quarta-feira, 23 de setembro de 2015

“O” COISA

“O” COISA

Há dias em que eu deixo de ser gente para ser apenas uma coisa.
Algumas vezes penso que perdi minha capacidade de amar, desaprendi com o desamor.
O ser humano poderia se doar mais aos outros, mas pensa demais em si próprio. Eu, desiludido, estou deixando de ser humano para ser “coisa” e, consequentemente tenho me apegado mais em coisas que em gentes.
Coisas não saem do lugar e você sabe que ela te dará o que você quer, são previsíveis, elas têm utilidade ou beleza, ao menos.
E com a idade cheguei a ter vontade de ser somente uma coisa. Hoje (faz dias isto) é um destes dias, em que eu só me sinto útil, visto que até de beleza fui desprovido. E, tal como uma vela, que tem luz enquanto queima, eu me vejo queimando e o fogo se apagando, enquanto minha utilidade vai-se embora.
Um corpo vazio que ainda respira e que perde sua utilidade, num planeta em que tudo é difícil, inclusive viver. Porém não da para desligar e ir embora como fazemos com uma sala, apagar a luz e ir...
Minhas mãos, secas e envelhecidas, que já não têm a mesma força de outrora, ainda resistem criando coisas que o meu cérebro – luz que ainda queima – produz.
Um dia de sol que dá vida ao planeta ilumina minha mente para poder continuar vivendo. Estou tentando buscar razões para minhas utilidades e para continuar existindo, sem que o desestimulo, o desamor e o pessimismo que me rodeiam dominem completamente tudo.


Mário Feijó
23.09.15


PS. Não se preocupem... tudo isto já passou, mas escrever sempre é uma terapia.    

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