quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

HOSPITAL

HOSPITAL

Nas esquinas dos imensos corredores
Correm o meu desejo de cura
E a vontade de encontrar saúde
Nos Moinhos de Vento

Estou jogando com meus sonhos, meus medos
Como se estivesse voltando à vida onde
Sou levado por uma roda gigante
Que sobe e desce, sobe e desce, desce e sobe

Eu só quero abraços de amigos
Beijos dos beija-flores que pousam
Nas flores amarelas da acácia mimosa

Quero debruçar-me na janela
Olhando as amoras imaturas
Que esqueceram de brotar porém latentes
Nos verdejantes ramos iluminados

Mário Feijó
08.12.16


terça-feira, 22 de novembro de 2016

AS LÁGRIMAS DA LUA

AS LÁGRIMAS DA LUA

No meio do orvalho
Sequei as lágrimas da lua
Enquanto Dalva – a estrela –
Dizia que caíra um cisco em seu olho

O tufão que ameaçara
Tornou-se brisa serena
Enquanto lírios dos campos
Estendiam-se no chão

Era amor o que sentiam
Serena, a chuva caia,
Esparramando-se no solo
Logo abraçada pelo rio

Antes límpido plácido corria
Agora turbulento pedia o aconchego do mar
E no meio daquela tempestade a lua escondera-se
Em um céu, agora infestado de raios e trovões

Mário Feijó

22.11.16

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ARTES MINHAS






ARTES BY MARIO FEIJÓ

GARRAFAS DECORATIVAS #garrafasdecorativasdenatal





by Mário Feijó

GARRAFAS DECORADAS #garrafasdecorativas


AMOR COM PIMENTA




AMOR COM PIMENTA

Eram tão doces teus beijos
Que eu me sentia
Saboreando mel
E no meio do mel
Um pedaço de favo
Seco, ardido,
Parecia pimenta
Eu gosto de temperos
De sal bem dosado
Cebola, salsinha,
Cominho, colorau
Mas tudo bem dosado
E que os gostos misturados
Não fiquem fortes demais...
Eu já não sabia
Se eras tu a temperar
Ou se colocaste pimenta demais
Nos beijos que me davas...

Mário Feijó

17.11.2016

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

JURO



JURO

Eu juro
Que o que eu mais queria
Era um dia ser abraçado
Tão suavemente
Que eu pensasse ter voltado
Para dentro do útero materno

E de lá de dentro
Mexer-me bem devagar
Que é pra não machucar
O útero que me carrega

E de olhos bem fechados
Aconchegar-me candidamente
Neste colo(abraço)
Sentindo toda a proteção
Que ele pode me dar

Juro que eu ainda preciso de abraços
Não importam os anos que se passaram
Eu ainda preciso de muitos abraços
De carinho, de proteção
E não é porque meus cabelos
Agora encanecidos dão motivos
Para que eu seja esquecido
E não seja mais aquele ser humano
Que um dia foi tão esperado

Juro, eu juro,
Que só assim conseguirei
Tudo aquilo que eu sempre quis
Ser feliz feito criança

Mário Feijó

03.11.16

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

ARREPIOS QUE O VENTO PROVOCA



ARREPIOS QUE O VENTO PROVOCA

Eu sou vento
Que se desloca
E nem é percebido

Invisível, feito o ar,
Um ente estranho
Mal amado
E só respeitado quando se é tormenta

Um ente da natureza
Que se desloca sem ser visto
Que ajuda na polinização das flores
Que provoca ondas no mar

Tão solitário
Sedento de amor
Que por ser invisível
Só provoca arrepios

Mario Feijó

24.10.16

domingo, 23 de outubro de 2016

EN(CANTOS)



EN(CANTOS)

O mundo é uma floresta encantada
E nos encantamos com paisagens
Com animais e com atitudes
Sejam elas de bichos ou de pessoas

Eu às vezes me encanto com flores
Noutras vezes apenas com o tilintar da chuva
Há ocasiões em que me encanto com gatos
Noutras com o abano do rabo de um cão

Há noites em que me encanto com a lua
Ontem eu estava encantado com as estrelas
Porém há dias em que eu me encanto com a luz do sol
E noutros apenas me arrepio com o passar do vento

Há uma beleza infinda nas mulheres
No que elas fazem, no amor que exalam
No cuidado que têm com seus filhos
Mas há uma beleza infinita no amor de um homem

Mário Feijó

23.10.2016

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

TUDO PARECE PERFEITO NO AMOR



TUDO PARECE PERFEITO NO AMOR

Você tem dois braços
Duas pernas
Dois olhos
Dois ouvidos
Um nariz e uma boca
E tem o corpo perfeito
Porém não é por isto
Que eu te amo

Eu te amo
Pela simplicidade da tu’alma
Pela beleza campestre
Pela tua transparência d’água
Pelo teu cheiro de campo
Pelo teu riso silvestre
Pelo teu canto de pássaros

O amor é assim
Água limpa corrente
Cheiro de mato verde
Riso de criança
Braços enlaçados
Beijos tão doces de mel

Mário Feijó

17.10.16

sábado, 1 de outubro de 2016

EU TE AMO (mas não é porque tu me amas)


EU TE AMO
(mas não é porque tu me amas)

É chegada a hora
Em que o universo
Toma conta do meu corpo
E minhas carnes decadentes envelhecem

Porém merecemos amor
Mesmo quando já não temos
O vigor da juventude
Então nos resta amar
A quem nos ama tão candidamente

E não é só porque tu me amas
Que eu te amo
Eu te amo porque tu me completas
E fico encantado
Com o teu modo de me amar

Eu penso que te amaria
Mesmo que fosses “diferente” de mim
Porque o que eu amo em ti
É a tua essência
A candura da tu’alma...

