AQUELES
OLHOS VERDES
Franzino, sardento, cabelos cortados no
estilo, soldado raso, calças curtas, não tinha ainda dez anos aquele menino,
mas desde criança era diferente dos outros da sua escola.
A timidez o denunciava e sofria
discriminação pelo perfil completo, para agravar ainda era pobre, o desgraçado.
Não entendia o porquê da discriminação,
mas cada brincadeira de mau gosto, cada piada era como uma punhalada...
Nunca praticara uma ação maldosa para
com os demais, afastara-se dos esportes para não ser gozado pelos outros, e isto
também acabou sendo discriminatório. No entanto no seu caminho apareceram
meninos e meninas malvados que o maltratavam, inclusive fisicamente. Um dia
reagiu, brigou, mas até hoje não lembra o que aconteceu durante a briga, nem
como chegou em casa, mas todo o seu material sumiu. Ele teve um branco na briga
que manteve com o menino negro.
E para completar seu pai também o
surrava todos os dias...
Muitos foram os que lhe machucaram na infância.
Um dia quando brincavam de correr e pega-pega, uma menina se escondeu para
puxar um fio de arame farpado em seu rosto que por pouco não o cegou... feridas
foram muitas, tanto física quanto emocionalmente. Ficaram cicatrizes que o
tempo apagou no corpo, na alma elas ainda sangram... afinal quem se incomodaria
com aquele rapazinho magricela, sardento e horroroso?
E o menino foi crescendo. Superando todas
as adversidades. Nos primeiros anos do ensino básico acabou se formando em
primeiro lugar, na sua escola. Não virou ídolo. Continuou um adolescente, sem
graça, magro, feio e pobre.
Seu primeiro drama de adolescente era
tentar entender o por que daquela rejeição. As mulheres o rejeitavam porque era
doce e amável, e os homens “não podem” ser doces. Os homens o rejeitavam porque
não representava perigo com as mulheres (na opinião deles). Assim sendo ele queria
ser um daqueles homens para ser admirado pelas mulheres e respeitado pelos
homens. Sua alma não era assim e ele continuou do jeito que era, mas conseguiu
conquistar um espaço.
Havia uma vantagem naquele menino: seus
olhos verdes. Não que ele se importasse com isto, mas os outros sim. Achavam seus
olhos lindos. E o menino começou a concentrar sua energia e sua força neles, no
seu olhar.
Tornou-se homem. Ganhou muitas mulheres,
mas tinha medo de amar, não queria ser traído pela vida. Não acreditava que
pudesse ser amado.
Passou a ser autêntico, sem se importar
com a opinião dos outros. Continuava a ser discriminado, julgado.
Um dia casou-se, teve filhos. Amou e foi
amado, mas jamais foi feliz e aqueles olhos verdes continuaram acesos como dois
faróis de esperança que o conduzem na busca de um amor sincero...
Mário
Feijó
30.08.12