SANTO
ANJO DO SENHOR! – Diário de uma ex-prostituta adolescente
Daiane
tinha recém chegado à cidade e fora trabalhar em uma pousada. O lugar era na
beira da praia, em uma cidade de veraneio, no litoral gaúcho.
No
inverno a cidade era pacata, como são todas as cidades pequenas. À beira-mar
tremulavam apenas coqueiros que conseguiam resistir à força dos ventos do
litoral aberto.
A vida parecia que seria igual à sua vida
no nordeste do Brasil, de onde viera.
Resolvera voltar a estudar, era um sonho
antigo, além do mais os outros nove meses entre março e novembro era paz e
tranquilidade, o que não acontecia nos meses do verão.
Estava ela na cozinha fervendo água, em um
fogão à lenha, para logo em seguida passar um café quentinho, num bule de barro
e um coador de pano que parece deixar o café mais gostoso e aromático. Ela já
tinha feito bolinhos de chuva que iriam para a mesa do café da tarde na pensão/pousada.
No rádio tocava uma música de Chico
Buarque, cantada por Maria Bethânia: cálice quando ela ouve um barulho na porta
e se vira, perigosamente, com a chaleira, com água fervendo nas mãos. Contra a luz
do sol de final de tarde apareciam dois jovens, em traje de banho e pranchas
atravessadas nas costas, pareciam dois anjos. Bethânia cantava: “Pai! Afasta de
mim este cálice, pai! Afasta de mim este cálice...” ela só conseguiu dizer,
baixinho e meio envergonhada:
- Santo Anjo do Senhor!
E foi atender aos jovens que chegaram
pedindo informações, sobre a mãe deles, Maria de Lourdes, dona da pensão...
Mário Feijó
21.05.14
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