Mário Feijó
01.10.16



quinta-feira, 22 de setembro de 2016

COMEMORAMOS A PRIMAVERA



COMEMORAMOS A PRIMAVERA

Neste dia começa a primavera
Exatamente agora, 11h21m
O sol está esplendoroso
Mas dentro de mim, o inverno não saiu

E eu pensei: Por que será
Que a cada aniversário
Comemoramos a primavera?

Primavera é alegria, luz, flores, eu sei
Mas a minha vida foi muito mais
Feita e repleta de invernos
(frios, cinzentos, solitários, distantes)

Apesar das aparências eu não desisto
Não desisto de mim, de você e de ninguém
Vagarosamente a primavera entrará em mim
Como o sol quente que aquece meus ossos

Mário Feijó

22.09.16

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O MEU NINHO PARECE VAZIO



O MEU NINHO PARECE VAZIO

Quando tu te vais
Eu me sinto em queda livre
É como se me tirassem o chão
E eu começo a cair

Sou apenas uma pluma no ar
Balançando jogada ao léu
E meu destino é incerto

Sou uma ave sozinha no ninho
Esperando que me deem alimento na boca

O MEU NINHO SE ENCHE

Quando estás comigo eu não vejo as horas passarem
Não conto os dias que me restam
Nem vejo a hora da partida
Vivo intensamente todos os momentos
Sorrio para a vida e não me sinto só

Mário Feijó

19.09.16

O DINHEIRO QUE NÃO TRAZ FELICIDADE

O DINHEIRO QUE NÃO TRAZ FELICIDADE

O mundo gira muito rápido
Enquanto eu queria o teu amor
Você saia pelo mundo
Lutando por dinheiro

A vida passa como um sopro
Acumular moedas ou bens
Não nos fazem crescer
No máximo nos levam a uma vida de conforto

Então o tempo passa
E eu que já não tenho mais tempo
Vou envelhecendo

E você que tem uma vida inteira pela frente
Luta por valores que não lhe farão feliz
No máximo permitirão você sobreviver...

Mário Feijó

19.09.16

sábado, 17 de setembro de 2016

UM AMOR QUE TRANSBORDA



UM AMOR QUE TRANSBORDA

Eu gostaria de ter tido mais tempo
Para conviver com meus filhos
Agora que estou mais velho
Tenho tempo e eles voaram do ninho

Mesmo assim eu queria mais tempo
Para viajar, para passear na praia
Para correr nos campos
E para entrar na água dos riachos

Além da falta de tempo
Falta-me disposição
Falta-me energia e
Falta dinheiro

Eu queria mais tempo e menos distância
Para as pessoas que eu amo
Umas não têm mais tempo pra mim
Outras a ocasião não lhes permitem estarem próximas

Só assim usufruiriam do amor
Que em mim transborda
Penso que lhes falta o tempo
Que em minha vida algumas vezes sobra...

Mário Feijó

17.09.16

sábado, 10 de setembro de 2016

NOS BOLSOS E NO CORAÇÃO

NOS BOLSOS E NO CORAÇÃO

Eu te carrego dentro dos bolsos
Como se carregasse neles
A minha identidade

Tu estas nos bolsos da calça
Nos bolsos da camisa
E nos bolsos do meu calção

Eu te carrego com carinho
Como se carregasse uma joia
Algo de muito precioso
E te deixo livre em meu coração

Assim podes percorrer o meu corpo
Feito o sangue que percorre minhas veias
Que se oxigena e me renova a vida
Sou assim cheio de amor por ti

Mário Feijó

10.09.16

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

HÁ PESSOAS QUE SE PARECEM COM BICHOS

HÁ PESSOAS QUE SE PARECEM COM BICHOS

Há pessoas que amam qualquer coisa
Há pessoas que amam pessoas
Há pessoas que amam somente bichos
Há pessoas que nem sabem amar

Há pessoas que amam somente
As pessoas da sua raça
Outras nem aos da sua raça
Sabem mesmo o que é amar

Há pessoas que amam crianças
Há pessoas que amam mulheres
Há pessoas que amam homens
Há pessoas que não sabem amar

Há pessoas que amam somente bichos
Bichos de raça: gatos; cachorros; animais
Há pessoas que amam bichos da rua
Outras nem pessoas na rua sabem amar

Há pessoas e Pessoas
Há pessoas que parecem bichos
Há bichos que se parecem e pensam que são pessoas
Há pessoas que não sabem nem pessoas, nem bichos amar

