quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

CARTA PARA VOCÊ

 


CARTA PARA VOCÊ

 

Capão da Canoa, 21 de janeiro de 2021

 

 

 

Olá

 

Como vai você nestes tempos tão difíceis, onde a vida nos pegou de surpresa e nos fez prisioneiros em nossos lares?

Acho interessante contar que eu me dei um pouco de liberdade para sair e viver com cuidados. Não me tornei neurótico, embora tenha percebido que alguns amigos e parentes se tornaram.

Queria te contar que minha irmã perdeu um filho de quarenta e seis anos nesta pandemia. Exatamente no dia dos pais de 2020. Um sobrinho e afilhado querido que já tinha problemas sérios devido a um acidente de moto sofrido há mais de quinze anos. Foi lamentável! Ainda sofremos com sua perda e minha irmã muito mais ainda. Ele havia se tornado o seu favorito devido a todas estas circunstâncias. Não é à toa que agora em janeiro operou um câncer...

Tenho saudades de muita gente. Principalmente de minhas tias Lourdes e Magdalena, irmãs de minha mãe que eu sempre visitava, a primeira com 92 anos, a segunda beirando os 80. Moram na Palhoça, próximo à Florianópolis. E de minha madrinha -
D. Bega, que já não lembra mais direito de nada, nem de si mesma. É tão lamentável ver a vida indo embora assim... levando a gente das pessoas e as pessoas da gente.

Quero contar a você que tenho muitos primos, mas adoro Edna e Carla – Edna sempre muito próxima, mesmo distante, Carla, distante e morando tão longe (Alemanha), outro dia me ligou com duas de suas filhas que moram e vivem lá. Adorei o encontro. Tenho um carinho muito grande por elas...

Meus irmãos, eu gosto demais deles, mas a vida os distanciou de mim. Eu continuo o mesmo, porém eles pensam que eu fiquei rico e me afastei. A verdade é que eu não fiquei rico, só resolvi ficar quieto no meu canto. Não é verdade nada disto, mas eu queria registrar pra você que me lê que isto me incomoda. É como se eu estivesse fazendo uma confissão.

Não quero me tornar enfadonho e falar somente de mim, mas não posso deixar de te contar que amo meus filhos e eles estão distantes em todos os sentidos. Luiza a mais nova é a mais próxima, entre todos. Lamento que eles não tenho me descoberto a pessoa que eu sou ou poderia ser. Quiçá um porto seguro para eles. Eu queria poder ser o que minha avó foi para mim e ainda é mesmo não estando mais presente em carne e osso. Ela corre nas minhas veias, feito o nome que tinha: Felicidade e isto ilumina minha vida.

Também queria contar que tenho nove netos e fiquei muito feliz ao descobrir que terei mais um. Torço pela felicidade dele e de seus pais, afinal de contas será mais um tataraneto de minha avó Felicidade. Tenho orgulho de ter netos já adultos: o Felipe já formado em administração e a Lara e a Larissa que moraram comigo até pouco tempo, mas que ainda são minha responsabilidade e fazem faculdade em Florianópolis. Atualmente moram com a Zezé, minha ex-mulher e eterna amiga.

Ah! Também queria te contar que tenho alguns amigos (não vou nomeá-los), mas você conhece alguns deles, e também alguns amores. Uns que já saíram de minha vida, outros que ainda circulam por ela. A maioria me decepcionou em algum momento, mas a vida segue. Eu também devo ter decepcionado-os. A gente nem sempre acerta nas atitudes e não somos perfeitos, mas nunca pretendi prejudicar ninguém. Eu procuro perdoar a todos. Façam isto também comigo, se acharem libertador. Nunca tive a intenção de prejudicar ninguém intencionalmente.

Não me julguem, por favor, hoje vi um vídeo que falava de cartas e pedia para que escrevêssemos uma carta pra nós mesmos. Eis-me aqui fazendo isto... quem sabe você também comece a fazê-lo. Quem sabe nos sentiremos melhores...

E os amores?... estes geralmente são duradouros em minha vida, mas quando dou um basta o sentimento morre. Estou vivendo este momento. Tentando salvar um amor perdido, se ele vai sobreviver só o tempo dirá.

Mas você como está? Fale-me de você, fale-me um pouco de tua vida, das coisas que te afligem...

