quinta-feira, 15 de outubro de 2015

DOIS EM UM

DOIS EM UM

Ele era apenas um cavalo
Fingindo ser dois
Às vezes no campo
Noutras marinho era

Mário Feijó

15.10.15

NEM SEMPRE LONGE É INFINITO

NEM SEMPRE LONGE É INFINITO

Nunca parece ser longe
Penso até no infinito
Olho pra frente e vejo o mar

Mário Feijó

15.10.15

domingo, 11 de outubro de 2015

DOCES AMARELOS

DOCES AMARELOS

         Hoje depois do almoço peguei o jornal Zero Hora e comecei a ler o encarte de domingo, o Caderno Dona. Na capa Glória Menezes, resolvi ler a entrevista que ela deu. Sua história. Sua vida com Tarcísio Meira. Sua filha Maria Amélia chegando e eu dormi com elas chegando para a entrevista. Nesta hora eu dormi ou fui transportado para a entrevista. Não gostei de Maria Amélia. Não foi receptiva comigo (desculpe Maria Amélia, não conheço você pessoalmente).
Conversa vai, conversa vem, estávamos naquela mansão toda branca. Linda e branca. Criados por todo lado. Não sei se era a casa de Glória e Tarcísio, mas me pareceu que sim. Tive sede e como não achei água, nem os criados ofereceram eu levantei uma orquídea e tomei a água que estava no vaso.
Conversando com Glória apresentei-me como escritor e fui ao carro buscar alguns de meus livros. Achei quatro dos mais antigos, mas os três últimos não estavam lá. Fiquei decepcionado. Queria mostrar os trabalhos mais recentes. Tudo isto fazia com que Maria Amélia antipatizasse mais e mais comigo. Parecia que eu não era competente e eu queria provar que era.
Trouxe-os mesmo assim e até entreguei um exemplar do meu livro infantil “O Menino Molhado”, não sabia se ainda havia crianças na família, mas pensei que Glória pudesse ter bisnetos.
Sugeri que, se ela permitisse, escreveria sua biografia. Ela mostrou-se feliz e eu disse que já tinha escrito a de Fernanda Montenegro (no sonho era real, mas mesmo em sonho acho que delirei).
Nesta hora Maria Amélia disse:
- Mamãe, o título poderia ser “Doces Amarelos”, são os que a senhora mais gosta.
No sonho foi lindo. Todos aprovaram imediatamente e eu achei incrível. (Quando acordei achei bobo). Porém no sonho eu pensava em “pastel de Belém” e “fios de ovos”, delícias portuguesas que Maria Amélia disse que a mãe provara em Portugal e adorara.
O local onde eles moravam era algo cinematográfico. Havia um jardim muito grande e bem cuidado. Flores por todo lado, mas, os criados, não sei qual o motivo, ficavam todos na saleta escutando a conversa. E eu ali morrendo de sede.
Comecei a conversar com Glória e a planejar o livro. Tinha vontade de assistir a peça que ela apresentaria hoje em Porto Alegre (Ensina-me a viver), eu já lera o livro e me divertira muito, mas não o motivo, não poderia ir. Além do mais ela estava ocupada demais com a entrevista e com a peça que mais tarde apresentaria no Teatro São Pedro, por isto eu não poderia ficar mais ali. Sai e, morrendo de sede, voltei a beber a água do vaso de orquídeas, pensando em mil histórias daquela diva da televisão para colocar em Doces amarelos.

Mário Feijó
11.10.15


sábado, 10 de outubro de 2015

VOCÊ NÃO SABE PEDIR

VOCÊ NÃO SABE PEDIR

Não sabe pedir ajuda
Não sabe pedir perdão
Você não sabe dizer “eu te amo”
E chora por solidão

Quer que tudo aconteça rápido
Mas demora a reagir
Enquanto o dia acaba
A noite já vai surgir

Enquanto isto o tempo passa
As horas vão passando
E as oportunidades também
E você fica ali parado
Esperando o dia que vem

Mas não vem um novo dia
O que se apresenta é uma nova noite
E você fica perdido
Sem a ajuda de alguém

Abra seus braços para o amor
Abra seus braços para a vida
Quando se ama tudo é mais fácil
Até mesmo uma despedida...

