sexta-feira, 5 de outubro de 2012

LÁBIOS VERMELHOS


LÁBIOS VERMELHOS

 

        As flores, agora, pendiam de suas mãos e caiam no chão. Os lábios carnudos que antes o beijara estavam agora ensanguentados. O sangue escorria por sua camisola branca e pingava no chão.

        Eles fizeram amor toda a noite. E naquele momento ela se recuperava da dor daquela mordida inesperada nos lábios. Foram jogos de prazer e num momento de descontrole ele havia mordido seus lábios com mais força.

As flores no chão foram um mero acaso quando ela, não querendo sair de onde estava pegou uma toalha e a molhou na água fresca que havia colocado no vaso, para depositar as flores ele havia lhe dado. Não doía, porém assustava o sangue que não queria parar.

Foi ao frigobar e apanhou gelo que enrolou em papel toalha e colocou nos lábios. O sorriso parecia torto porque a boca estava inchada.

Ele encolheu-se na cama cheio de remorsos, pálido porque tinha horror a sangue, mas ainda morria de tesão pela noitada interrompida. Já se desculpara, porém o momento pedia pausas, tréguas.

Levantou-se da cama e encheu novamente o cálice com vinho verde, ainda muito gelado. Tudo fora tão excitante àquela noite, até aquele momento de pausa no amor. Ele havia chegado cansado do trabalho e foi direto para o banho. Enquanto ela depois de receber as flores, colocara-as em um vaso na mesinha do quarto, abriu uma garrafa de vinho verde. Estava excitada, pois passara o dia planejando aquela noite. Entrou no chuveiro com os dois cálices para logo em seguida se ajeitarem na banheira, onde ficaram bebericando e se acariciando mutuamente.

O clima úmido do banheiro com vapores d’água dava excitante e foi assim que começaram a se amar. Aquela noite prometia...

Ficaram muito tempo na banheira tocando, um o corpo do outro, enquanto consumiam o vinho delicioso.

Ela já tinha mordido suas costas, nuca e coxas. Ele, quando ela lhe ofereceu os lábios, mordera-os com um pouco mais de força, o que o fez sangrar.

As rosas vermelhas ele trouxera quando chegou e lhe entregou apaixonadamente. Ela colocara no quarto perto deles enquanto estivessem se amando. Aquelas rosas eram testemunhas da sua felicidade.

Tudo valia à pena para ela quando estava com aquele homem a quem tanto amava e não seriam apenas algumas gotas de sangue que iriam por fim ao prazer que se prometera aquela noite.

Afinal de contas todas as rosas têm espinhos e seus lábios podiam ter se ferido por um deles, quando beijou o ramalhete. E isto é o que iria alegar na manhã seguinte a quem perguntasse. Afinal o que se faz entre quatro paredes só diz respeito aos amantes...

 

Mário Feijó

06.10.12

Nenhum comentário: