quarta-feira, 2 de abril de 2014

ASAS DA ÁGUIA



ASAS DE ÁGUIA

Eu, que sou sempre alegre,
Hoje acordei triste, depressivo
Com dores por todo o corpo
Como se minhas energias
Tivessem sido levadas
Pela tempestade noturna...

Pensei que por baixo da ponte
Haviam sido levadas pelo rio
E que talvez a encontrassem no mar

Ondas bateram aos meus pés
Havia no mar energia
Mas não eram as minhas

Fechei meus olhos
E viajei nas asas dos pássaros
Procurando a razão do vácuo
Que em mim tentava morar

Deixei-me levar pelo vento
Abri meus braços feito asas de águias
E sobre as rochas renovei minhas energias...

Mário Feijó
02.04.14

terça-feira, 1 de abril de 2014

BRISA – A PRINCESA DOS VENTOS






BRISA – A PRINCESA DOS VENTOS

Durante muito tempo ela contara com a cumplicidade do Vento, mas aquela noite, especialmente aquela noite ele tratou de espalhar seus segredos aos quatros cantos da terra. Sempre fora um amigo, mas aquela noite comportava-se feito amante traída, vingativo e cruel.
Tinha seu pai como aliado. Ele a amava desde antes do ventre intumescido de sua mãe. Parecia um amor de outras vidas. Ele a amava como se fora uma princesa, idealizada nas fábulas infantis.
Senis os dois?
Não! Talvez ele que acreditava em sonhos.
Ela era pura realidade, mas não contava com o desatino do Vento, para arrancar-lhe as folhas, como faz no outono com todas as plantas.
Ela queria apenas mais respeito e seus segredos guardados. Porém naquele dia o Vento não era apenas um vento qualquer, ele era mais que isto, vinha vestido de tufão, tamanha era a sua violência.
Ela, uma simples Brisa, sentia-se ultrajada, rosa desfolhada, desnuda. Não queria ter sua vida espalhada feito panfletos ao vento.
Brisa era assim, guardava o perfume das flores, dava frescor à vida, transmutava o ar, era tão suave que todos a admiravam.
Sua mãe Tempestade apenas por ela chorava. Raios, seu pai, geralmente vinha junto com sua mãe e quando estavam furiosos, Brisa se recolhia. Conhecia-os. Sabia que não eram maus, apenas trabalhavam para Natureza e tinham que cumprir com as determinações do mestre das Intempéries...

...

Mário Feijó
01.04.14

segunda-feira, 31 de março de 2014

DESTINOS



DESTINOS

Lanço raios olhares
Toda vez em que há
Uma trovoada entre nós
Eu me entrego ao vento
E nele sou a duna
Que se transforma
Transportada pela forma

É meu destino te amar
Não sei se este o teu
Pareces ser apenas a trovoada
Antes de todas as tempestades

Quem não se arrisca na enxurrada
Jamais se molhará na chuva
Mas também desconhecerá
As benesses que o amor oferece...

Mário Feijó
31.03.14

sexta-feira, 28 de março de 2014

POBRE É FILHO DE RATO QUE NASCE PELADO



FOTO: internet - Isto é uma família de gambá (tá gente!)


POBRE É FILHO DE RATO QUE NASCE PELADO

- Ôooo D. Janeeete! Aquela pobre tá aí de novo... acho que veio buscar as roupas...
Esta foi a frase que Maria ouviu quando chamava no portão da casa, para buscar a roupa.
Era uma lavadeira que naqueles idos dos anos 60-70 tinha esta como única alternativa para criar os filhos.
Ficou indignada com a expressão, ainda mais que a ouvira da empregada da casa, pessoa tão “pobre” quanto ela.
Maria criava os seis filhos sozinha, com muita dignidade, depois que o marido morrera com cirrose, depois de tanto beber.
E a outra repetia:
- Dona Janeeete, está aqui aquela pobre coitada que vem buscar a roupa.
Aquilo lhe soava como pejorativo, ainda mais vindo de uma pessoa da mesma classe social.
Maria sentia preconceito na referência que a outra fazia de si. Pensando nisto, sentia-se ultrajada porque se sentia uma trabalhadora, com tanta dignidade quanto a outra, só porque aquela usava uniforme e ela não.
Maria não sabia fazer outra coisa. Sempre fora lavadeira e ia nas casas buscar as roupas e as trazia lavadas, dobradas e passadas. Na sua época as mulheres não tinham muitas alternativas, poucas trabalhavam fora, no máximo, trabalhavam no comércio. A maioria ou era doméstica ou lavadeira. Havia ainda as que não saiam de casa: as costureiras. Sua avó não fora costureira, mas uma bordadeira e também ia nas casas buscar e entregar os bordados que fazia.
Percebia que pobre não gosta de pobre, e repetia isto para si mesma, não sem antes gritar indignada para a outra:
- Pobre? Pobre é filho de rato que nasce pelado.


Mário Feijó
28.03.14

QUANDO O AMOR NÃO BASTA



QUANDO O AMOR NÃO BASTA


Eu lhe dei todo o meu amor
Presentes caros, até joias eu dei.
Dei carinho e a tratava como se
Fora a rainha da minha vida.

Tentava adivinhar seus pensamentos
Atendia a todos os seus desejos
Nada lhe faltava, parecia insatisfeita
Nem percebia a minha existência

Eu não sabia mais o que poderia fazer
Para que ela me amasse
Com a mesma devoção
Que eu lhe dedicava...

Chegou um determinado dia em que
Eu percebi que eu não me amava o suficiente
Não me respeitava naquela relação
Faltava o meu amor próprio por mim... aí basta!

Mário Feijó
28.03.14