 

Beijos saudosos,

 

Mário Feijó


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

CAMINHO PARA A FELICIDADE

 


CAMINHO PARA A FELICIDADE

 

Quando você partiu

Não foi somente embora

Partiu meu coração

E destruiu uma aliança de felicidade

 

Depois de toda uma cena

Digna de uma comédia aparvalhada

Esqueceu que eu existia

Por um mês, dois... pareceu um ano

 

Agora volta pedindo perdão

Diz até que me ama

E que precisa de mim

Tudo isto por que a vida seguiu

 

Saiba que nada mais será igual

Nossos dias serão diferentes

E eu espero que você encontre

O caminho desta tal felicidade

 

Mário Feijó

20.01.21

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

 


A CONTRADIÇÕES DO AMOR

 

 

Seria um monte de hormônios

Que faz nosso corpo arder

Numa química indefectível

Quando olhamos alguém que nos atrai?

 

Seria alguma espécie de febre

Que afeta nossas entranhas

Que nos faz querer estar junto

Tocar a pele, os lábios e todo o corpo?

 

Seria o amor apenas

Uma paixão efêmera

E que o tempo nos faz

Querer continuar?

 

Ou seria o amor

Um evento físico-químico

Que nos faz perder a razão

Para no fim explodir feito erupção

 

Mário Feijó

18.01.21   

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

REMÉDIOS D’ALMA

 


REMÉDIOS D’ALMA

 

Sorrisos são afagos n’alma

Cada vez que alguém

Olha para nós a sorrir

E nossa alma entra em júbilo

 

Um sorriso é capaz

De curar dores n’alma

De quem sorri

E faz o mesmo com que recebe

 

Os sorrisos trazem prenúncios de paz

Trazem indícios de amor

São afagos para quem está carente

E que não pode o outro abraçar

 

Os sorrisos são as janelas d’alma

A indicação de que podemos voar

De que ali há um porto seguro

De que a felicidade pode no sorriso estar

 

Mário Feijó

15.01.21

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

BILHETES PRA DEUS

 


BILHETES PRA DEUS

 

Era apenas uma lagarta

Que precisava do verde

Para sobreviver

 

Uns queriam mata-la

Outros gritaram:

Ela será uma linda borboleta!

 

Polinizadora, alegre

Que dará cores ao nosso dia

Poucas sobreviveram

 

E as que sobraram

Fizeram no céu um bailado

Parecia papel picado

 

Subindo o morro da Borrússia

Como se fossem bilhetes

Que eram levados pra Deus...

 

Mário Feijó

14.01.21

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

SANDICES...

 


SANDICES...

 

Sandice é você

Jurar que ama alguém

Somente para tirar proveito

Daquela situação

 

Sandice é você

Se entregar completamente

A um alguém

Que nem conhece direito

 

Sandice é você

Se aproveitar de pessoas carentes

Pessoas bondosas e crédulas

Apenas pensando nos benefícios

 

Sandice é você

Dizer ser uma boa pessoa

Porém no fundo é um patife

Um canalha que só visa seu bem-estar  

 

E se você pensa que eu

Falei de um homem

Saiba que existem mulheres

Que também têm esta estampa...

 

Mário Feijó

13.01.21

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

CÁLICE OU SERIA CALE-SE?

 


CÁLICE OU SERIA CALE-SE?

 

Não foi apenas o amor

Que o vendaval de desenganos levou

Ele levou minha fé

Levou minha esperança

Aquela mesma esperança que eu

Depositara aos teus pés

No momento em que acima de nós

Havia dois braços estendidos

Em forma de cruz

 

Também foi embora

Num rosário de lágrimas

Quando eu percebi

Que era iludido, trapaceado

No jogo do amor

 

Eu joguei às claras

Confessei-me esperando trocar pecados

Mas usaste de subterfúgios

E pedisse pecado sem nada confessar

Então bebi teu sangue

Naquele mesmo cálice

E calei-me...

 

Mário Feijó

12.01.21

SEM PERDÃO

 


SEM PERDÃO

 

Por que choras?

Quem não errou

Está sem pecados

Então não precisa de perdão

 

Embora tu te arrependas

Foste um dia embora dizendo adeus

Arrependido pedes pra voltar

 

Por que choras?

