terça-feira, 23 de junho de 2009

O ÚLTIMO GRITO




O negro desceu o morro
Feito enxurrada em dias de muita chuva
Foi levando tudo por onde passava
Cenho franzido, cara fechada...

Tinha que pescar para não morrer de fome
Ou roubar (o que parecia mais provável)
Pois emprego ele não tinha – nem chances.
E com filhos para comer...
Perguntava a si próprio: o que fazer?

Era desespero ou desilusão
Não dava para afirmar o certo.
Por certo mesmo só o “sistema de quotas”
E o “bolsa família” – triste sina...

Libertou-se das correntes que o faziam escravo
Mas chances não tinha – era escravo do “sistema”
E descia o morro feito chuva em tarde cinzenta...

E mais tarde já estava misturado no asfalto
– corpo estendido no chão...
– Liberdade! Foi seu último grito antes de morrer...

Mário Feijó
23.06.09

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