Mário Feijó

10.10.15 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

QUANDO SAIS

QUANDO SAIS

Tenho dores de ida
De parto, de partida
Quando os poemas
Em mim são gestados

E as dores de parto,
De partida, quase ida,
Saem de minhas entranhas
Levam de mim sofrimentos, manhas

Expõem-me ao vento
Arde minha pele ao sol
Sou inteiro descoberto
Em minh’alma nua

E quando sais escorrem
Num gozo benéfico
Como se foras um filho(a)
Ganhando o mundo e outras vidas...

Mário Feijó
09.10.15


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SILÊNCIOS

SILÊNCIOS

O silêncio apossou-se de mim
Estou estarrecido
Com a desfaçatez
Daqueles que
Eleitos pelo voto
Pensavam serem eleitos reis
Amealhando o que não é seu
Enriquecendo suas famílias
Empobrecendo toda uma nação
A falta de vergonha
É uma maldição
Que tem afetado
Os políticos do Brasil
Que emudece minha dor
Ao ver tão poucos
Querendo impor
Uma liderança através da ilegalidade
E da extorsão dos bens do povo
Em benefício de si próprio...

Mário Feijó

08.10.15

CAMELINHO

CAMELINHO

         Nascido em Lagarto, cidadezinha do interior de Sergipe, filho de pequeno agricultor, ele tinha mais que dez irmãos, não lembrava mais ao certo quantos eram, tinha a mente enevoada pelas doses de “branquinha”, que ao seu ver “não faziam mal a ninguém”.
Pessoas que se envolvem com o álcool e outras drogas, geralmente não têm consciência de que são doentes. Com eles, algumas vezes, adoece junto toda a família.
No entanto, nosso personagem real, quando me conheceu logo pediu que eu escrevesse sua história. Pouco me contou. Nomes e datas, naquele momento eram inexatos, mas para que o personagem não perdesse a aura de personagem, misturado a um toque de realidade eu preferi não me aprofundar nas suas angústias de ser humano.
Disse-me ele que com quatorze anos saiu de casa, indo embora de Sergipe para São Paulo. Foi fazer a vida e veio para o sul (São Paulo fazia parte do sul, na época). Deixou gente chorando por ele. Seis anos depois seu pai apareceu para buscá-lo. Ele disse que voltaria, mas nunca mais voltou.
- Vá meu pai, eu estou terminando um serviço aqui e quando estiver pronto volto.
Ao certo naquele momento não disse se tinha voltado. Depois descobri que nunca mais voltou.
Logo novo começou a namorar uma linda jovem. Não deu certo com ela, mas foi se envolvendo com sua irmã e acabaram casando algum tempo depois. Esta era muito brava, mas ele disse que tinha paciência e que já ia fazer 50 anos que estavam casados. Eles têm muitos filhos e netos e os problemas são muitos, “mas quem não os tem”? disse-me ele, numa lucidez ingênua.
São personagens assim “doloridos” que nos inspiram a escrever outros na ficção. No entanto, mesmo os mais lúcidos dos humanos, nunca sabem quando vivem uma fantasia ou uma realidade efêmera. Há várias formas de se fugir da realidade. Há muitos subterfúgios para que se possa viver uma fantasia. Há gente que se viciam em comida, em sexo, em dinheiro, na mentira ou até mesmo nas drogas e se fingem felizes.
Ser real algumas vezes é dolorido demais e penso que “aquele senhor” tem muitas dores armazenadas em seu peito e sem saber resolvê-las esconde-se na bebida e passa os dias anestesiado por ela. Fica mais fácil viver no limiar do real e da fantasia, desta forma ganha asas, e viver fica muito mais difícil.
Ele ainda sonha em viajar de volta para Sergipe com a esposa e pensa em conhecer o sul.
E lá no interior de São Paulo ouço seus netos dizendo “eu nunca vi o mar”, com olhos de sonhadores.
Ah! Camelinho é o nome da cachaça que ele traz escondido embaixo do braço, para ninguém ver, escondendo no meio do mato onde de vez em quando vai soltar o gado que está preso.

