Carne sangra
rio que corta
Lágrima que escorre
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14.11.20
Este blogger contém as obras, artes plásticas e poesias de Mário Feijó. Também mostra os trabalhos em que o artista está envolvido no momento...
CORTANDO LAÇOS
Há muito tempo
Não jorravam mais lágrimas
Destes olhos meus
Eu era apenas um rio seco
Desde as várias mortes
Que por mim passaram
Aí eu descubro o amor
E desgraçadamente me entreguei
- corpo e alma –
Como sempre faço
E fomos indo
Tu sempre partindo
Restando pra mim as angústias
Nas horas do adeus
Eram estradas a serem vencidas
E todas as estradas me apavoram
Muitas delas foram fatais
Então peguei tua preciosa faca
E cortei nossos laços...
Mário Feijó
14.11.2020
NEGRAS INACABADAS
São obras não concluídas
Feito sonhos de amor
Pão que vai ao forno
E por algum motivo queimam
É o céu ameaçador
A chuva que não cai
Dia límpido e ensolarado
E que por descuido queima a pele
São negras inacabadas
São poemas sem rimas
Sem métrica, sem harmonia
Sem música, sem ritmo
E tal qual um dia
Que de repente
Troveja, despeja raios no solo
E se transforma em uma tormenta...
Mário Feijó
0.11.2020
SONHOS QUE ARDEM
Sonhos
Rios
Estradas tristes
Sorrisos amargos
Ruas
Rios alagados
Crianças que choram
Fome!
Fogo
Animais queimando
Fumaça
Tosse! Muita tosse!
Pantanal alagado
Distorção
Um pantanal queimado
E mais árvores para derrubar... caos!
Mário Feijó
25.10.10
CHINELOS TROCADOS
Todos os dias ao sair da cama
ela colocava seus pés alvíssimos no piso gelado da casa. Para que não apanhasse
“friagem” nos pés, como diziam os antigos, deixávamos ao seu alcance uma
sandália de borracha para que calçasse.
Cabelos desgrenhados, parecendo
fios de lã que haviam sido desenrolados por um gato, ela não se preocupava em
arrumá-los, vez ou outra, mal os tirava da frente dos olhos. Não dava para
achar o fio da meada, caso alguém resolvesse procura-lo.
Os olhos dela eram de um azul
celestial, beirando a transparência. Se um dia teve dentes, não havia mais sinal
deles em sua boca.
Na cozinha todas as seis
crianças se sentaram ao redor da mesa. O cheiro de café tomara conta daquela
pequena mesa de café.
De repente, aparece na cozinha,
ninguém menos que ela – vó Angelina – atônita! Talvez tenha acordado com a
algazarra de todas aquelas crianças famintas que se preparavam para ir à
escola.
Fez-se silêncio!
Todos tinham medo dela. Não que
fizesse mal a qualquer um, mas era sabido que a avó paterna, em seus setenta e
sete anos, estava senil. Mesmo que não contassem bastava olhar para aquele
vestido azul clarinho com flores também azuis, de um fino tecido de algodão. Por
cima, ela sempre usava um cardigã cinza de lã, podia ser verão ou inverno. Nos pés
ela trazia as tais sandálias, sempre com os pés trocados.
O pai das crianças fazia um
café que, geralmente, era servido com leite fresco, colhido por um dos filhos
na frente do portão, que o leiteiro lá deixara. Os pães também eram torradinhos
e frescos que o pai comprara antes de acordar as crianças, na padaria do Sr.
Marcelino.
O filho mais velho ajudava a arrumar
os menores e depois tinha que entrar no quarto dos pais (a mãe ainda dormia)
para pegar um penico cheio de urina e merda para despejar na “patente” que
ficava no fundo do quintal. Algumas vezes o penico transbordava em suas mãos
parte dos detritos fedorentos. Era uma rotina tão marcante que o menino mesmo
quando já tinha quase setenta anos, lembrava daquele cheiro fétido e
desagradável.
Tudo retornava à sua mente
quando o dia amanhecia e sem perceber, ao se levantar, ele calçava as sandálias
que estavam ao lado da cama e sentia algo diferente: os chinelos estavam
trocados sob seus pés...
Mário Feijó
22.10.20
AH! SE NÃO FOSSEM...
