terça-feira, 14 de maio de 2013

MÃE TAMBÉM SÃO HUMANAS


MÃES TAMBÉM SÃO HUMANAS






            Passou-se o dia das mães, onde todos escrevem enaltecendo as mulheres perfeitas que são.
Igualmente fazem isto com aqueles que morrem. Todos viram santos depois da morte. Depois da morte enaltecem o que em vida ninguém viu.
Mães são seres humanos, mulheres imperfeitas, como é imperfeito todo ser humano. No entanto para não dizer que falei mal da mãe dos outros, vou falar da minha. Minha mãe durante muitos anos deixou em mim a impressão de que não me amava. Eu não lembro de um beijo, um gesto de carinho, uma palavra amorosa.
Eu só descobri que ela me amava quando eu me tornei adulto porque nesta fase nos aproximamos. Eu comecei a trabalhar e ajudar dentro de casa. E nos poucos anos que nos conhecemos melhor ela morreu. Morreu quando ia fazer 46 anos e eu tinha apenas 25. Tínhamos quebrado as barreiras da infância, mas não foi possível nos descobrirmos melhor. Não tivemos tempo para isto. Ela foi embora e eu fiquei com culpas.
Hoje já apaguei todas as mágoas. Tenho minha vida muito bem resolvida, porém não posso dizer e achar que minha mãe foi perfeita. Tampouco meu pai, mas este já é outro capítulo a ser discutido em outra crônica ou terapia...
Durante quase vinte anos eu nunca ouvi ela dizer que me amava ou fez algum gesto para que eu acreditasse nisto. E eu falo isto por mim, mas tenho a impressão que meus cinco irmãos também pensaram o mesmo.
Há uma grande certeza em mim: o meu amor por ela foi incondicional e eu sofri por mais de quinze anos a sua morte. Não conseguia digeri-la. Tampouco conseguia aceitar o fato dela ter morrido, tanto é que ainda hoje sonho e acordo pensando que ela não morreu. Foi tudo um engano. No fundo sinto culpa, não sei de que, mas sinto.
Esta foi a minha primeira grande perda. Depois vieram outras: primeiro meu filho com seis anos (eu tinha trinta e três anos) e cinco meses depois meu pai que tinha apenas 59 anos. Estas duas mortes aconteceram num período de apenas cinco meses. Passei a entender melhor a vida e também a morte. Percebi que uma fazia parte da outra e que não somos eternos.
Datas festivas passaram a não ser mais assim tão importantes, principalmente quando no natal de 2011 eu sofri um acidente de carro e minha companheira faleceu. Passei a não me envolver mais com páscoas, natais, dias das mães... O comércio já se prepara para o dia dos namorados. Eu posso afirmar que sou feliz mesmo órfão, viúvo e com todas as perdas sofridas porque a vida não se faz só com alegrias. Nada é perfeito enquanto vivemos. Eu não sou. Minha mãe não foi e o mais importante é sempre nos perdoarmos e aprender com os bambus que se curvam nos vendavais para não se quebrarem.
Sou humano como você, como minha mãe, como todo mundo. Que aprendamos as lições que a vida ensina e que sigamos em frente com nossas cicatrizes. O amor nos dá forças e o perdão é um grande aliado...

Mário Feijó
14.05.13

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