AS MIL E UMA NOITES DE SHERAZADE
Ontem, meu caro sultão, eu havia
pensado que poderíamos ter feito sexo oral, mas percebendo que o senhor estava
cansado quis apenas fazê-lo ter bons sonhos contando-lhe histórias que li e
ouvi pelo reino quando ainda era solteira.
Eu percebo, meu marido, que nunca
ouvi de outra mulher histórias tão interessantes sobre performances sexuais
quanto às que vivo com o senhor, agora que é meu marido. Confesso-lhe que estou
encantada. Pergunto-lhe se já ouviu falar do livro chamado Kamasutram, um
tratado indiano sobre o desejo.
Penso que meu senhor, Rei Shariar,
caso conseguisse um exemplar poderíamos
colocar em prática algumas posições que nele são mostradas, onde cada noite
seria única para nosso amor. Caso seja este o seu desejo, eu ficaria feliz em
praticá-lo com meu marido e senhor.
Hoje podemos começar onde ontem
paramos. Já mandei preparar uma banheira com sais aromáticos e ervas. Depois
iremos para nosso leito, onde mesmo extasiados poderemos continuar e, se o
senhor estiver disposto, tenho uma bela história para lhe contar, disse
Sherazade ao sultão.
Ouvi falar que Cleópatra e Marco
Antônio tinham um amor tão grande porque aprenderam a não ter pudores no amor.
Usava ela cremes afrodisíacos, leite de cabra no banho e até, ouvi dizer, que
raspavam os pelos pubianos. O senhor pode ter ficado horrorizado, mas
poderíamos tentar algo parecido, caso deseje. Lembre-se de que sou sua esposa,
mas sua escrava sexual, caso queira experimentar coisas novas.
Soube pela criadagem que o correio
persa trouxe-lhe uma encomenda esta tarde. Será possível que já tenha
conseguido o tal livro que lhe falei.
Esta noite pensei em fazer uma
dança sensual – a chamada dança do ventre – que aprendi com as dançarinas de um
grupo de teatro mambembe que se apresenta na cidade. Uma delas deu-me aulas à
tarde inteira.
Amanhã... somente amanhã
começaremos a praticar o que o livro Kama Sutra ensina, caso tenha sido esta a
encomenda que hoje à tarde lhe entregaram.
Mário Feijó
16.04.15
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