Ah! Se todas as
dores do mundo
Não me caíssem nas costas
Eu teria mais tempo para olhar o mar
Mais tempo para cheirar as flores
E mais tempo para te amar
Porque o mundo está muito machucado
Por uma pandemia que já dizimou a muitos
E aniquilou tantos outros
Os meus olhos estão nublados
Por prantear o mundo
Pela fumaça que queima o “Pantanal”
E destrói grande parte da Amazônia
Ah! Se não fossem as dores do mundo
Dos animais que agonizam e morrem
Das pessoas que passam fome
Ai sim eu diria: como é bom
Viver no Planeta Terra!
Mário Feijó
17.10.20
NÃO VOU MAIS CHORAR
E se amanhã eu chorar
Quero que seja de alegria
Porque já chorei muito atualmente
E viver aos prantos é uma agonia
Não quero mais pensar em doenças
Nem tampouco em pandemia
Quero poder sentir o sol
E absorver dele a luz que irradia
Quero soprar ao vento palavras de amor
Sentir saudade dos muitos que se foram
Lembrar-me de Sônia e de Luzia
Mulheres que às vezes me davam nos nervos
Mas normalmente para elas eu sorria
Quero ter novamente
A vida que tive um dia...
Mário Feijó
16.10.20
LUZIA - A MINHALMA CHORA... E A
CULPADA É VOCÊ
A minh'alma chora neste momento
porque não verei mais teu sorriso lindo e encantador. Não verei mais teu corpo
e cara bonitos que encantavam a todos nós.
A minh'alma chora porque eu aprendi a
amar, mas não me ensinaram a esquecer, e você será eternamente inesquecível. Eu
era somente teu amigo, mas poderia ser teu irmão, conforme dizias.
A minh'alma chora e vai chorar por
muito tempo pelas saudades que eu já sentia por não te ver lá no hospital,
queria ir lá e te dar uns tapas, por nos abandonar de forma tão abrupta, nós
não merecíamos isto. Agora as lâmpadas da casa da Graça não queimarão mais
porque você não está lá para queimá-las (isto é uma piadinha nossa, mas você
entende).
A minh'alma vai chorar toda vez que
uma brisa suave bater em meu rosto, porque eu vou lembrar-me de você
embaralhando cartas e eu dizendo que o vento me deixaria gripado.
A minh'alma vai chorar quando eu
olhar para o céu e pensar que no meio de tantas estrelas você é mais uma que
estará lá brilhando e piscando pra mim, como sempre fazia de forma delicada,
amável e brejeira.
A minh'alma continuará chorando
enquanto minha sanidade existir, mas ela nem existirá por tanto tempo assim,
afinal não somos eternos... Espere não existiremos muito tempo por aqui, afinal
a vida é curta, rápida e passageira, qualquer hora a gente se encontra em algum
lugar deste enorme universo. Aí sim, vamos soltar o riso quando você disser:
BATI...
Beijos querida amiga, irmã. Descanse
em paz e que Deus te abençoe... estamos aqui rezando por você.
Mário Feijó
13.10.20
INGRATIDÃO E MUDANÇAS
Nossos dias são incertos
A vida é assim!
Ela não dá garantias do amanhã
O que importa é o presente
O presente é um presente em nossas mãos
Se for para ter medo não podemos segurar
Tudo nos escapará feito água corrente
Que não conseguimos reter
Ela vai embora
Por caminhos muitas vezes tortos
Nos rios que rasgam
Pela vida afora
Há sempre dor:
Por um amor perdido
Por ingratidões
Por mentiras que dizem a nosso respeito!
Mário Feijó
13.10.20
DÓI MUDAR
Há sempre muitas dores
Em qualquer partida
Eu diria que a dor
É inerente a qualquer mudança
Um bebê que nasce
Causa primeiro dores na mãe
Para depois gerar
Uma enorme felicidade
Queremos sempre o comodismo
Temos medo do que pode vir
E por isto deixamos
A felicidade ir embora
A vida não é para quem tem medo
Ela é feita para quem tem coragem
Primeiro para admitir nossos erros
E depois para mergulhar sem saber onde cair...
Mário Feijó
13.10.12
DESEMBRULHANDO O PRESENTE (primeira
crise)
Faz muito pouco tempo que eu era uma
criança querendo ser adulto. Agora acordo e descubro que quarenta anos se
passaram, em minha existência.
Não! Eu não vou surtar, mas nunca
pensei em morte. Bem, eu penso que criança não pensa em morte e, até ontem, eu
era quase uma criança. Fazia o que queria e para ser “bonzinho” dizia sim pra
todo mundo. Tomo consciência de que muita gente que eu amava já morreu e, que,
antigamente as pessoas viviam muito menos que isto.
