CHEIRO DE FELICIDADE
É tão bom quando chega o domingo. Toda
a família vem e se encontra na casa da vovó. Fico feliz em rever meus primos,
tios e até os cachorros e gatos que trazem. A casa vira um sítio. Por sorte
vovó mora no interior.
Fico com pena das goiabeiras,
pitangueiras e araçás, que quando veem aquele bando de gente da cidade, ficam
tremendo.
Essa gente não sabe as diferenças
entre um porco e um cabrito. Eu até expliquei para meu primo de quatro anos que
porco tem uma tomada no focinho e cabrito além de um saco ou tetas penduradas
(iguais às de vaca) têm galhos.
O bode Barnabé de vovó é tão
enfezado e não consegue admitir aquela urbanidade toda. Sai correndo atrás de
um e outro toda hora. Vovó tinha um galo que fazia a mesma coisa e bicava todo
mundo. Comemos ele no último natal, mas Barnabé, vovô não deixava.
Era bicho de estimação que o acompanhava
pelas ruas, onde quer que ele fosse. Era muito manso, mas endoidava quando via
seu território invadido.
Adoro ajudar vovó a socar café no
pilão. Ficava um cheirinho que se espalhava pela casa inteira. Uma vez fiquei
intrigado quando ela colocou uma menina negra dentro do pilão e batia com o socador
levemente ao seu redor. Disse ela que era simpatia para curar “arca caída”. Neste
instante ouvimos os gritos de três primos que entravam correndo pela casa. Eles
tinham descoberto na goiabeira uma “cachopa” de marimbondos. O berreiro foi
geral e virou assunto no resto do domingo.
Foi um dia das mães inesquecível. Penso
que fiquei por lá faz mais de cinquenta anos. Vivo agora das lembranças e da
felicidade daquele tempo que se estenderam por toda minha vida.
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Um comentário:
Estas lembranças mexem e bagunçam um bocado com a gente. Da pra sentir a saudade em tuas palavras...
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