Mário Feijó

08.10.15        

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

AMIGO

AMIGO

Amigo não mede abraços
Amigo não mede palavras
Amigo não julga
Amigo não mede caminhos

Amigo chega e te envolve
Amigo te ouve quando precisas
Amigo te diz verdades doloridas
Porque amigo nos ama
Do jeito que somos...

Mário Feijó

07.10.15 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

BORBOLETA NA PRIMAVERA



BORBOLETA NA PRIMAVERA

E quando chega a primavera
Eu, borboleta, saio do meu casulo
E ponho-me a visitar jardins
Abro asas pelo mundo
Cheiro rosas, girassóis e jasmins
E quando o vento vem
Tento dele me esconder
Pousando nas laranjeiras
Escondo-me da tempestade
Apenas movimentando as asas
E quando o sol novamente aparecer
Voo o mais alto que posso
Quero descobrir horizontes
Antes que a morte me arrebate...

Mário Feijó

29.09.15

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

COISAS DO TEMPO

COISAS DO TEMPO

Ele era velho
A idade lhe pesava
As pernas eram de chumbo
O corpo inteiro doía
E com isto a alma também pesava
Como se a gravidade do planeta
Prendesse-lhe ao chão
Ele até pensara
Em recolher suas asas
E voltar livre para o céu...

Mário Feijó

25.09.15

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

TUDO POR AMOR

TUDO POR AMOR

Eu apenas acenei ao vento
Com um lenço branco de seda
Irritado com o teu adeus
E o vento arrancou-me o lenço
Indo embora contigo...

Ela com lágrimas nos olhos
Tentou voltar aos meus braços
Mas os tempos eram outros
Nós deixamos de sermos os mesmos...

Eu, de tanto chorar,
Lágrimas misturei à chuva
Minh’alma estava lavada

Agora, menino renasci,
E das cinzas, homem me tornei
Tudo isto por amor próprio...

Mário Feijó
24.09.15  


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

“O” COISA

“O” COISA

Há dias em que eu deixo de ser gente para ser apenas uma coisa.
Algumas vezes penso que perdi minha capacidade de amar, desaprendi com o desamor.
O ser humano poderia se doar mais aos outros, mas pensa demais em si próprio. Eu, desiludido, estou deixando de ser humano para ser “coisa” e, consequentemente tenho me apegado mais em coisas que em gentes.
Coisas não saem do lugar e você sabe que ela te dará o que você quer, são previsíveis, elas têm utilidade ou beleza, ao menos.
E com a idade cheguei a ter vontade de ser somente uma coisa. Hoje (faz dias isto) é um destes dias, em que eu só me sinto útil, visto que até de beleza fui desprovido. E, tal como uma vela, que tem luz enquanto queima, eu me vejo queimando e o fogo se apagando, enquanto minha utilidade vai-se embora.
Um corpo vazio que ainda respira e que perde sua utilidade, num planeta em que tudo é difícil, inclusive viver. Porém não da para desligar e ir embora como fazemos com uma sala, apagar a luz e ir...
Minhas mãos, secas e envelhecidas, que já não têm a mesma força de outrora, ainda resistem criando coisas que o meu cérebro – luz que ainda queima – produz.
Um dia de sol que dá vida ao planeta ilumina minha mente para poder continuar vivendo. Estou tentando buscar razões para minhas utilidades e para continuar existindo, sem que o desestimulo, o desamor e o pessimismo que me rodeiam dominem completamente tudo.


Mário Feijó
23.09.15


PS. Não se preocupem... tudo isto já passou, mas escrever sempre é uma terapia.    

terça-feira, 22 de setembro de 2015

O AMOR FOI MAIS FORTE

O AMOR FOI MAIS FORTE

Por pouco
Muito pouco
O vento não levou meus sonhos
Sonhos de amor...

Porém ele desnudou-me
E minh’alma alada
Pousou em meu corpo
Que agora se veste de verdade...