Socorro! Estou tendo minha primeira
grande crise existencial! Estou me conscientizando de que nos tempos atuais as
pessoas vivem em média oitenta anos, e eu já vivi metade da vida sem grandes
preocupações com a morte. A humanidade já superou grandes crises, sendo a AIDS
uma das mais recentes, mas ainda não superamos um vírus invisível e letal que
nos faz usar máscaras, e isto me assusta.
Portanto, não direi mais:
- Sim senhor! Sim senhora!
Agora vou tomar minha vida em minhas
mãos, feito um cavalo selvagem, domá-la e viver! Não serei mais um! Não serei
mais um personagem. As máscaras na cara de todos mostram-me que eu preciso
falar e sorrir com os olhos. Ser eu mesmo, para não ser mais um animal em uma
manada, fazendo o mesmo que os outros, seguindo um líder...
Eu quero olhar a lua e imaginar que
nem ela será limite para meus sonhos. Quero poder dizer “não” sem sentir culpas
porque as culpas e o pecado forjaram minha vida durante muito tempo. E, se eu
quiser atingir as estrelas sei que consigo porque tenho imaginação e meus
sonhos pertencem somente a mim... Portanto, eu posso, se eu quiser.
Haverão os que me chamarão de louco,
porém se eu fizer “loucuras” serão loucuras que abrirão minhas estradas, na
busca do meu EU e da FELICIDADE que eu tenho direito porque a felicidade é um
direito do ser humano e eu sei que fazendo isto estarei indo de encontro a tudo
o que sempre quis, no sentindo de me sentir realizado com a vida que tenho.
É chegada a hora de queimar todas as
culpas que me impediam de extirpar as dores por não ser eu mesmo. É chegada a
hora de viver cada dia como se fosse o último porque a vida é um presente e, se
é presente, tenho que vivê-la hoje, agora, urgente!
Aviso a todos que estou desembrulhando
a vida. Estou desembrulhando meu presente!
Daqui a pouco descubro que já estarei
com setenta, oitenta anos e não quero estar arrependido...
Mário
Feijó
17.09.2020
Este
texto foi escrito numa homenagem ao grande amigo que se acha meu filho postiço
Vladimir Cunha, uma luz em minha vida. Parabéns pelo teu dia meu querido.
TOC-TOC-TOC
- Não adianta
bater!
Dizia ela à
amiga.
Quero ver
você
Mas não
abrirei esta porta
Porém a vida
continua
Apesar de cada
um procurar
Uma caverna
para se esconder
Somos novamente
bichos entocados
O medo
entrou em nossas vidas
Feito culpa
por pecados de amor
Antes havia
a culpa por tudo
Agora restou
o medo em abraços contidos
Toc-toc-toc
Vamos abrir
nossos corações
Para deixar
entrar e sair o amor
Exterminando
o vírus da indiferença ao próximo
Mário Feijó
14.09.20
MEDO E
SOLIDÃO
A bruma
entra na cidade
Feito sangue
correndo nas veias
Passam por
ruas largas
Tomam conta
da natureza e das pessoas
Respira-se
um ar de maresia
As roupas
ficam umedecidas
Os ossos
doloridos estalam
Os corpos
não querem acordar
Todos se escondem
de um vírus universal
Desde que o
verá se foi
Agora já é
fim do inverno intenso
Ninguém sabe
o que é pior
O medo do
vírus que ameaça nossas vidas
Ou a dor da
solidão por ele imposta...
Mário Feijó
11.09.20
O CIRCO
A chuva cai
Lavando a cara do palhaço
Que sorria
Por baixo de sua máscara
O que vemos é apenas
Dor e sofrimento
O burro que se vestia de gente
Cai de quatro
E começa a comer todos os papéis
Até mesmo aquele que lhe dava identidade
A banda toca
Cada músico a sua música
Como se tocassem suas vidas
Enquanto o maestro perdido faz gestos descoordenados...
MARIO FEIJO
07.09.20
A PLANTA
Hoje nasceu mais uma raiz
Que me vincula à terra
Sou planta e daqui não posso sair
Já dei muitas flores
Que de tão comuns
Passaram imperceptíveis
Os frutos foram devorados
Alguns apenas apodreceram no chão
Suas sementes não frutificaram
Viraram húmus no solo seco
Galhos novos brotaram
Alguns serviram de sombra aos desabrigados
Outros foram utilizados por pássaros
Que cantavam alegremente a vida...