Somos animais neste planeta
Que deviam uns aos outros respeitar
Sejam pessoas, sejam bichos
Pelo menos olhar com carinho e aprender a amar

Mário Feijó

07.09.16 

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A MENTE QUE MENTE

A MENTE QUE MENTE

Outro dia alguém me disse:
Neste corpo de quarenta
Minha mente ora inventa
Que eu tenho apenas vinte

Ao que eu lhe respondi:
Neste corpo de cinquenta
Sua mente ora tenta
Querendo lhe tapear

Acredite! Eu bem sei
Que nem cinquenta
Ainda estás a completar
O que tua mente inventa
Nem fiques nela a acreditar

É que tua mente, mente
Com intenção de te enganar
Apesar de bem “lindinho”
O teu corpo já está cansado
Basta pra ele olhar...

Saiu o pobre coitado
Com cabelo arrepiado
Querendo me esganar

Era tudo brincadeira
Minha mente também mente
Feito a tua pra iludir

Ela vem de outros planetas
Onde o tempo de lá são outros
Vamos viver e brincar

Idade não é problema
Para quem sabe viver
E também pra quem sabe amar

Então ame e até se engane
Engane a sua mente
O importante é ser feliz...

Mário Feijó
06.09.16

(Uma brincadeira com uma mente que tentava mentir... risos. Sem pretensões literárias).




terça-feira, 23 de agosto de 2016

A REALIDADE DOS SONHOS



A REALIDADE DOS SONHOS

Vi minha amiga Izabel adotando maiores abandonados. Pessoas que moram na rua e que querem ter uma chance na vida sem conseguir. Ela adotou Nina, uma moça de 18 anos, que dormia pelas ruas e vivia com o que conseguia fazendo pequenos bicos. Com a adoção, um bom banho, corte de cabelos, roupa simples e nova, cheirosa e perfumada, agora com endereço fixo, Nina conseguiu emprego e logo em seguida, já estava matriculada na faculdade para continuar os estudos que havia parado, por não ter condições.
Algum tempo depois ela “adotou” Alberto, com 41 anos. Deu-lhe um quarto, roupas e as mesmas providências que fez com Nina. Logo em seguida descobriu que ele era um homem inteligente. Que foi morar nas ruas porque perdeu tudo, depois de uma tragédia familiar ocorrida há quase seis anos.
Alberto era um empresário. Com a morte da esposa, num acidente de carro que ele dirigia, entregou-se à bebida. Os filhos foram tirados pelos sogros e ele foi afundando até perder a empresa, por falta de gestão e empenho.
Vivia na rua. Esquecera de si. Passou a ser alguém sem nome e sem rosto aos olhos da população. Os cabelos cresceram, a barba igualmente.
Izabel empenhara-se em conversar com Nina e com ele já há algum tempo. Ouvira suas histórias e decidira que iria recuperá-los. Tinha uma casa grande e acolhera-os em sua casa. Ela era psicóloga e uma pessoa muito humana que acreditava que as pessoas podem mudar, tendo uma nova chance. Adotara-os como se fossem filhos, como se fossem amigos, e foi o que realmente aconteceu. Eles evoluíram, voltaram a progredir na vida. A tomar gosto e a ter uma nova meta.
Nina trazia uma história complicada de surras e abandonos. O pai morrera cedo e a mãe casara-se novamente com um homem que só a explorava e maltratava seus filhos. Um dia Nina não aguentava mais e partiu. Sem estímulos vivia pelas ruas...
Há muitos destes casos pelo mundo afora. Podem até parecer fantasia, mas existe muita gente que às vezes só precisa de uma mão, de atenção, de conforto, de estímulo.
Eu acordei feliz, porque vi que em sonhos tudo podemos fazer. Na realidade comecei a pensar, será que não podemos fazer realmente algo por alguém? Será que não podemos ajudar alguém? Que seja desta ou de outra forma, mas que comecemos a pensar no próximo como sendo um de nós mesmos, estendendo a mão e ajudando. Vamos começar a pensar o mundo como sendo melhor, como se todos os sonhos pudessem se tornar realidade.
Foi somente um sonho, mas parecia algo tão real...

Mário Feijó

23.08.16

domingo, 21 de agosto de 2016

ATLETA

ATLETA

A ti que és um atleta
A ti que nos faz feliz
A ti que marca um gol

Enalteço a ti atleta
Sem esquecer a tua dor

A ti que fazes “ace”
No tênis e no voleibol
A ti que fazes ginástica olímpica
Ou que atiras em busca do alvo

Enalteço a ti atleta
Sem esquecer a tua dor

Seja no judô ou karatê
Ou tantas outras formas de luta
Correndo nas maratonas
Ou disparando na marcha olímpica

Enalteço a ti atleta
Sem esquecer a tua dor

Quando todos querem a glória
Tu remas na canoagem
Tu corres no revezamento
Tu nadas de todas as formas

Marcas no corpo e na alma
Pontos da tua glória
As lesões dos treinamentos
Nas chegadas da maratona
Quando chegas de joelhos

Enalteço tua glória
Sem esquecer a tua dor
Porque eu somente assisto
Torço por ti com muito amor...