Estavas entorpecido pelo álcool

Afogaste meus sentimentos

Em cada copo que bebias

 

Insensível não vias minha dor

Eu superei minha tristeza

Sigo em frente sozinho

Faça o mesmo: supere...

 

Mário Feijó

11.01.21

sábado, 26 de dezembro de 2020

MEDO DO AMOR

 


MEDO DO AMOR

 

Há tanta gente que mente

Mentem por medo de amar

Mentem por medo da verdade

Mentem por medo da solidão

 

Há muitos que mentem amar

E por isto vão embora

Porque têm medo da vida

 

Há os que ficam

Por medo das mentiras

Por medo de enganos

Por desenganos no dia-a-dia

 

E há os que sofrem

Porque se entregam

Para não ficarem só

E acabam enganando a si mesmos

 

Mário Feijó

26.12.20

AS VÁRIAS FACES DO AMOR

 


AS VÁRIAS FACES DO AMOR

 

Há frescor no amor

E cada um novo amor

É um amor diferente

Cada um tem seu sabor

 

Alguns nos trazem filhos

Outros nos dão prosperidade

Alguns nos trazem problemas

Outros uma grande insanidade

 

Buscamos sempre em todos

Um pouco de paz e tranquilidade

Mas há amores que são de fases

Outros produzem ansiedade

 

No momento eu busco um amor

Que só me traga a paz

E a alegria perdidas

Visto que só restou a maturidade

 

Mário Feijó

26.12.20

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

DAR E RECEBER AMOR

 


DAR E RECEBER AMOR

 

Por amor eu já fui

Ao inferno e voltei

Algumas vezes

 

Sempre sofremos

No entanto crescemos

Evoluímos, amadurecemos

Com nossas experiências

 

O fato de nos darmos

Faz com que sirvamos de escada

O outro cresce, nós aprendemos

 

No entanto voltamos a errar

E o amor unilateral volta a acontecer

É tempo de reconstruir uma estrada de mão dupla

Dar amor a quem faça isto com você...

 

Mário Feijó

17.12.20

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Caros amigos e irmãos

 

Caros amigos e irmãos

 

Nesta caminhada terrena, onde todos nós tivemos um ano difícil, alguns com perdas seríssimas, outros mesmo sofrendo conseguiram sobreviver, venho tornar público o meu desejo e votos de um feliz natal e um próspero ano novo, a cada um de vocês, suas famílias, e amigos.

O ano não foi muito produtivo, gerou muito medo em alguns, recolhimento em outros e eu me coloco em todos os perfis: por isto procurei ficar o máximo possível em meu canto.

Torço para que a mudança de ano possa nos trazer uma vacina que facilite a troca de carinho e abraços, para que nós possamos, olho no olho, demonstrar o amor que temos guardado no peito por todos aqueles de quem gostamos.

Assim desejo a TODOS os irmãos de caminhada que o natal seja o prenúncio de alegrias, muita paz, amor e quiçá dinheiro a todos nós.

Com carinho, são os meus votos a todos vocês.

 

Mário Feijó

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

PEDRA QUE SANGRA

 


PEDRA QUE SANGRA

 

Foi de dentro de uma pedra

Que eu vi brotar sangue

Era dor que nela havia

Era amor que dela transbordara

 

Caído na estrada

Ficou um corpo estendido

Enquanto a pedra sangrava

Porém não havia mais dores

 

Os amores haviam sumido

Feito água da chuva

No asfalto quente: evaporara

 

A pedra guardara em si

Todas as lembranças daqueles amores

Que a água da chuva acabara de lavar

 

Mário Feijó

11.12.20

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

SERÁ QUE NÃO EXISTO?

 


SERÁ QUE NÃO EXISTO?


Por que será

Que não acredito mais em ti?

Junto ao meu amor ferido

Veio morar comigo a desconfiança

 

O teu querer é pouco

Por isto não te quero mais

Penso que passei a me amar

 

Não é o mesmo amor

Que ainda cultivo por ti

Mas um amor que me dá esperança

E quando eu passo na rua


Não acredito mais

Que alguém possa um dia me querer

Eu deixei de existir sem você?

