quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ENTREGA POR AMOR



ENTREGA POR AMOR

Eu não tenho medo de me dar
O que me assusta são as consequências
Da entrega sem restrições

Minha seiva corre líquida
Por todo o meu caule
Até meus botões em flor

Abro-me ao sol
Não tenho medo do orvalho
E me exponho à luz do luar

Sou o brilho da névoa fina
Caindo nas tardes de inverno
Consolo-me com o frescor do sereno
Matando a sede de pequenos insetos

A luz é meu guia
Na minha mente não há mais
Pecados que se comete por amor
Abro cada pétala sem medo

Mário Feijó
27.08.14

terça-feira, 26 de agosto de 2014

PÉTALAS ABERTAS




PÉTALAS ABERTAS

Sempre tão consciente
O meu cérebro se expõe
Eu não quero luas decrescentes
Eu não quero marés vazantes

Torço sempre por luas cheias
Por rosas abertas, expostas,
Sem medo de se abrir
E de serem exploradas por insetos

Sou assim flor aberta
Jasmim que deixa de ser botão
Que exala perfumes ao mundo
Mandando recados ao vento

Venha! Não sou mais botão
Minhas pétalas se abriram em flor
Não se assuste com minha suavidade
Há muita cor no pólen que eu ofereço

Mário Feijó
26.08.14

sábado, 23 de agosto de 2014

SONETO IN VERSO



SONETO IN VERSO

Eu já não sou mais criança
Porém mesmo na maturidade
Eu sou útil à vida

O amor não se apagou
Só tenho medo é de nele
Eu um dia me queimar

Brasas não se transformaram em cinzas
Elas crepitam dentro de mim
Como se o inferno
Aqui estivesse em festa

Sopre cinzas e meus pelos
Eriçados se atiçam
Feito gases inflamáveis
Que não podem se apagar...

Mário Feijó
23.08.14

METAMORFOSES DE UM PECADO



METAMORFOSES DE UM PECADO

A solidão nos impõe
Desejos pecaminosos
Algumas vezes induzindo
Ao caminho da luxúria

Há vezes em que no escuro
Eu já não sei que bicho sou
Ontem mesmo eu era uma lagartixa
E subia pelas paredes à tua procura

Noutro dia fui morcego
Tinha a cabeça virada.
Mas já fui cobra rastejante
Só para entrar na tua toca

O que eu gosto mesmo
É das horas em que sou flor
Só para te dar meu néctar
E te envolver no meu perfume...

Mário Feijó
23.08.14

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

DOIS IRMÃOS


DOIS IRMÃOS

        - Venha cá Romeu! Vamos cavalgar antes que a bruma da noite chegue e nos percamos.
- Não Rodrigo! Deixe-me descansar na rede. Aqui pelo menos eu ganho mais e não me perco.
Rodrigo era um daqueles homens que gostava de descobrir coisas novas, ganhar o mundo...
 Romeu? Era seu irmão mais velho, cansado da vida. Desiludido. Não acreditava que sua sorte fosse mudar. Preferia o mundo que já conhecia. Contentava-se com pouco. Quando precisava de comida pegava uma vara, o anzol e iscas e ia pescar. Bastava-lhe ter o pão de cada dia, mais nada. Agradecia a Deus o pouco que sempre teve e bastava.
Rodrigo foi-se embora. Decidira desbravar o mundo. Lutar contra monstros desconhecidos.
- Eu já não sei se o que quero para mim é ficar esperando as armadilhas da vida para depois lutar, disse Rodrigo.
- Eu prefiro ir à luta e vencer o que encontrar pela estrada. Vencerei a fome, o desemprego, a falta de moradia, os meios de transporte e quando achar o que quero construirei meu abrigo definitivo nesta terra de ninguém.
Pensava Rodrigo que não podia ficar esperando a vida acontecer. Ela aconteceria forjada por sua espada invisível da vontade em querer mudar.
Desde que os pais morreram Rodrigo e Romeu ficaram naquela casinha simples. Era um pequeno sitio que poderia suprir necessidades básicas, mas Rodrigo queria mais que aquilo.
Romeu acomodara-se. Era o irmão mais velho. Rodrigo não se contentava com as incertezas e o esperar. Por isto decidira-se a partir com o pouco que tinha e uma pequena mochila com roupas básicas. Tinha apenas 18 anos. O irmão tinha 22.
Rodrigo foi à luta e passados 20 anos havia montado um pequeno negócio que progredira. Tinha agora mulher e dois filhos, uma casa confortável e dois filhos que iam pra faculdade.
Romeu continuou no sitio que não mudara muito. Também casou-se e tinha seis filhos. O mais velho com apenas 15 anos e o mais moço com três.
A única novidade no sitio eram as cabras que sua esposa trouxera e as criava. Fazia queijos, pães e doces que vendia na feira livre da cidade. Não mudaram muito. Eram simplórios. Romeu continuava se contentando com pouco.
Rodrigo queria mais e continuava querendo...

Mário Feijó
22.08.14