domingo, 8 de junho de 2014

INTANTÂNEOS DA CIDADE



INSTANTÂNEOS DA CIDADE

Um catador procura o quê reciclar;
O velho fica no chão sentado
À espera da caridade alheia
Tendo no colo apenas um cobertor surrado;
Ao largo passa uma adolescente
Cheia de “piercings” com seu cabelo vermelho;
Uma mulher jovem saudável (não está nem aí)
Caminha pela calçada com pantufas rosa
Que eram duas patas de urso, nos pés,
Ouvindo no celular músicas preferidas;
No semáforo para um gay quarentão
Conversando com a mãe e uma tia,
Sem perder de vista o menino adolescente
Que do outro lado da rua caminhava
Com a menina por quem talvez fosse apaixonado;
Eu tentava ser apressado tinha hora marcada
Para fazer uma tomografia, sigo em frente,
Pensando estar atrasado, no hospital informam
Que há um atraso de duas horas (demorou seis).
O que fazer diante do caos?
Nada melhor que escrever poemas
Observando pessoas, as células da cidade pulsando
Perdida em contrastes, onde um
Não se importa mais com o outro
Olho na calçada e penso em fotografar tudo
Mas somente escrevo e o único instantâneo
Que consigo fotografar é a sala de estar
Que um morador de rua criou para suas visitas
Bem na beira da calçada... eu vou embora
Levando as minhas e as dores do mundo...
Bem-vindo ao mundo civilizado.

Mário Feijó - 08.06.14

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