O
COMEDOR DE VENTOS
Há
muito tempo venho passando pelas ruas de Osório. Osório é uma pequena e
encantadora cidade no litoral norte do Rio Grande do Sul.
Há
uns quarenta anos, quando por aqui passava eu percebia que os ventos na cidade
eram assustadores, irritantes e “quase” amaldiçoados por alguns. Já ouvi dizer
que quem gosta de vento é louco.
Hoje
os ventos de Osório são benditos e a causa de sua crescente prosperidade. Osório
passou a ser “a Terra dos Bons Ventos”. Basta olhar para o horizonte e ver uma
quantidade infinda de torres eólicas. Na cidade parece que os ventos sumiram...
Voltei
a ser criança...
Aquelas
torres monstruosas me assustam. Dizem que elas transformam vento em energia...
Não sei não...
Tivemos
uma “presidenta” que queria engarrafar o vento. Como será que se faz isto? Será
que não há perigo de o vento não se aquietar e levar a garrafa junto?
Não
entendo isto, sou criança... tenho medo daqueles cata-ventos monstruosos. Para mim
eles são comedores de vento. Pelo que eu vejo eles comeram os ventos da cidade,
mas os ventos que ainda sobram não são mais mal vistos.
Em
outros tempos eu fazia cataventos de papel e os soprava pelo mundo. Era outro
tempo, uma outra infância. Um tempo onde o meu país era o “país das maravilhas”.
Tínhamos sonhos e esperança. Eu vivia encantado. Hoje tento, mas não consigo
mais me desencantar. Tudo está desencantado. Deixa pra lá... voltemos à Osório.
Passeio
pelas ruas tranquilas. Encontro gente educada, mesmo num país em
desenvolvimento, Osório cheira a primeiro mundo. Há esperança em Osório. A cultura
é primordial, apesar de alguns políticos não lhe darem o devido respeito, mas o
povo de Osório é um abnegado e continua fazendo saraus e cafés poéticos (tipo
os promovidos pelo Espaço Cultural Conceição). Existe na cidade uma Academia de
Letras que perambula de um lado para o outro sem uma sala para se reunir porque
não tem sede, mas a Biblioteca frequentemente lhe abre as portas (por falar em
Biblioteca Pública: que espaço maravilhoso e as meninas que lá trabalham são
incansáveis em promover eventos). Vale à pena visitá-la. Há um encanto especial
nela.
A
feira do livro sobrevive. A faculdade cresce a olhos vistos porque não é pública.
O Teatro prospera, com alguns abnegados à sua frente.
Enquanto
isto os ventos sopram escorrendo da Serra do Mar que termina ali na cidade,
descendo pelo morro da Borrússia – lugar aprazível e que deve ser visitado. Lá em
cima Jesus, se tivesse ficado por 40 dias e 40 noites teria sido mais feliz
meditando. Com certeza o Diabo não o tentaria.
É,
eu não sou mais criança. Não tenho medo dos ventos. Nem quando gemem na minha
janela. Apenas escuto seus recados, apenas lembro de suas viagens pelo mundo e
vindo se espalhar pelas lagoas da região contando histórias, criando lendas,
sendo devorados pelos Cataventos da minha infância, crescidos agora nas terras
de Osório.
Mário
Feijó
27.06.16
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