Mário Feijó

22.09.15

VERDADES SECRETAS

VERDADES SECRETAS

Pés descalços: verdades!
Corpos cobertos: mentiras!
Roupas rasgadas: descobertas!

Mário Feijó

15.09.15 

sábado, 19 de setembro de 2015

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PÁSSARO QUE NÃO VOA (poetrix)

PÁSSARO QUE NÃO VOA (poetrix)

Gato negro na noite
Dois olhos vagueiam
Dentes brancos abocanham...

Mário Feijó
17.09.15


ANIMAL POETA

ANIMAL POETA

Hoje eu sou gato
Que se esfrega
Pelas escadas
E se enrosca nas tuas pernas
        Pedindo carinho...

Ontem eu era um leão
Faminto que atacava
Que devorava suas presas
        Tinha medo de amar...

Algum dia aprendendo
Eu já fui cobra
Que pela aparência asquerosa
Afugentava a todos
        Ninguém acreditava em mim...

Amanhã quem sabe
Serei apenas um pássaro
E baterei minhas asas
Tão rápido quanto um colibri
Aspirarei teu néctar
        Quem sabe serei anjo ou poeta...

Mário Feijó

17.09.15  

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

UMA PENA

UMA PENA

Uma pluma ao vento
Uma pena
Levou meus sonhos


Mário Feijó

15.09.15

SONHOS MEUS

SONHOS MEUS

Quando vejo um colibri
Tenho sonhos de bater asas
De beijar todas as flores
De voar, voar, voar...

Quando cheiro uma rosa
Minhas faces ficam rubras
Eu rosa amarela vivo
Esquentam minhas faces vermelhas...

E se eu vou ao mar
Peixe vivo
Água viva
A respingar gaivotas...

Se sou brisa serena
Doce ilusão volátil
Sonhos de primavera
Tenho noites de vagalumes...

Mário Feijó

16.09.15

terça-feira, 8 de setembro de 2015

HÁ 862 anos

HÁ 862 anos

Era o ano de 1.153 d.C. Numa vila distante, na Ilha de Lewis, na Escócia.
Ele chamava-se William tinha 24 anos e pertencia a uma família modesta, porém abastada para os padrões da época. Tinham terras e quem tem terras, sempre tem poder. O mar próximo também sempre foi fonte de alimentos.
Ela chamava-se Aphril, pertencia a uma família menos abastada, por isto Aphril trabalhava como dama de companhia de uma condessa que possuía uma mansão na região, e nas épocas mais quentes passava uns tempos na propriedade. Os criados não eram dispensados quando a condessa Mary Bernardet de Bourbon não estava na mansão. Aphril tinha apenas 17 anos quando fora ao mercado a céu aberto adquirir mantimentos para a mansão, visto que sua patroa deveria chegar a quaisquer momentos.
Aphril tinha olhos verdes, 1m70cm de altura, cabelos crespos, cintura moldada por espartilhos, pernas longas, sandália gregas amarradas às pernas com suas tiras de couro. Era uma moça bem falante e desinibida. Discutia preços com os mercadores, regateando e pedindo bônus em cada compra. Sua atitude despertou a atenção de William que vendia parte da mercadoria que produziam em sua propriedade e também parte da pesca que seu pai trazia do mar.
William era um jovem ruivo queimado do mar, alto, atlético e magro que parecia ter 2 metros de altura, mas media 1m,93cm. Era alto o suficiente para chamara a atenção de homens e mulheres e seus dentes refletiam luz quando ele sorria, de tão alvos que eram.
Não passaram desapercebidos um do outro. Isto os fez pensar “na próxima semana eu voltarei”. Não disseram nada, só se olharam, só se avaliaram.
Como era de se esperar na semana seguinte os dois jovens estavam presentes no mercado livre. Quando se viram, o coração de ambos disparou. Não sabiam o que fazer, não sabiam o que falar um ao outro. Ela aflita esperava que ele lhe dissesse algo. Ele não conseguira. Resolvera que lhe escreveria uma carta e na próxima semana colocaria em sua cesta de compras.
William gritou bem alto para todos ouvirem:
- Amigos clientes venham sempre. Na próxima semana estaremos aqui novamente com produtos sempre frescos, especialmente para vocês.
Aphril entendeu a deixa e disse:
- O senhor poderia nos trazer três quilos de peixe fresco. Cedo virei buscar.
William apenas sorriu, confirmando que havia compreendido.
...


