados
Mesmo quando juravas amor

Tua presença
Era ausente
Mesmo quando eu te via

Acabei me tornando
Uma pérola que se esconde
Dentro da sua ostra

Sobrevivi quando
Uma onda arrebatadora
Arrancou-me daquele leito aveludado
E a morte distraída foi embora...

Mário Feijó

13.04.15

sábado, 11 de abril de 2015

COISAS QUE A POESIA TORNA POSSÍVEL

COISAS QUE A POESIA TORNA POSSÍVEL

Beijar a face do sol
Fitar a face da lua
Abraçar o vento
Entregar-se nos braços do mar
Conversar com os pássaros
Voar com eles até
Catar estrelas no céu
Sentir o perfume da lua
Entregar-se à paixão primaveril
Sonhar com outonos
Olhar para frente e verão
Caminhar por estradas cheias de brilhantes
Ir a Marte só para encontrar alguém
Ter sorriso de estrelas
Cheiro de primavera mesmo no inverno
Cheiro de amor na saudade
Ser feliz dentro das lembranças
Voar... voar... voar para quem não é pássaro
Beijos com gosto de jabuticaba madura
Pele com gosto de pitanga
Cheiro de chuva molhada
Amor que não acaba
Ser eterno no hoje
Descobrir que a vida é um presente e
Que precisa ser aberto todos os dias!
Sonhar... sonhar... sonhar, mesmo acordado e
Perceber que tudo é possível
Quando temos olhos de poesia...

Mário Feijó
11.04.15

sexta-feira, 10 de abril de 2015

AMORES FEITOS DE BRISA

AMORES FEITOS DE BRISA

No inicio era apenas sexo
Éramos girafas no cio
E nosso encontro um tsunami
Porém quando baixou a força das águas
Descobrimos a beleza de estar juntos
De ouvir uma música
E nos perdermos dançando
Entregues um nos braços do outro...

Agora olhamos para trás
E vemos alguns estragos
Coisas que temos que colocar nos eixos
Vida que precisa ser arrumada
O que parecia ser somente paixão
Tornou-se um grande amor
Daqueles que nos assusta
E que também assusta aos outros...

Lá fora brilha um sol intenso
Até a lua não quis ficar na noite
Estava à beira mar com peixinhos
Que corriam em nossos pés
E estrelas sem brilho que se atiraram
Na noite passada ao mar...

Eu já fui furacão
E dizem que tu também
Mas nos braços um do outro
Somos apenas brisa de outono
Temendo o inverno que se aproxima...

Mário Feijó

09.04.15

ARTE QUE FAZ ARTE

ARTE QUE FAZ ARTE

A arte é extraída
Da alegria, da dor,
Da felicidade e de tantos outros
Sentimentos de um artista

Ela retrata o seu olhar do mundo
Usa tudo o que sente
Mistura em um caldeirão
E com pinceis e telas,
Caneta e papel
Ou material que recicla
E faz disto uma gestação

É chegada a hora da criação
E num parto muitas vezes doloroso
(ao mesmo tempo prazeroso)
O amor acumulado
O sentimento gestado
Nasce e torna-se sua obra
Um filho seu...

Mário Feijó

10.04.15

quarta-feira, 8 de abril de 2015

MÚSICA NA NOITE

MÚSICA NA NOITE

O mundo inteiro dorme
Na hora em que eu fecho os olhos
Sim! O meu mundo dorme comigo
Quando chega o meu sonho

Tenho paz e sonho com ela
E há em meus sonhos um fundo musical
É um assovio de “Moon River”

Acordo feliz e extasiado
A casa está silenciosa
No entanto a música continua
É apenas um assovio distante

E quando aquele homem
Que a assoviava se distancia
Leva consigo minha nostalgia
Eu apenas faço uma oração agradecendo a vida

Mário Feijó

08.04.2015 

A LUA E O RIO

“MOON RIVER”