Mário Feijó
07.09.20
VOCÊ É A POESIA
Tu me pediste
Para ti um poema escrever
Mas ele já estava escrito
No dia em que fui te ver
Escrito em teus olhos
Brilhantes feito estrelas
E como elas tão preciosos
Muito mais que diamantes
Para mim não existem palavras
Que eu possa te descrever
Porque teu cheiro é a poesia
Que eu tento aqui dizer
Não que eu queira te iludir
Com algumas palavras bonitas
Porque disto eu não preciso
E sei que me acreditas...
Mário Feijó
16.10.1979
Para a amiga Profa. Lila em Florianópolis - UFSC
AS MENINAS DO 2º. ANDAR
Olho contente pra cima
E vejo o segundo andar
O motivo é as belas meninas
Que trabalham por lá
Sorrindo subo as escadas
Contando um, dois, três,
Razão e motivo eu tenho
Pois estou mais perto de vocês
Quatro, cinco, seis
Continuo as escadas subindo
Pois as belas e simpáticas garotas
Trabalham e estão sempre sorrindo
Flores mulheres, meninas flores
Perfumadas, como num jardim
Que pena este perfume
Não seja somente pra mim
Sorriso espanta tristeza
E eu garanto que é uma beleza
Ver todas sorrindo assim:
Faces coradas, moças amadas
Tanta beleza espalhada
Pelas moças do segundo andar...
Mário Feijó
31.08.1979 (Florianópolis – UFSC)
Poema escrito para as amigas Marlene, Vanderli e Lúcia
TEMPO DE
MUDANÇAS
Nada muda
pra pior
Mudanças sempre
causam medo
Nesta pandemia
muitos estão morrendo
Outros irão
aprender que não dá pra viver só
Temos que
olhar para o próximo como irmãos
Porque estamos
em um mesmo barco
Que é o
planeta Terra
Somos irmãos
e não para
Para que nos
escondamos em nossa cabine
O momento é
de se ajudar
Esta pandemia
vai mudar as pessoas
Temos que
subir nossa vibração
Uns subirão
aos céus
Outros subirão
de patamar evolutivo
Isto deverá
servir para refletir
Por enquanto
eu não vejo mudança em nada
Tem muita
gente fazendo o mesmo de sempre
Ou apenas se
escondendo
Para não
praticar a caridade
Não pensam
nos outros
Não pensam
nos que estão sofrendo com frio e fome
E a caridade
não é só dar dinheiro
Mas dar
amor, carinho e atenção
Eu não sou
um messias
Mas pensem,
reflitam, curem suas almas
Só assim a
cura virá...
Mário Feijó
17.08.20
COISAS DA PRAIA
Um
cachorro latindo para o céu
Um
casal brincando à beira mar
Um
homem correndo sem parar
Uma
mulher bonita a caminhar
Enquanto
isto, displicentes,
As
garças pescam
As
ondas batem na praia
A maresia
molha as dunas
Pombos
se aglomeram
Em
torno de uma vasilha de ração
E tatuíras
se escondem
Dos
pássaros que as querem devorar
O
poeta apenas caminha
Observa
a natureza
Fotografa,
escreve, reflete
E deixa
suas marcas na areia...
Mário
Feijó
17.08.20
BRUXINHA
Todos
os dias
Tenho
me encontrado
Com
uma bruxinha boa
Ela
tem cabelos coloridos
Olhos
rasos d’água
De
uma bica
Que
mata minha sede
Há
dias em que seu sorriso
É
o único alimento
Que
recebo
Noutros
há sonhos
De
ver nossas almas voando
Eu
na carona de sua vassoura
Fazendo
mágicas de amor...
Mário
Feijó
15.08.20
HOJE
Hoje
é um daqueles dias
Que
eu não gostaria
De
ter acordado
Queria
não estar neste mundo
Onde
tudo é dor
Onde
a falta de amor
Nos
faz ficar doentes
Além
das dificuldades naturais da vida
Conviver
com o desamor
É
algo que afeta o corpo
Que
cria feridas na alma
E
assim esfolado
Lambendo
minhas feridas
Encontro
tempo para gritar
Amai-vos
uns aos outros...
MARIO
R. FEIJÓ
07.08.20