Voltando ao passado.

Aphril estava feliz. Chegara à mansão cantando, cabeça meio que nas nuvens, mas feliz.
Agatha a governanta percebera que algo estava acontecendo por ali. Interrogou, mas nada descobriu. Perguntou ao cavalariço e jardineiro, mas este também não sabia nada, visto que não percebera nada incomum.
A semana parecia não passar. Aphril que também era cozinheira queimara alguns pratos e outros deixara salgados demais.
- Está apaixonada, Aphril? Perguntou Agatha.
- Não senhora. Desculpe-me, prometo prestar mais atenção quando a condessa estiver presente. Não acontecerá mais isto. Prometo...
- Espero que sim. Se a condessa reclamar sabe que não posso protegê-la. Terei que substituí-la.
- Por favor senhora. Prometo que não acontecerá mais, disse Aphril.

Segunda-feira – dia de mercado livre

Aphril arruma-se como nunca se arrumara para ir ao mercado. Por onde andava deixava um rastro de perfume.
Agatha pensara: aí tem... e avisa ao cocheiro e ao cavalariço que irá junto ao mercado.
Aphril levara um susto com a notícia, pensando que não iria, mas Agatha a tranquilizou dizendo que precisava escolher uns tecidos para a confecção de novos lençóis e toalhas e que isto não poderia delegar a ninguém. Ela mesma precisava fazer tais escolhas.
No mercado livre, Aphril fora primeiro na banca de William buscar suas encomendas. Quando ao terminá-las percebeu a carta em seu cesto, apanhando-a muito rapidamente e escondendo-a em um bolso do vestido rodado e pregueado. Seu rosto queimava de ansiedade e pudor como se houvesse roubado algo. A carta no bolso que de vez em quando tocava, para ter a certeza de que existia mesmo parecia que lhe queimava as coxas, pela proximidade do toque do bolso do vestido nelas. Um toque que jamais percebera, visto o tecido leve de algodão nem causar-lhe ranhuras, mas naquela manhã havia ali uma saliência e quem sabe quantas outras mais estariam escritas naquele envelope.
Fizeram todas as compras e voltaram para a mansão ainda antes das dez horas da manhã.
Aphril inventara uma desculpa para ir a seu quarto. Não aguentaria até o anoitecer para saber o que continha tal missiva.

“Cara Senhorita Raio de Sol”
Sim. Eu lhe chamarei assim, mesmo depois que souber seu nome. Você foi um raio de sol que clareou minha vida escura e fria. Quero ter o prazer de conhecê-la melhor. Tocar suas mãos, aspirar o perfume que você exala, tocar a maciez de seus cabelos ruivos que só de pensar neles, queimam minhas entranhas. Gostaria de convidá-la para um piquenique na praia, no próximo domingo às 14 horas. Não aceitarei recusas. Espero-lhe com uma cesta de lanches, próximo ao cais. Beijo-lhe respeitosamente as mãos,
William Bernardo MacLorenzo

Aphril voltou para a cozinha, mas parecia arder em febre, tal era seu nervosismo e apreensão.
Agatha mandou que se recolhesse a seu quarto e descansasse. Ela mandaria uma das auxiliares continuarem com as refeições.