Era madrugada. Todos dormiam, menos Peter que saia da lanchonete, onde trabalhava para sustentar a família. Ele morava num subúrbio distante de Nova Yorque. Nascera lá, mas tinha também cidadania brasileira porque os pais haviam ido pra lá tentar a vida.
Ele tinha apenas 14 anos quando os pais morreram no terror do Wolrd Trade Center, em 11.09.2001. Fora morar com uma tia. Passou-se muito tempo até que ele superasse o susto e o medo. Sua tia tinha adoração por Audrey Hepburn e por Bonequinha de Luxo e, sempre que podia ouvia e cantava Moon River. Agora a música não lhe saia da cabeça enquanto caminhava, neste inicio de primavera, no hemisfério norte, caminhando em direção ao lar, onde a esposa Karen lhe esperava, corpo quente e uma térmica com café novinho, para lhe agradecer o amor que lhe dava, agora que se preparavam para receber os gêmeos que chegariam no verão.
Era paz em seu coração. Finalmente tinha paz e esperança e queria que o mundo fosse tão belo quanto fora Audrey ou tão encantador quanto fora o filme Bonequinha de Luxo.

Mário Feijó
08.04.15


Texto inspirado na coluna de David Coimbra, publicado no dia 07.04.15, no Jornal Zero Hora, Rio Grande do Sul.

O rio - 07 de abril de 2015 (David Coimbra)

Quando fecho os olhos, pouco antes de dormir, às vezes penso que o mundo inteiro está dormindo naquele momento… há algo de importante nisso. Por mundo inteiro refiro-me ao meu mundo, claro. Ao mundo que me interessa, são as pessoas que eu conheço.
Imaginar que todas as pessoas estão dormindo é reconfortante. O sono é algo que nos iguala em nossa condição básica, que é a condição animal. Durante essas horas, não existem poderosos nem oprimidos, não existem ideologias, dogmas, crenças ou moral. Ninguém pode fazer mal a ninguém, ninguém faz um comentário ácido na internet, ninguém tenta convencer ninguém de que algo está errado, até porque erros não são cometidos durante o sono. Durante o sono, dorme-se, tão somente.
Hitler, se vivo estivesse, estaria dormindo também, e seu sono seria tão inocente quanto o de um nenê que nasceu ontem.
É tão bom pensar isso. Pensar que o mundo está em repouso.
Noite dessas, alta madrugada, acordei. Continuei deitado na cama, imóvel sob as cobertas, ouvindo o murmurar do silêncio. Nenhum cachorro latia, nenhum carro passava ao longe, eu mal ouvia o ressonar da minha companheira, ao meu lado. Então, baixinho, porém nítido, assomou um assobio. Era um assobio masculino, tenho certeza, e ele vinha à distância, talvez lá da outra ponta da quadra, além da esquina.
O que aquele homem fazia na rua àquela hora? Devia caminhar sozinho e sem pressa. Ninguém assobia de madrugada, se está acompanhado ou apressado. Imaginei que caminhasse de mão no bolso, olhando para o céu azul-escuro, admirando alguma estrela mais vaidosa.
Prestei atenção para identificar a melodia. Era Moon River, que a gloriosa Audrey Hepburn cantou sentada à janela do seu apartamento em Bonequinha de Luxo. É uma música linda e nostálgica. Uma música triste.
Fiquei ouvindo. Ele assobiava bem. O som veio crescendo à medida que se aproximava. Moon River. Ele assobiava para si mesmo, nem desconfiava que havia alguém acordado, deitado, ouvindo. A melodia preencheu o quarto e o meu coração. Era como o rio da música, lento e eterno, sempre o mesmo e mudando sempre.
Ele continuou assobiando enquanto se afastava, e a melodia foi se esvanecendo aos poucos e, naquele instante, por algum motivo, pensei em todas as pessoas que amo, que estavam quietas no escuro de seus quartos, dormindo, sem saber que, em certa parte do mundo, alguém assobiava de madrugada e que outro alguém ouvia em segredo. E, então, senti a emoção aquecer-me o peito, e fiz uma pequena oração para que, quando a luz retornasse e o rio dos dias voltasse a correr, tudo ficasse igual como nas horas de sono. Tudo ficasse em paz.