 

Mário Feijó

10.12.20

 

CORAÇÃO SEM MISTÉRIOS

 








CORAÇÃO SEM MISTÉRIOS

 

Não há mistérios

Em meu coração

Nem portas

Nem chaves

 

Há apenas um pulsar

Pela vida que nele habita

E ele pulsa, pulsa

Pulsa por você

 

Não há mistérios

Em meu coração

Há metáforas de que

Nele habitam sentimentos

 

Mas meus sentires

Estão alojados em meu cérebro

Que tem neurônios, vontades

E que é minha fonte de amor

 

Mário Feijó

10.12.20

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

UMA GAIVOTA POUSA NO MEU CORAÇÃO

 



UMA GAIVOTA POUSA NO MEU CORAÇÃO

 

Raios de luz

Atravessam minha pele

E como se fosse um prisma

Reflete o meu coração

 

Partido, dilacerado

Quase gelado

Fragmentado

Como se fora um cristal quebrado

 

Ao longe uma gaivota

Pousa docemente sobre o mar

E quieta espera

 

As ondas apenas balançam

O meu coração apenas pulsa

À espera de alguém para amar

 

Mário Feijó

07.12.20  

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

FERIDAS INVISÍVEIS E DOR

 


FERIDAS INVISÍVEIS E DOR

 

Se era dor

O que tu querias me causar

Conseguisse!

 

Se era só me ferir

Tu também o fizeste...

Ninguém vê

Eu sinto! É só minha esta dor!

 

Dores são assim: só nossas

Ninguém as sente

Só nós as sentimos...

 

Elas são cruéis

Cruéis porque não deixam

Nenhuma marca aparente

São feridas na alma

 

E se era dor

O que tu querias me causar

Conseguisse!

Estou prostrado sem ti...

 

Mário Feijó

01.12.20

CORAÇÃO FERIDO

 


CORAÇÃO FERIDO

 

Quando você foi embora

Dizendo pra mim: boa viagem

O meu coração sangrou

Foi uma dor de morte

Ouvir o teu adeus

 

Agora vivo tentando

Curar minhas feridas

Estancar o sangue que corre

E as lágrimas que de meu rosto escorrem

 

Todas as partidas são doloridas

Algumas delas irremediáveis

Impossível consertar o que se quebrou

 

Então tenho que esperar que o luto

Daquela cruel partida

Um dia volte a trazer alternativas para viver

 

Mário Feijó

01.12.20

terça-feira, 24 de novembro de 2020

SERES SOLITÁRIOS

 


SERES SOLITÁRIOS

 

Solidão é algo que dói

E aliada à velhice

Ganha maior peso...

 

Não é difícil convivermos

Consigo próprio

O difícil é aceitar

A ausência do amor que acontece...

 

A vida é passageira sabemos

A juventude nem bem nos deu adeus

E já temos que conviver com dores

Remédios para dormir e acordar

 

E como se não bastasse

Fomos obrigados a nos isolar

Devido a uma pandemia

Que atacou a todos os seres solitários...

 

Mário Feijó

24.11.20

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

DOCES SONHOS

 


DOCES SONHOS

 

Sempre é bom sonhar

Os sonhos são impulsos

Que nos alimentam

Numa vida muitas vezes insípida

 

Sonhos são metas

Que burladas por nós,

Por fatos do caminho ou por outros

Nos fazem dar um passo atrás

 

E como se fossem espumas

Dissipam-se com água limpa

Ou feito fumaça que o vento leva

Aí começa novo ciclo

 

Onde voltamos a sonhar

Novos sonhos, novas metas

Como se fosse chocolate

Que desmancha na boca

 

Mário R. Feijó

23.11.20

 


sábado, 14 de novembro de 2020

haikai92

 



Carne sangra

rio que corta

Lágrima que escorre


________________

14.11.20

HAIKAI 91





 Foste risos

foste rios

eu sou mares


_______________

14.11.20

CORTANDO LAÇOS




 

CORTANDO LAÇOS

Há muito tempo

Não jorravam mais lágrimas

Destes olhos meus

 

Eu era apenas um rio seco

Desde as várias mortes

Que por mim passaram

 

Aí eu descubro o amor

E desgraçadamente me entreguei

- corpo e alma –

Como sempre faço

 

E fomos indo

Tu sempre partindo

Restando pra mim as angústias

Nas horas do adeus

 

Eram estradas a serem vencidas

E todas as estradas me apavoram

Muitas delas foram fatais

Então peguei tua preciosa faca

E cortei nossos laços...