Mário Feijó

21.08.16

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

SER HUMANO – ESTE ANIMAL RACIONAL (?)

SER HUMANO – ESTE ANIMAL RACIONAL (?)

                Numa alcateia, os lobos mais velhos vão à frente, protegidos na retaguarda pelos mais novos.
Nenhum outro animal abandona os mais velhos, porém os seres humanos “civilizados” fazem isto com muita facilidade e frequência. Pelo que eu sei e já vi os “indígenas”, nativos, aborígenes ou os primeiros habitantes da Terra nunca fizeram isto. A Antropologia nos mostra isto nos estudos primitivos da humanidade. Será que a dita civilização fez isto com os humanos? Será que ao invés de evoluirmos “involuímos”!?
Com frequência vejo filhos que não querem saber dos pais, alguns até se aproveitam de seus rendimentos, em benefício próprio sem dar assistência ao idoso. Vejo até brigas por herança enquanto o corpo é velado. Sem contar os que querem partilhar tudo o que o idoso acumulou, e que deveria gerar-lhe qualidade de vida na velhice. Muitos só querem usufruir sem ir à luta.
Estamos num planeta, como se estivéssemos em um barco. Mas os homens não pensam em harmonia, em cuidar desta embarcação. Até quando o planeta suportará a destruição que o homem causa? Até quando ficaremos sem aprender as lições mínimas de civilidade e convivência harmônica?
E se falarmos daqueles que querem acumular infinitamente riquezas que nunca poderão ser gastas em uma única vida, enquanto muitos morrem de fome diariamente?
É chegada a hora de refletir. É chegada a hora de evoluirmos. A ciência caminha a passos rápidos. Vejamos tudo o que já aconteceu nos últimos 100 anos. E o homem parece caminhar para trás. Deveríamos pensar na vida como uma construção de valores e não de riquezas. A riqueza desaparece numa simples catástrofe, mas o que construímos como Ser, isto é eterno. É uma herança imutável que nada destruirá. Temos que aprender novos valores, não somente o valor do dinheiro. Temos que aprender a Ética, e ética implica em justiça.
Sei que criamos os filhos para o mundo, não para ficar sob nossas “asas”, mas eles esquecem de ouvir àqueles que lhes deram vida, educação, amor. Criam novos conceitos e julgam sem conhecimento do que os pais fizeram para que eles sejam o que são. Falta amor. Falta compreensão. E enquanto isto não for mudado, seus filhos farão o mesmo com eles, vendo o exemplo do que seus pais fizeram com seus avós, e a vida continua, sem uma melhora da raça humana.
Infelizmente isto não acontece só em países subdesenvolvidos, mas nos países ditos desenvolvidos. Comecemos a mudar isto nas nossas casas, nas nossas famílias, nos nossos lares e quiçá tenhamos um planeta sob uma melhor energia. Que Deus nos proteja! Que os deuses nos protejam! Que qualquer coisa nas quais acreditamos nos protejam! E que tenhamos um planeta melhor!
Que sejamos menos racionais e mais lobos protegendo sua alcateia!

Mário Feijó
19.08.16



quinta-feira, 11 de agosto de 2016

VELHO EUCALIPTO

VELHO EUCALIPTO

Tudo o que um dia eu pensava
O tempo mudou
O vento levou
E o bom senso me fez repensar

Criei cicatrizes
Dos tombos e aprendizados
Que só quem tem humildade aprende

Ficaram marcas em formas de rugas
Cascas em camadas
Tal qual eucalipto eu fora

Em cada camada
Ficou a marca do aprendizado
E o velho eucalipto cresceu imponente
Rumo ao céu

Seguro diante das tempestades eu sigo
Esperando o dia da poda
Em que o meu tronco sirva
De alicerce para outra morada

Mário Feijó

11.08.16  

domingo, 7 de agosto de 2016

LAREIRA APAGADA

LAREIRA APAGADA

Quando o suspiro cessou
Fez-se o silêncio
Apagou-se a lareira
Instalou-se o frio
Ficaram no chão
Somente as cinzas
Que foram turvando os mares
E as lágrimas nos olhos

As paredes cor de rosa
Também foram pintadas de gris
O silêncio foi ampliado
Estendendo-se por toda a orla
E o telhado agora sem goteiras
Caem apenas lágrimas do orvalho
E nos jardins não brotam mais girassóis
Tampouco os amores são mais perfeitos

Mário Feijó

07.08.16

terça-feira, 2 de agosto de 2016

UMA RAJADA DE VENTO

UMA RAJADA DE VENTO

Há dias em que eu queria
Ser apenas uma rajada de vento
Para soprar o pólen das flores
Ou causar frisson nas águas das lagoas
Depois passar levemente pelo teu corpo
Eriçar os teus pelos
E te fazer sentir
Ter saudades dos carinhos meus

E como se não bastasse
Eu queria passear pelo mundo
Conhecer outras terras
Tocar as ondas dos mares
Balançar suavemente canoas
Com pescadores dentro
Para que eles felizes
Possam voltar pra casa com seus alimentos