A semana custou a passar

Aquela foi a semana mais demorada na vida de Aphril e de William. Porém o domingo chegou. Era folga de Aphril e a condessa ainda não retornara para as férias de verão.
Desde cedo ela se preparara. Fizera uma cesta com pães, bolachas e sucos. Colocara algumas frutas secas e amêndoas na cesta e partira em direção à praia. Nem lembrava que William havia dito que levaria o lanche.
William pedira à sua mãe que mandasse uma das criadas fazer-lhe uma cesta de lanches, pois iria à praia com amigos e que passaria a tarde por lá.
Não eram nem 14 horas e ambos já estavam no cais. Encontraram-se entre o extasiado e o envergonhado. No entanto o fato de que cada um levava uma cesta com lanches fez com que caíssem na risada. A situação serviu para quebrar o distanciamento que ainda tinham.
Conversaram, conversaram, conversaram... Pareciam ser amigos de longa data. Havia cumplicidade, camaradagem, intimidade entre os dois, como se já se conhecessem de uma longa data. Daí para o namoro foi um passo curto. Descobriram-se apaixonados e relembravam as vezes que se viram no mercado. Um dizia o que o outro vestia, tudo o que ele vendia, tudo que ela comprara.
Namoraram por seis meses e logo William pediu Aphril em casamento. No início a família dele fora contra o casamento de seu filho com uma simples criada, mas com o passar do tempo teve que aceitar Aphril como nora. Ela moça prendada, conquistara a sogra com tudo o que sabia fazer: bordava, costurava e cozinhava. Além disto Aphril era dona de uma simpatia rara.
Tiveram um filho e mudaram de cidade. Foram morar nas famosas Terras Altas. Era um lugar paradisíaco (e permanece assim até hoje). Compraram terras por lá e William passou a dedicar-se à pesca e o comércio dela.
Yan, o único filho do casal, estava com 12 anos quando o pai de repente desapareceu, não deu mais notícias, estava na casa dos pais que com chantagem emocional prenderam o filho ao seu comércio e propriedade. William tão envolvido e absorto com os negócios da família fora ficando e “esquecia” de dar notícias. Logo se envolvera com mulheres da vila, passara a beber e esquecera da família.
Aphril costurava para fora, fazia pães, que o menino saia a vender e não tinha mais tempo para pensar na vida. Chorava todas as noites em seu quarto e descobrira cedo o que era “o gemido noturno dos viúvos” nas noites frias e solitárias. Não tinha completado ainda 30 anos, porém aparentava mais, visto que emagrecera e enrugara feito ameixa seca.

A morte chega de repente

Assim como a vida havia lhe prego uma armadilha a morte dos pais de William fora sua libertação. Não que não sofresse com isto, mas a morte do pai com um derrame e a da mãe uma semana depois do mesmo mal, fora uma dose amarga num mesmo momento.
William decidira vender tudo o que herdara e voltar para casa. Parecia acordar agora do torpor que a vida lhe impusera. Estava emagrecido, barba comprida, desleixado. Fora ao comércio e comprara roupas novas, aparara os cabelos e a barba, mau cuidados e um mês depois resolvera voltar para casa.
Assim mesmo sem avisar. Não sabia como seria recebido. Se sua família ainda o queria e o esperava. Parara com as farras, tanto em relação à bebida, quanto em relação às mulheres. Percebia agora que se maltratava, por ter sido tão fraco cedendo à chantagem dos pais.
O tempo estava horrível. Havia tempestades. Teve que esperar que as tempestades de inverno amainassem para retornar ao lar.
Quinze dias depois o sol abre. Não mais venta. As tempestades foram embora. Pode então embarcar numa das naus que percorriam as ilhas. Uma semana depois estava em casa... ou melhor na ilha que morava.
Aphril o recebeu entre surpresa e furiosa. Vieram as explicações que em nada diminuíram a sensação de abandono dos dois últimos anos. Suas vidas não foi mais a mesma. Yan agora tinha quinze anos. Eles haviam aprendido a viver sozinhos e serem independentes.
William abrira uma casa de comércio próximo ao porto. Tinha posses, mas suas vidas não eram mais as mesmas de antes. Parecia que ambos perderam seu viço, seu amor pela vida, e, Aphril também se sentia assim: vazia. Viveram juntos por mais dez anos. Não dava mais para dizer que eram felizes, até o dia em que William com 46 anos amanhecera morto.
Aphril não chorara. Suas lágrimas haviam secado naqueles dois anos em que pensara que o marido havia morrido. Como chorar por alguém já morrera antes. O homem que voltara para o seu lar não era mais o mesmo. Tornara-se quase um estranho e depois não fizera mais questão de reconquistá-la. Havia dentro dele culpas, feridas não cicatrizadas, traições caladas. Ela não sabia de nada disto, mas percebera que o marido não era mais o mesmo. Vivera mais 20 anos. Solitária, viúva, para o filho e os netos. Morrera numa tarde de verão, depois de um vendaval que se abatera sobre a ilha.
...

