CRIMES
EM SÉRIE
Vitor
Albuquerque era o homem por quem Aimée Lins e Silva sempre fora apaixonada
desde a adolescência.
Ela
sempre fora bela, fina e requintada. Tivera uma educação no melhor colégio de
freiras da região e depois fora mandada para a capital, onde fez seus estudos
básicos complementares. Não fez faculdade porque o pai achara que mulher não
precisava e ele precisava da sua ajuda na fazenda. Depois foi se envolvendo na
administração dos negócios e ficara restrita à Fazenda Santa Clara, na pequena
cidade de Santa Clara do Oeste, no interior de São Paulo.
Vitor
era filho do fazendeiro vizinho das terras de seu pai. Era o homem mais belo
que já vira e desde que se conhecia por gente, sempre fora apaixonada por ele.
Vitor
Albuquerque tinha uma pele morena, num tom que parecia bronzeada; 1,87cm de
altura, corpo atlético; olhos esverdeados e uma vasta cabeleira negra.
Ele
também parecia apaixonado por ela, nas vezes em que se encontravam e faziam
amor, porém ele sempre fugia quando o assunto era casamento.
Aimée
era uma moça linda, pele clara, tinha os cabelos ondulados, sempre amarrados
por fitas coloridas ou lenços multicores. No inicio ela reclamava, mas com o
passar do tempo acostumara-se com o pouco que recebia dele e passou a não fazer
mais exigências.
Os
pais de ambos morreram em ocasiões e circunstâncias diferentes. E a vida
continuou para ambos, como sempre fora.
A
pequena cidade de Santa Clara, no entanto, começou a registrar casos de desaparecimentos
de homens jovens, com idade que variavam de 20 a 35 anos. A maioria era de fora
da cidade, mas todos tinham as mesmas características. Não deixavam indícios de
partida, desapareciam com a roupa do corpo e alguns apareciam dizendo procurar
emprego nas fazendas locais.
As
pistas sempre acabavam no caminho das fazendas de café de Vitor e Aimée, ali em
Santa Clara. Tinham sido 15 casos de desaparecimento registrados. Pareciam não
ter ligação um com o outro, até a posse do novo delegado da cidade que começou
a sentir nestes desaparecimentos algum comportamento criminoso, típico de
crimes em série.
Chamou
da capital um amigo seu que era detetive particular e que esporadicamente executava
serviços para a polícia e, especialmente para ele.
Pedro
era um homem muito bonito. Corpo atlético, quase um metro e noventa de altura. Aparência
máscula e atitudes também masculinas.
O
delegado orientou-o a procurar emprego, inicialmente nas duas fazendas, depois
se fosse necessário estenderia sua busca para as fazendas vizinhas, mas era
naquela direção que os homens desapareciam, sem deixar rastros.
Pedro
foi à fazenda de Aimée que o dispensou, visto que não precisava de capataz ou
administrador. Isto a fazenda já tinha e ele era um típico “papa fina”, como
diziam.
Na
fazenda de Vitor, Pedro recebeu uma acolhida mais “calorosa”, digamos assim. Vitor,
além de se mostrar interessado assediou Pedro acintosamente, convidando-o para
jantar em sua casa na noite seguinte. Tirando isto, mais nada havia de
suspeito. O que tinha de mais o cara ser gay, pensou Pedro.
Na
cidade, Vitor era conhecido como uma pessoa boa, discreto e nunca se soube nada
sobre qualquer envolvimento dele com qualquer habitante local, além do caso que
mantinha com Aimée que todos já sabiam, mas comentavam à “boca pequena”. O que
ninguém sabia era que Vitor era bissexual. Mantinha seu relacionamento
esporádico com Aimée e com frequência viajava para outras cidades à “negócios”
e lá mantinha relacionamentos com outros homens, sem nunca ter se envolvido
seriamente com nenhum deles.
Alguns
descobriam seu paradeiro e apareciam na fazenda “pedindo” emprego. Nestes casos
eles não podiam voltar e destruir a vida de Vitor, tão bem urdida nestes seus
45 anos de existência.
Os
que por ali apareciam, por ali ficavam. Vitor até os recebia e dava-lhes
abrigo. Convidava-os para um jantar especial, levava-os para o quarto e depois
sem roupas iam passear em um caramanchão fechado, corredor escuro, cercado de buganvílias
que davam para o canil. Nenhum dos que por ali entravam tinham esta informação.