Eu não quero muito da vida
Aceito tudo o que ela me oferece
Mas continuo correndo atrás de sonhos
Tão pequeno quanto este
De ser apenas uma rajada de vento

Mário Feijó

02.08.16

domingo, 24 de julho de 2016

LEVE-ME COM VOCÊ

LEVE-ME COM VOCÊ

Quando você for embora
Não me deixe aqui tão só
Leve-me pra onde você for

Se fizer sol eu quero ir
Se fizer chuva eu vou também
Se for de dia: lembre-se de mim
Se for à noite: eu quero ver a lua

E se o vento que soprar for norte
Leve-me junto com você
Se o vento que soprar for sul
Lembre-se que gosto de lá

Mas se for subir a serra
Saiba que gosto da montanha
No entanto se decidir o mar
É lá que eu aprendi a amar

Só não quero que se esqueça de mim
E me leve pra onde você for
Mesmo que seja contra o vento: eu vou
E se for pra onde ele soprar: é pra lá que eu vou

MÁRIO FEIJÓ

24.07.16

sábado, 23 de julho de 2016

POR ENTRE OS GIRASSÓIS HAVIAM AMORES-PERFEITOS

POR ENTRE OS GIRASSÓIS HAVIAM AMORES-PERFEITOS

Eu plantei em meus jardins
Muitas sementes de flores
Eram amores-perfeitos, girassóis
E sementes de jasmins

Os girassóis logo cresceram
Debruçaram-se pelas cercas
Floriram, jogaram sementes pra todo lado
E foram sufocando meus amores quase perfeitos

Enfiaram-se no meio das rosas
Feriram-se em seus espinhos
Espiavam o sol, já meio murchos,
Por baixo dos girassóis cada vez maiores

Tentei replantar em outro canto
Mas os girassóis se espalharam
Não tinham mais amores-perfeitos em meus jardins
Mas meus dias ganharam o brilho dos girassóis...

Mário Feijó

22.07.16

quarta-feira, 20 de julho de 2016

BRUMAS DO INVERNO (Cap. final)