 

Mário Feijó

14.11.2020

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

NEGRAS INACABADAS

 


NEGRAS INACABADAS

 

São obras não concluídas

Feito sonhos de amor

Pão que vai ao forno

E por algum motivo queimam

 

É o céu ameaçador

A chuva que não cai

Dia límpido e ensolarado

E que por descuido queima a pele

 

São negras inacabadas

São poemas sem rimas

Sem métrica, sem harmonia

Sem música, sem ritmo

 

E tal qual um dia

Que de repente

Troveja, despeja raios no solo

E se transforma em uma tormenta...

 

Mário Feijó

0.11.2020  

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

SONHOS QUE ARDEM


 

SONHOS QUE ARDEM

 

Sonhos

Rios

Estradas tristes

Sorrisos amargos

 

Ruas

Rios alagados

Crianças que choram

Fome!

 

Fogo

Animais queimando

Fumaça

Tosse! Muita tosse!

 

Pantanal alagado

Distorção

Um pantanal queimado

E mais árvores para derrubar... caos!

 

Mário Feijó

25.10.10

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

 


CHINELOS TROCADOS

 

Todos os dias ao sair da cama ela colocava seus pés alvíssimos no piso gelado da casa. Para que não apanhasse “friagem” nos pés, como diziam os antigos, deixávamos ao seu alcance uma sandália de borracha para que calçasse.

Cabelos desgrenhados, parecendo fios de lã que haviam sido desenrolados por um gato, ela não se preocupava em arrumá-los, vez ou outra, mal os tirava da frente dos olhos. Não dava para achar o fio da meada, caso alguém resolvesse procura-lo.

Os olhos dela eram de um azul celestial, beirando a transparência. Se um dia teve dentes, não havia mais sinal deles em sua boca.

Na cozinha todas as seis crianças se sentaram ao redor da mesa. O cheiro de café tomara conta daquela pequena mesa de café.

De repente, aparece na cozinha, ninguém menos que ela – vó Angelina – atônita! Talvez tenha acordado com a algazarra de todas aquelas crianças famintas que se preparavam para ir à escola.

Fez-se silêncio!

Todos tinham medo dela. Não que fizesse mal a qualquer um, mas era sabido que a avó paterna, em seus setenta e sete anos, estava senil. Mesmo que não contassem bastava olhar para aquele vestido azul clarinho com flores também azuis, de um fino tecido de algodão. Por cima, ela sempre usava um cardigã cinza de lã, podia ser verão ou inverno. Nos pés ela trazia as tais sandálias, sempre com os pés trocados.

O pai das crianças fazia um café que, geralmente, era servido com leite fresco, colhido por um dos filhos na frente do portão, que o leiteiro lá deixara. Os pães também eram torradinhos e frescos que o pai comprara antes de acordar as crianças, na padaria do Sr. Marcelino.

O filho mais velho ajudava a arrumar os menores e depois tinha que entrar no quarto dos pais (a mãe ainda dormia) para pegar um penico cheio de urina e merda para despejar na “patente” que ficava no fundo do quintal. Algumas vezes o penico transbordava em suas mãos parte dos detritos fedorentos. Era uma rotina tão marcante que o menino mesmo quando já tinha quase setenta anos, lembrava daquele cheiro fétido e desagradável.

Tudo retornava à sua mente quando o dia amanhecia e sem perceber, ao se levantar, ele calçava as sandálias que estavam ao lado da cama e sentia algo diferente: os chinelos estavam trocados sob seus pés...

 

Mário Feijó

22.10.20

 

sábado, 17 de outubro de 2020

PANTANAL E AMAZÔNIA...

 


AH! SE NÃO FOSSEM...

 

Ah!  Se todas as dores do mundo

Não me caíssem nas costas

Eu teria mais tempo para olhar o mar

Mais tempo para cheirar as flores

E mais tempo para te amar

Porque o mundo está muito machucado

Por uma pandemia que já dizimou a muitos

E aniquilou tantos outros

 

Os meus olhos estão nublados

Por prantear o mundo

Pela fumaça que queima o “Pantanal”

E destrói grande parte da Amazônia

 

Ah! Se não fossem as dores do mundo

Dos animais que agonizam e morrem

Das pessoas que passam fome

Ai sim eu diria: como é bom

Viver no Planeta Terra!