Aí com uma desculpa qualquer Vitor sumia, abria o canil e soltava seis cães ferozes
que mantinha sem alimento, algumas vezes por mais de dois dias seguidos. Nada restava
dos visitantes, além das roupas que eram cuidadosamente incineradas na fornalha
da fazenda.
Isto
se repetiu nos últimos 20 anos. Vitor lembrava-se da primeira vez que vira seu
pai fazer isto com inimigos e vadias que lhe atormentavam. Nunca fora
descoberto até o dia em que o marido de uma delas tirou-lhe a vida em uma emboscada.
Vitor
utilizou-se da mesma receita e fazia isto com seus amantes que por ventura lhe
chantageassem ou lhe incomodassem. Ele se sentia poderoso, um deus, diante da
vida e da morte. E tinha um prazer sádico em ouvir os gritos de dor e desespero
de suas vítimas.
Tudo
era sempre muito bem planejado. Todos os empregados da casa tinham folga
naquela noite e suas vítimas podiam gritar à vontade, sem que fossem ouvidas. Não
restava uma gota de sangue naquela área, ainda mais que ela já era preparada
com canos de água próprios para que se fizesse a limpeza das sujeiras dos
animais. Não restavam quaisquer sinais suspeitos.
Foram
27 homens que desapareceram. Somente 15 a cidade tomou conhecimento, os demais
foram trazidos por ele, ou vieram procurando-o e alguns nem se registravam na
cidade.
Pedro
resolvera aceitar o convite para jantar, em parte porque sentira-se atraído por
Vitor, e, em parte porque era seu objetivo elucidar o caso dos desaparecimentos,
por tanto tempo desconsiderado na cidade.
Vitor
fora encantador. A noite transcorrera sem problemas, só que pela primeira vez
Vitor estava apaixonado por alguém e isto o fez cometer alguns deslizes. Pedro percebera
no amante uma mente doentia e possessiva e começou a ficar atento em relação a
tudo. Primeiro tivera o cuidado de também não se apaixonar. Levaria o caso como
“trabalho”. Havia um certo prazer na relação, mas ele tinha uma missão e o
outro não parecia ser uma pessoa normal, com o passar do tempo. Todo cuidado
era pouco para que sua missão tivesse sucesso. Ele sentia que o nó se desataria
a partir de Vitor.
Pedro
conseguiu colocar escutas, na sala e no quarto de Vitor e foi a partir daí que
teve as primeiras pistas.
Um
dia na delegacia, ouvindo algumas fitas, Vitor dizia furioso em seu quarto “se
ele continuar a escorregar de minhas mãos, não pertencerá a mais ninguém, terá
o mesmo fim dos outros infelizes”.
Isto
foi o suficiente para que conseguissem com um juiz autorização para uma busca
mais criteriosa, na sede da fazenda e autorizassem a prisão temporária de Vitor.
Mas Pedro quis antes disso testar e arrancar uma confissão mais direta do
outro. Sabia agora que lidava com uma mente criminosa e que corria riscos, mas
de antemão tratou de averiguar se havia armas na casa.
Certa
noite marcou um novo jantar e levou duas garrafas do melhor vinho que conhecia.
Fez perguntas e Vitor acabou confessando seus crimes, como se fossem troféus
invisíveis. Ele não sabia que Pedro trabalhava para a polícia, nem que estava
sob suspeita. Reclamava da falta de entrega de Pedro. Disse sentir ciúmes e que
estava sem alternativas em relação a ele. Pedro era o primeiro a quem ele
contava seu destino, e o que fizera com outros, ele já tinha se assegurando
disto colocando um sonífero na bebida e quando Pedro descobrira isto era tarde
demais para qualquer reação.
Tirou
toda a roupa de Pedro e todos os seus pertences, relatando o que faria em
seguida. Só que Vitor não sabia que estava sendo monitorado por escutas e antes
de executar o seu plano macabro o delegado arrombou a porta da casa e entrou
com toda a sua equipe prendendo Vitor que parecia ter surtado de vez. Sem armas
e sem outra reação porque as armas que ele usava eram seus cães famintos que
ainda estavam presos no canil.
Mário
Feijó
18.06.14
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