BRUMAS DO INVERNO
Estávamos no mês de junho quando o inverno (aqui no hemisfério sul) solta suas brumas através de um vento gelado. Nas ruas as pessoas andavam encolhidas, úmidas e apressadas.
Joana era apenas uma menina, com seus sete anos. Fugira de casa, pois o pai, bêbado, batia-lhe todos os dias e a mãe submissa não intercedia. Algumas vezes até tentara lhe molestar. Era melhor viver nas ruas do que ter uma vida daquelas...
14.07.16
Joana dormia agora nas ruas da cidade. Brincava com pombos na praça. Tinha liberdade, não tinha mais amor. Aliás, amor era a única coisa que Joana jamais conhecera.
Volta e meia ganhava uma moeda. Já conhecia todos os recantos da cidade. Não tinha luxos. Comia tudo que achava nos lixos da cidade. Afinal de contas, os ratos não sobreviviam? Mas Joana não tinha capacidade nem para raciocinar sobre isto. No entanto no mundo dos bichos ela era apenas mais um deles.
Enquanto tinha inocência, Joana era inocente, mas a vida mostrava a Joana que a inocência é um elemento que tem que ser superado quando pensamos em sobrevivência. E Joana começara a ser esperta, feito um rato que foge do gato que quer lhe abocanhar ...
16.07.16
Dormia onde conseguia se esconder, entre construções ou em locais abandonados. Quando era verão isto não era problema, mas quando o inverno chegava era mais duro achar um abrigo. Começou a se misturar com mendigos de rua. No início a maioria lhe protegia e dava guarida. Pegou sarna dos cachorros e piolho das pessoas.
Um dia uma senhora da cidade ofereceu-se para ajudá-la. Chamou-a para morar em sua casa como se fora sua filha. Parecia uma boa oportunidade, foi. No entanto a “mãe” passou a aproveitá-la nos serviços domésticos e com o passar do tempo ela virou empregada da casa, sem amor e sem salário, mas não queria voltar para as ruas então se sujeitou à “escravidão”. Com o passar dos anos não havia mais amor entre elas e a “mãe” mostrou-se quase cruel.
Sem estudar e com dificuldades em se relacionar com as pessoas, um dia ela resolvera fugir novamente. Estava agora com 15 anos. Foi para a cidade grande. Agora estava na capital. Procurou emprego e achou um de doméstica para dormir no emprego. Tentou várias vezes voltar a estudar. Ia um a dois meses e não conseguia acompanhar, além do que sentia vergonha por estar aprendendo a escrever somente com 15 anos. Na escola noturna arrumou um namorado e por carência de amor entregou-se a ele na primeira oportunidade. Engravidou. Ele não sumira, ficara por perto e quando chegou a hora do bebê nascer foi para a casa da “mãe” que um mês depois a mandou voltar ao trabalho.
- O bebê fica aqui. E o namorado também ficou. Apaixonou-se pela “mãe” e um ano depois nascia mais um bebê. O seu antigo namorado torna-se seu “padrastro”.
Joana continuava trabalhando na casa onde antes trabalhava.
Passaram-se mais alguns anos e Joana arrumara outro namorado. Engravidara novamente. Quando chegou a hora do bebê nascer voltou “contrafeita” à casa da “mãe” que um mês depois a mandara voltar ao trabalho...
- O bebê fica! Era uma menina agora.
Seu primeiro filho aprendera a lhe chamar de “tia” e só depois de adulto descobrira que a “tia” na realidade era sua mãe verdadeira. A irmã também aprendera a chamar a mãe de “tia” e nunca a aceitou como mãe. Não compreendia aquele abandono. E realmente, tudo era muito mal explicado. A ignorância e a submissão nunca deixaram aquela mãe lutar por seus filhos.
Pensava ela, “de que adianta eu lutar por meus filhos, se não tenho onde, nem como criá-los”.
O tempo passou e Joana nunca conseguiu o amor de seus filhos. Eles não lhe perdoam. Ela sofre... a “mãe” agora já morreu, mas nunca foi uma mãe para seus filhos. Criou-os como se fossem serviçais. E nunca lhes deu amor. Acabara sozinha com uma doença terminal que pouco a pouco lhe destruiu o corpo. A alma não se sabe se foi redimida ou se pena nos umbrais do inferno.
Joana foi envelhecendo. O coração partido sofria sem o amor dos filhos. Tinha consciência de que não deu amor, porque nunca aprendera a amar.
Com quase trinta anos arrumara um namorado que lhe oferecera uma pequena morada, numa vila distante. Fora morar com ele, mas continuava doméstica no emprego de quinze anos.
Um ano depois...
18.07.16
O DESTINO DOS FILHOS
Bem, um ano depois Joana já estava envolvida em outras tramas. Sua vida era uma continua tentativa de acertos. Por não ser muito inteligente ela não pensava nas dores que poderia estar causando a seus filhos com a sua acomodação em deixá-los com a “mãe”. Acreditava que lá eles tinham um lar e amor.
Sentia-se feliz com João. Com ele agora tinha um filho e uma casinha simples, numa vila distante da grande cidade. Tentara trazer os outros filhos para junto de si, mas a “mãe” não deixara. Ela não era forte o bastante para brigar. Continuou “tia” dos próprios filhos. Não dormia mais no emprego, nem tentara mais voltar a estudar.
Durante o dia deixava o filho que tivera com João com uma vizinha, a quem ajudava. Não pagava porque já ganhava pouco também.
O tempo passava célere e a vida de Joana ficou menos corrida. Seu marido trabalhava como zelador em um prédio, num bairro da periferia daquela grande cidade. Dormia em casa todos os dias, e, se não fosse pelos filhos que deixara com a “mãe” ela podia dizer que era feliz.
Um dia bateram em sua porta seus filhos mais velhos. O menino tinha 17 anos, a menina 15. Queriam morar com ela, pois era a única parente mais próxima, a “tia”. Joana resolvera contar-lhes a verdade. Pessoa simples, não sabe contar histórias, não soube explicar seus sentimentos, nem seu abandono, nem o abandono que causara. Os adolescentes revoltados fugiram de sua casa, antes mesmo que ela argumentasse melhor. Não queriam mais saber dela. Saíram dali dizendo que a odiavam.
Joaquim vivera nas ruas por alguns meses até que um antigo colega de escola, cabeleireiro agora lhe convidara para morar juntos. Aceitou e passou a trabalhar num posto de gasolina. A menina, Marina, tornara-se prostituta e vivia bêbada e drogada. Joana sofria com aquilo, porém nada fazia. Nada sabia fazer para solucionar o problema. Começara a adoecer e antes mesmo que tudo aquilo terminasse suas entranhas começaram a ser devoradas por um câncer que a matou em pouco tempo.
O filho mais velho agora estuda. Está com 30 anos. Quer ser advogado. Marina fugiu com um cafetão e ninguém mais soube sobre ela. O terceiro filho tem 13 anos e mora com o pai e uma nova mulher que este arrumou.
A vida algumas vezes faz com que pensemos que somos os únicos quem sofre. Mas tudo o que fazemos tem consequências sérias para nós ou para os outros.
Joana nunca teve sabedoria para compreender seu sofrimento e crescer com ele. A sua submissão criou outros dramas, mesmo quando ela não queria prejudicar ninguém. Sua busca era uma busca de amor, por amor, com amor que não aprendeu a dar, nem mesmo quando se casou, tampouco quando se tornou mulher.
20.07.16


Mário Feijó

segunda-feira, 18 de julho de 2016

BRUMAS DO INVERNO (A SAGA DE JOANA - nascem os filhos)

