quinta-feira, 11 de julho de 2013

PULSARES



PULSARES

A vida, pra mim, tem sido uma sequência de pulsares. Tenho ouvido todas as batidas do meu coração e o barulho de meu sangue por dentro das minhas artérias. Não é coisa de louco não, embora eu já nem saiba mais se sou normal. Outro dia eu li que o nervo trigêmeo faz isto. Até tem conserto, mas quem consertará uma máquina humana envelhecida e estragada neste país subdesenvolvido, onde a saúde, a educação e tantas outras necessidades básicas viraram um caos?
Quem irá se incomodar com as dores de um velho? Os filhos nem nos percebem, não nos ouvem, não nos veem.
Só o nosso cérebro jovem assiste a tudo de camarote, e por vezes ri, debocha e tripudia da gente. Eu não sou de reclamar, não estou reclamando, é só um devaneio tolo de uma noite de insônia.
E o meu coração pulsa mais forte e dói quando eu digo não a um filho. E quando digo isto, sinto que silenciosamente me odeiam, que silenciosamente entendem o não como um ato de desamor. Eu só queria carinho e ser compreendido, mas como se não sou escutado. Então só resta dizer não, sem nenhuma explicação. E todos os nãos têm razão de ser. Todos os nãos têm um motivo.
Um não a um filho retorna como resposta de “não te amo”. Mas não é isto. Nós sempre os amaremos incondicionalmente, embora eles não nos amem assim. Ninguém nos ama assim. Até o sol, agora é inclemente com a nossa pele e tão cruel com as nossas carnes, cada vez mais geladas, nas noites insones.
E nos pulsares das noites mal dormidas quando os tambores dos meus ouvidos me acordarem novamente tenho que escutar do meu cérebro que a vida pede calma, mas eu tenho pressa em viver. Uma quase urgência porque o sol da minha vida já está se pondo e eu não tive para fazer tudo o que eu queria, na minha vida curta de borboleta.
Tenho pressa no amor. Tenho pressa em amar e sou intenso, embora saiba que é preciso ter calma, para não perder a lucidez.
Quem entenderá as razões das minhas escolhas? Quem entenderá os meus nãos? Só meu cérebro que aprendeu a ser feliz e que cansou de ser racional. Acho que o meu cérebro adotou o meu coração por isto ouve os meus pulsares.
Voltei a ser nativo em meu corpo cansado. Ouço agora todas as suas batidas, sem saber como mandar sinais de fumaça, pedidos de socorro para as minhas noites insones, para as minhas noites vazias e solitárias.
Certamente é a distância do mar, sempre ali tão próximo e companheiro, quem agora manda seu recado nos pulsares das minhas veias... Até quando? Só Deus sabe...

Mário Feijó
11.07.13

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