VENTO: ESTE MENINO TRAVESSO
Todas as manhãs ela
ia para a escola com sua saia pregueada (diziam ser plissada, não entendo muito
de costuras). Era azul marinho, a blusa branca e no bolso o nome da escola.
Adorava jogar a
cintura de um lado para o outro, começava a se descobrir mulher.
Depois de formada
passou a usar sempre saias “plissadas” com tecidos finos e leves. Era quase que
sua marca registrada.
Certa tarde
resolvera que iria dar umas voltas pela cidade, andaria pela praça, e sem nada
para fazer especificamente, iria cumprimentar pessoas e sorrir. A vida é bela e
agradável.
Aquele dia estava
quente. O calor estava infernal. Entrou no banho e em seguida começou a se
arrumar. Tinha que ser rápida, afinal pedira ao taxista que lhe buscasse às 15
horas. Faltavam dez minutos para ele chegar.
Estava quase pronta
quando o interfone começou a tocar insistentemente. Terminou rapidamente, mas
parecia que faltava algo.
Deixa pra lá, pensou.
Pegou a bolsa. Jogou um pouco de perfume no pescoço e nos pulsos e saiu
rapidinho. Sentia-se fresquíssima.
Lá embaixo, Gilmar,
o taxista disse:
- Desculpe D. Marília,
mas não tinha lugar para parar e eu estou em local proibido.
- Sem problemas
Gilmar, disse ela lânguida, ao taxista, ao qual era freguesa habitual.
Marília era uma
linda morena, no auge de seus trinta anos. Os homens nunca deixavam de se virar
quando ela passava. Afinal de contas uma bunda daquelas não era para qualquer
mulher.
Gilmar pensou “esta
mulher deve ter ancestrais negros, porque uma bunda destas, somente as negras
têm”. Hoje ela vai ter muito trabalho na cidade, com sua saia rodada. Riu para
si mesmo e tocou para o centro.
Dito e feito. Saiu ela
do táxi e o vento levantou-lhe a saia que se enrolou na cabeça, sem que ela
desse conta de baixa-la. Marília lembrou agora do que tinha esquecido. Não colocara
a calcinha. Lembraria para sempre que o vento é um menino travesso.
Nem Gilmar, nem os
demais transeuntes se esqueceriam da visão daquela tarde.
Marília voltou para
o táxi e pediu ao motorista:
- Por favor,
leve-me para casa.
Mário Feijó
29.06.16
Texto desenvolvido
na Oficina Literária, com minhas alunas, na tarde de 28.06.16, na Biblioteca
Pública de Osório-RS.
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