 

Mário Feijó

17.10.20




sexta-feira, 16 de outubro de 2020

NÃO VOU MAIS CHORAR

 



NÃO VOU MAIS CHORAR

 

E se amanhã eu chorar

Quero que seja de alegria

Porque já chorei muito atualmente

E viver aos prantos é uma agonia

 

Não quero mais pensar em doenças

Nem tampouco em pandemia

Quero poder sentir o sol

E absorver dele a luz que irradia

 

Quero soprar ao vento palavras de amor

Sentir saudade dos muitos que se foram

Lembrar-me de Sônia e de Luzia

 

Mulheres que às vezes me davam nos nervos

Mas normalmente para elas eu sorria

Quero ter novamente

A vida que tive um dia...

 

Mário Feijó

16.10.20

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A MINHALMA CHORA LUZIA... E A CULPADA É VOCÊ

 



LUZIA - A MINHALMA CHORA... E A CULPADA É VOCÊ

 

A minh'alma chora neste momento porque não verei mais teu sorriso lindo e encantador. Não verei mais teu corpo e cara bonitos que encantavam a todos nós.

 

A minh'alma chora porque eu aprendi a amar, mas não me ensinaram a esquecer, e você será eternamente inesquecível. Eu era somente teu amigo, mas poderia ser teu irmão, conforme dizias.

 

A minh'alma chora e vai chorar por muito tempo pelas saudades que eu já sentia por não te ver lá no hospital, queria ir lá e te dar uns tapas, por nos abandonar de forma tão abrupta, nós não merecíamos isto. Agora as lâmpadas da casa da Graça não queimarão mais porque você não está lá para queimá-las (isto é uma piadinha nossa, mas você entende).

 

A minh'alma vai chorar toda vez que uma brisa suave bater em meu rosto, porque eu vou lembrar-me de você embaralhando cartas e eu dizendo que o vento me deixaria gripado.

 

A minh'alma vai chorar quando eu olhar para o céu e pensar que no meio de tantas estrelas você é mais uma que estará lá brilhando e piscando pra mim, como sempre fazia de forma delicada, amável e brejeira.

 

A minh'alma continuará chorando enquanto minha sanidade existir, mas ela nem existirá por tanto tempo assim, afinal não somos eternos... Espere não existiremos muito tempo por aqui, afinal a vida é curta, rápida e passageira, qualquer hora a gente se encontra em algum lugar deste enorme universo. Aí sim, vamos soltar o riso quando você disser: BATI...

 

Beijos querida amiga, irmã. Descanse em paz e que Deus te abençoe... estamos aqui rezando por você.

 

Mário Feijó

13.10.20


INGRATIDÃO E MUDANÇAS

 

INGRATIDÃO E MUDANÇAS


 


Nossos dias são incertos

A vida é assim!

Ela não dá garantias do amanhã

O que importa é o presente

 

O presente é um presente em nossas mãos

Se for para ter medo não podemos segurar

Tudo nos escapará feito água corrente

Que não conseguimos reter

 

Ela vai embora

Por caminhos muitas vezes tortos

Nos rios que rasgam

Pela vida afora

 

Há sempre dor:

Por um amor perdido

Por ingratidões

Por mentiras que dizem a nosso respeito!

 

Mário Feijó

13.10.20

DÓI MUDAR

 

DÓI MUDAR

 



Há sempre muitas dores

Em qualquer partida

Eu diria que a dor

É inerente a qualquer mudança

 

Um bebê que nasce

Causa primeiro dores na mãe

Para depois gerar

Uma enorme felicidade

 

Queremos sempre o comodismo

Temos medo do que pode vir

E por isto deixamos

A felicidade ir embora

 

A vida não é para quem tem medo

Ela é feita para quem tem coragem

Primeiro para admitir nossos erros

E depois para mergulhar sem saber onde cair...

 

Mário Feijó

13.10.12

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

DESEMBRULHANDO O PRESENTE (primeira crise)

 


DESEMBRULHANDO O PRESENTE (primeira crise)

 

Faz muito pouco tempo que eu era uma criança querendo ser adulto. Agora acordo e descubro que quarenta anos se passaram, em minha existência.