862 anos depois...

Oitocentos e sessenta e dois anos depois eles acordam numa mesma cama. Não lembram mais de nada, mas um sonho os leva ao passado. Ela se descobre noutro corpo amando-o tão docemente quanto amara na antiga Escócia. Ainda sente nos ossos as dores que o frio lhe causava na época, são as mesmas dores que sente nos dias atuais. Silenciosamente olha-se no espelho e vê o seu novo corpo, não era mais uma mulher, nem tão bela, nem tão jovem, porém ao seu lado dormia o mesmo ser a quem tão amara em outros tempos. Levantou-se, preparou uma bandeja com café e foi pra cama. Lá estava seu amado de volta aos seus braços...

Para que nos situemos aonde esta história acontece informamos alguns dados recentes da Escócia.
Atualmente o território da Escócia que tem 78.772 km² (30.414 milhas quadradas), equivalendo a 30% da área de todo o Reino Unido do qual faz parte. Possui 9.911 km (6.158 milhas) de costa.
geomorfologia da Escócia foi formada pela ação de placas tectônicas e subsequente erosão da glaciação. A maior divisão da Escócia é a Highland Boundary Fault, que separa o território em "highland" (para o norte e o oeste) e "lowland" (para o sul e o leste). As Higlands da Escócia são bastante montanhosas e constituem-se no ponto mais alto do Reino Unido.
O clima na Escócia é temperado e tende a ser bem variável. É aquecido pela Corrente do Golfo do Oceano Atlântico e, por isso, é bem mais quente que em áreas de latitudes semelhantes, como Oslo, na Noruega. No entanto, as temperaturas são geralmente mais baixas que no resto do Reino Unido, com a mais baixa temperatura deste atingindo -27,2°C registrada em Braemar, nas montanhas de Grampian, em 10 de janeiro de 1982 e também em Altnaharra, nas Highlands, em 30 de dezembro de 1995. As máximas no inverno giram em torno de 6°C nas lowlands, com as máximas do verão por volta de 18°C. A temperatura máxima registrada foi de 32,9°C em Greycrook em 9 de agosto de 2003. Em geral, o oeste da Escócia é mais quente que o leste, devido à influência das correntes do Atlântico e as temperaturas superficiais mais frias do Mar do Norte.
De forma semelhante ao restante do Reino Unido, o vento vem principalmente do oeste, trazendo ar quente e úmido do Atlântico. A pluviosidade varia ao longo da Escócia. As terras altas a oeste são o local mais úmido do Reino Unido, com o índice de pluviosidade anual acima de 3.000mm (120 polegadas). Em comparação, a maior parte da Escócia recebe menos de 800mm (31 polegadas) anualmente e as áreas leste e sul do país recebem tanta chuva quando as partes mais secas da Inglaterra. Neve não é comum nas terras baixas, mas torna-se mais comum com a altitude.
No censo de abril de 2001, a população da Escócia era de 5.062.011, pouco menos de 10% do Reino Unido. A densidade populacional é de aproximadamente 64 pessoas por quilômetro quadrado.
Aproximadamente 95 das ilhas da Escócia são habitadas, sendo a mais populosa Lewis, com 16.782 pessoas em 2001. Algumas ilhas pequena têm um só habitante.
A capital da Escócia é Edimburgo. O número de habitantes das seis mais populosas cidades do país, segundo o censo de 2001, era de: Glasgow: 629.501; Edinburgo: 430.082; Aberdeen: 184.788; Dundee: 154,674; Inverness: 40.949; Stirling: 32.673.

...

Mário Feijó

08.09.15