BRUMAS DO INVERNO
Estávamos no mês de junho quando o inverno (aqui no hemisfério sul) solta suas brumas através de um vento gelado. Nas ruas as pessoas andavam encolhidas, úmidas e apressadas.
Joana era apenas uma menina, com seus sete anos. Fugira de casa, pois o pai, bêbado, batia-lhe todos os dias e a mãe submissa não intercedia. Algumas vezes até tentara lhe molestar. Era melhor viver nas ruas do que ter uma vida daquelas...
14.07.16
Joana dormia agora nas ruas da cidade. Brincava com pombos na praça. Tinha liberdade, não tinha mais amor. Aliás, amor era a única coisa que Joana jamais conhecera.
Volta e meia ganhava uma moeda. Já conhecia todos os recantos da cidade. Não tinha luxos. Comia tudo que achava nos lixos da cidade. Afinal de contas, os ratos não sobreviviam? Mas Joana não tinha capacidade nem para raciocinar sobre isto. No entanto no mundo dos bichos ela era apenas mais um deles.
Enquanto tinha inocência, Joana era inocente, mas a vida mostrava a Joana que a inocência é um elemento que tem que ser superado quando pensamos em sobrevivência. E Joana começara a ser esperta, feito um rato que foge do gato que quer lhe abocanhar ...
16.07.16
Dormia onde conseguia se esconder, entre construções ou em locais abandonados. Quando era verão isto não era problema, mas quando o inverno chegava era mais duro achar um abrigo. Começou a se misturar com mendigos de rua. No início a maioria lhe protegia e dava guarida. Pegou sarna dos cachorros e piolho das pessoas.
Um dia uma senhora da cidade ofereceu-se para ajudá-la. Chamou-a para morar em sua casa como se fora sua filha. Parecia uma boa oportunidade, foi. No entanto a “mãe” passou a aproveitá-la nos serviços domésticos e com o passar do tempo ela virou empregada da casa, sem amor e sem salário, mas não queria voltar para as ruas então se sujeitou à “escravidão”. Com o passar dos anos não havia mais amor entre elas e a “mãe” mostrou-se quase cruel.
Sem estudar e com dificuldades em se relacionar com as pessoas, um dia ela resolvera fugir novamente. Estava agora com 15 anos. Foi para a cidade grande. Agora estava na capital. Procurou emprego e achou um de doméstica para dormir no emprego. Tentou várias vezes voltar a estudar. Ia um a dois meses e não conseguia acompanhar, além do que sentia vergonha por estar aprendendo a escrever somente com 15 anos. Na escola noturna arrumou um namorado e por carência de amor entregou-se a ele na primeira oportunidade. Engravidou. Ele não sumira, ficara por perto e quando chegou a hora do bebê nascer foi para a casa da “mãe” que um mês depois a mandou voltar ao trabalho.
- O bebê fica aqui. E o namorado também ficou. Apaixonou-se pela “mãe” e um ano depois nascia mais um bebê. O seu antigo namorado torna-se seu “padrastro”.
Joana continuava trabalhando na casa onde antes trabalhava.
Passaram-se mais alguns anos e Joana arrumara outro namorado. Engravidara novamente. Quando chegou a hora do bebê nascer voltou “contrafeita” à casa da “mãe” que um mês depois a mandara voltar ao trabalho...
- O bebê fica! Era uma menina agora.
Seu primeiro filho aprendera a lhe chamar de “tia” e só depois de adulto descobrira que a “tia” na realidade era sua mãe verdadeira. A irmã também aprendera a chamar a mãe de “tia” e nunca a aceitou como mãe. Não compreendia aquele abandono. E realmente, tudo era muito mal explicado. A ignorância e a submissão nunca deixaram aquela mãe lutar por seus filhos.
Pensava ela, “de que adianta eu lutar por meus filhos, se não tenho onde, nem como criá-los”.
O tempo passou e Joana nunca conseguiu o amor de seus filhos. Eles não lhe perdoam. Ela sofre... a “mãe” agora já morreu, mas nunca foi uma mãe para seus filhos. Criou-os como se fossem serviçais. E nunca lhes deu amor. Acabara sozinha com uma doença terminal que pouco a pouco lhe destruiu o corpo. A alma não se sabe se foi redimida ou se pena nos umbrais do inferno.
Joana foi envelhecendo. O coração partido sofria sem o amor dos filhos. Tinha consciência de que não deu amor, porque nunca aprendera a amar.
Com quase trinta anos arrumara um namorado que lhe oferecera uma pequena morada, numa vila distante. Fora morar com ele, mas continuava doméstica no emprego de quinze anos.
Um ano depois...

18.07.16
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Mário Feijó

sábado, 16 de julho de 2016

MARIA’S VIDA AFORA

MARIA’S VIDA AFORA

Oh Maria tu que és Graça
Te disfarças de Mary
Enquanto Eneida’s te cuidam
Ana Maria, tu mãe ferida,
Desfrutas a vida envolvida em amor

Regina, Dione, Emília e Sandra
Que poderiam ser chamadas de Maria’s
Trazem semblantes de mães
Mesmo longe dos seus filhos

Isabel mãe de Maria
Lucilla cheia de “eles”
Beija as mãos de Carlinda
Quando esta ampara o irmão

E eu fico assistindo
Os ensinamentos da vida
Protegendo Lara e Larissa
Futuras mães de Maria’s
No desconforto de seus abandonos

Virgem Santíssima
Protegei as mulheres que nos deram a luz
Que nos amparam pela vida
Mesmo quando estas já se foram
In Sônia’s  Maria’s vida lá fora...