Não! Eu não vou surtar, mas nunca pensei em morte. Bem, eu penso que criança não pensa em morte e, até ontem, eu era quase uma criança. Fazia o que queria e para ser “bonzinho” dizia sim pra todo mundo. Tomo consciência de que muita gente que eu amava já morreu e, que, antigamente as pessoas viviam muito menos que isto.

Socorro! Estou tendo minha primeira grande crise existencial! Estou me conscientizando de que nos tempos atuais as pessoas vivem em média oitenta anos, e eu já vivi metade da vida sem grandes preocupações com a morte. A humanidade já superou grandes crises, sendo a AIDS uma das mais recentes, mas ainda não superamos um vírus invisível e letal que nos faz usar máscaras, e isto me assusta.

Portanto, não direi mais:

- Sim senhor! Sim senhora!

Agora vou tomar minha vida em minhas mãos, feito um cavalo selvagem, domá-la e viver! Não serei mais um! Não serei mais um personagem. As máscaras na cara de todos mostram-me que eu preciso falar e sorrir com os olhos. Ser eu mesmo, para não ser mais um animal em uma manada, fazendo o mesmo que os outros, seguindo um líder...

Eu quero olhar a lua e imaginar que nem ela será limite para meus sonhos. Quero poder dizer “não” sem sentir culpas porque as culpas e o pecado forjaram minha vida durante muito tempo. E, se eu quiser atingir as estrelas sei que consigo porque tenho imaginação e meus sonhos pertencem somente a mim... Portanto, eu posso, se eu quiser.

Haverão os que me chamarão de louco, porém se eu fizer “loucuras” serão loucuras que abrirão minhas estradas, na busca do meu EU e da FELICIDADE que eu tenho direito porque a felicidade é um direito do ser humano e eu sei que fazendo isto estarei indo de encontro a tudo o que sempre quis, no sentindo de me sentir realizado com a vida que tenho.

É chegada a hora de queimar todas as culpas que me impediam de extirpar as dores por não ser eu mesmo. É chegada a hora de viver cada dia como se fosse o último porque a vida é um presente e, se é presente, tenho que vivê-la hoje, agora, urgente!

Aviso a todos que estou desembrulhando a vida. Estou desembrulhando meu presente!

Daqui a pouco descubro que já estarei com setenta, oitenta anos e não quero estar arrependido...

 

Mário Feijó

17.09.2020

 

Este texto foi escrito numa homenagem ao grande amigo que se acha meu filho postiço Vladimir Cunha, uma luz em minha vida. Parabéns pelo teu dia meu querido.

 

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

TOC-TOC-TOC

 


TOC-TOC-TOC

 

- Não adianta bater!

Dizia ela à amiga.

Quero ver você

Mas não abrirei esta porta

 

Porém a vida continua

Apesar de cada um procurar

Uma caverna para se esconder

Somos novamente bichos entocados

 

O medo entrou em nossas vidas

Feito culpa por pecados de amor

Antes havia a culpa por tudo

Agora restou o medo em abraços contidos

 

Toc-toc-toc

Vamos abrir nossos corações

Para deixar entrar e sair o amor

Exterminando o vírus da indiferença ao próximo

 

Mário Feijó

14.09.20

 

sábado, 12 de setembro de 2020

MEDO E SOLIDÃO




MEDO E SOLIDÃO

 

A bruma entra na cidade

Feito sangue correndo nas veias

Passam por ruas largas

Tomam conta da natureza e das pessoas

 

Respira-se um ar de maresia

As roupas ficam umedecidas

Os ossos doloridos estalam

Os corpos não querem acordar

 

Todos se escondem de um vírus universal

Desde que o verá se foi

Agora já é fim do inverno intenso

 

Ninguém sabe o que é pior

O medo do vírus que ameaça nossas vidas

Ou a dor da solidão por ele imposta...

 

Mário Feijó

11.09.20


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O CIRCO





 O CIRCO


A chuva cai

Lavando a cara do palhaço 

Que sorria


Por baixo de sua máscara

O que vemos é apenas

Dor e sofrimento


O burro que se vestia de gente

Cai de quatro

E começa a comer todos os papéis 

Até mesmo aquele que lhe dava identidade 


A banda toca 

Cada músico a sua música 

Como se tocassem suas vidas

Enquanto o maestro perdido faz gestos descoordenados...


MARIO FEIJO

07.09.20