“O” COISA
Há
dias em que eu deixo de ser gente para ser apenas uma coisa.
Algumas
vezes penso que perdi minha capacidade de amar, desaprendi com o desamor.
O
ser humano poderia se doar mais aos outros, mas pensa demais em si próprio. Eu,
desiludido, estou deixando de ser humano para ser “coisa” e, consequentemente
tenho me apegado mais em coisas que em gentes.
Coisas
não saem do lugar e você sabe que ela te dará o que você quer, são previsíveis,
elas têm utilidade ou beleza, ao menos.
E com a idade cheguei a ter vontade de ser somente uma
coisa. Hoje (faz dias isto) é um destes dias, em que eu só me sinto útil, visto
que até de beleza fui desprovido. E, tal como uma vela, que tem luz enquanto
queima, eu me vejo queimando e o fogo se apagando, enquanto minha utilidade
vai-se embora.
Um corpo vazio que ainda respira e que perde sua
utilidade, num planeta em que tudo é difícil, inclusive viver. Porém não da
para desligar e ir embora como fazemos com uma sala, apagar a luz e ir...
Minhas mãos, secas e envelhecidas, que já não têm a
mesma força de outrora, ainda resistem criando coisas que o meu cérebro – luz que
ainda queima – produz.
Um dia de sol que dá vida ao planeta ilumina minha
mente para poder continuar vivendo. Estou tentando buscar razões para minhas
utilidades e para continuar existindo, sem que o desestimulo, o desamor e o
pessimismo que me rodeiam dominem completamente tudo.
Mário Feijó
23.09.15
PS. Não se preocupem... tudo isto já passou, mas escrever
sempre é uma terapia.
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