Mário Feijó

16.06.16

segunda-feira, 11 de julho de 2016

PERMITA-SE... Mário Feijó - Poemas e Artes Plasticas: FELIZ NATAL TODOS OS DIAS

PERMITA-SE... Mário Feijó - Poemas e Artes Plasticas: FELIZ NATAL TODOS OS DIAS: Eu quero um mundo Onde a paz exista Durante o ano inteiro Onde as pessoas se amem Fraternalmente todos os dias Onde não exista fome, ...

PERMITA-SE... Mário Feijó - Poemas e Artes Plasticas: AMOR PERFECTO

PERMITA-SE... Mário Feijó - Poemas e Artes Plasticas: AMOR PERFECTO: Hoy yo pensé Que no más poeta sería Pues dejé huir Por entre rimas Mi amor es perfecto Que dormía en el lecho Y por...

PERMITA-SE... Mário Feijó - Poemas e Artes Plasticas: PENSANDO MUCHO

PERMITA-SE... Mário Feijó - Poemas e Artes Plasticas: PENSANDO MUCHO: Hoy yo pensé Que no más poeta sería Pues dejé huir Por entre rimas Mi amor es perfecto Qu...

O PODER DO MAR

O PODER DO MAR

As forças da natureza interferem em tudo. Somos parte dela. Segundo o ensinamento Cristão nascemos do barro. Ganhamos vida com um sopro.
Eu sinto as forças da natureza me afetando. Elas afetam minhas vontades e meu humor. Um dia nublado me deixa mais deprimido que um dia de sol. Não que eu me curve aos dias, como fazem as árvores que se curvam ao vento, mas é inegável que as forças da natureza me afetam.
Eu tenho fases, feito a lua.
Eu também brilho, feito as estrelas.
Eu sofro de erupções, feito a terra.
Eu faço marolas, feito as ondas do mar.

E quando o dia nasce eu sou a luz do sol.
Tenho a bondade dos animais domesticados
E sou feroz quando me machucam
Feito os animais selvagens.

E tenho amor pra dar
Para quem tem energia para trocar
Estendo meus braços
Feito o vento e nos teus ouvidos troco confidências

E quando a noite chega
Eu sou a luz da lua iluminando o mar
Escondendo segredos que não sei contar
Sim! Eu tenho o poder do mar.

E sendo assim, sigo minha vida contando meus dias, como se fosse uma única jornada. É a jornada da vida que tem um começo, meio e fim. Porém eu me sinto contínuo nas forças da natureza. Daqui a pouco eu serei apenas uma borboleta, recém-saída de seu casulo, viajando pelo mundo, sem destino pra pousar.

Mário Feijó

11.06.16

quarta-feira, 29 de junho de 2016

VENTO: ESTE MENINO TRAVESSO

VENTO: ESTE MENINO TRAVESSO

Todas as manhãs ela ia para a escola com sua saia pregueada (diziam ser plissada, não entendo muito de costuras). Era azul marinho, a blusa branca e no bolso o nome da escola.
Adorava jogar a cintura de um lado para o outro, começava a se descobrir mulher.
Depois de formada passou a usar sempre saias “plissadas” com tecidos finos e leves. Era quase que sua marca registrada.
Certa tarde resolvera que iria dar umas voltas pela cidade, andaria pela praça, e sem nada para fazer especificamente, iria cumprimentar pessoas e sorrir. A vida é bela e agradável.
Aquele dia estava quente. O calor estava infernal. Entrou no banho e em seguida começou a se arrumar. Tinha que ser rápida, afinal pedira ao taxista que lhe buscasse às 15 horas. Faltavam dez minutos para ele chegar.
Estava quase pronta quando o interfone começou a tocar insistentemente. Terminou rapidamente, mas parecia que faltava algo.
Deixa pra lá, pensou. Pegou a bolsa. Jogou um pouco de perfume no pescoço e nos pulsos e saiu rapidinho. Sentia-se fresquíssima.
Lá embaixo, Gilmar, o taxista disse:
- Desculpe D. Marília, mas não tinha lugar para parar e eu estou em local proibido.
- Sem problemas Gilmar, disse ela lânguida, ao taxista, ao qual era freguesa habitual.
Marília era uma linda morena, no auge de seus trinta anos. Os homens nunca deixavam de se virar quando ela passava. Afinal de contas uma bunda daquelas não era para qualquer mulher.
Gilmar pensou “esta mulher deve ter ancestrais negros, porque uma bunda destas, somente as negras têm”. Hoje ela vai ter muito trabalho na cidade, com sua saia rodada. Riu para si mesmo e tocou para o centro.
Dito e feito. Saiu ela do táxi e o vento levantou-lhe a saia que se enrolou na cabeça, sem que ela desse conta de baixa-la. Marília lembrou agora do que tinha esquecido. Não colocara a calcinha. Lembraria para sempre que o vento é um menino travesso.
Nem Gilmar, nem os demais transeuntes se esqueceriam da visão daquela tarde.
Marília voltou para o táxi e pediu ao motorista:
- Por favor, leve-me para casa.

Mário Feijó
29.06.16


Texto desenvolvido na Oficina Literária, com minhas alunas, na tarde de 28.06.16, na Biblioteca Pública de Osório-RS.