segunda-feira, 19 de novembro de 2012

À TUA ESPERA



À TUA ESPERA

Conto as horas que passam
Os dias, as noites e os gemidos do vento
Tudo parece o mesmo
Até a lua crescente de ontem
Hoje estava no mesmo lugar
Eu também, porém tu não voltas...

O que será que acontece contigo
Enquanto eu fico à espera?
Era só o que eu queria:
Que tu estivesses aqui, agora...

O meu corpo sofre
A abstinência da tua ausência
A Minh’alma parece sumir
Feito água que se infiltra numa rachadura...

Mário Feijó
19.11.12

ESQUECENDO DE MIM



ESQUECENDO DE MIM

Parece que tudo parou
Faz três dias que olho para o céu
E a lua crescente continua no mesmo lugar
Fico com a impressão que não cresceu
Está vazia feito eu...

As pessoas continuam suas vidas
O vento é o mesmo
Gemendo em minha janela
Como se me cobrasse uma reação

Parei de ter expectativas
Cansei de tudo, até de sofrer
Então tudo parece também parar
Feito a lua permanente no céu

Só minha velhice continuou a toda velocidade
Eu ganhei mais rugas
Os cabelos encanecem
E a minha memória quer
Que eu esqueça de mim...

Mário Feijó
19.11.12

DIAS DE SOLIDÃO



DIAS DE SOLIDÃO

                Hoje foi um daqueles dias em que pesou a falta de alguém ao meu lado, a falta de abraços que a vida não tem me dado, a falta de calor humano. As pessoas estão muito preocupadas consigo mesmas e eu não passo de um lixinho que pode ser jogado para debaixo do tapete. Pode ser até depressivo, mas não estou com dó de mim.
                O natal de aproxima, mas antes dele ainda tenho que passar pelo meu aniversário que me diz “viu? Sua vida está indo pro saco”. Este foi um ano em que eu não precisei de nada, além de ter feito três mudanças, eu só precisei de solidariedade. A única que foi solidária neste período foi Juliety (a cachorra poodle), porém eu tive que dá-la com medo que ela se atirasse da sacada muito baixa, mas quem tem vontade de se atirar da sacada agora sou eu...
Atraquei-me a uma garrafa de champanhe sozinho por falta de companhia. Estou a algum tempo pensando o que fazer nas festas de fim de ano. Queria ir para algum lugar, mas a desmotivação não me deixa nem escolher que lugar... meu sonho seria que alguém sugerisse “vem pra cá, minha cidade é um ótimo lugar, sossegado”, aí eu compraria uma passagem de avião e iria pra lá. E nem precisam cuidar de mim, eu sei me cuidar sozinho e também não sou sempre assim, geralmente sou uma pessoa melhor, alegre, mas ainda sopro minhas feridas...
Hoje passei o dia na cama, sem disposição para me levantar. Já fui até à academia que fica na frente da minha casa para me matricular. Penso que preciso de exercícios para produzir endorfinas, mas quem disse que fui fazer as aulas?
E as meninas nem percebem minha aflição (crio duas netas adolescentes, para quem não sabia)... Gente eu não quero pena, dó de ninguém, só quero um abraço, forças para prosseguir. Meus dias de vida doméstica estão me exaurindo. E meus problemas até são um pouco maiores, mas eu resolvi amenizar as tintas. Não sou e não quero ser “coitadinho”...
Estou cansando de fazer comida, de varrer a casa, de lavar louças. Não nasci pra isso, aprendi a fazê-lo, visto que já passei alguns perrengues na vida. Não me lamento por isto, pois consigo olhar para os lados e ver que tem muita gente em pior situação, mas o que eu posso fazer se neste momento o que mais precisava era de braços quentes ao redor do meu corpo.    
Resolvi escrevi sobre este dia e os dias que tenho passado, não para chamar atenção sobre a minha pessoa, mas porque sei que tem muita gente em situação pior que a minha. Precisamos reagir.

Mário Feijó
19.11.12

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

GAIVOTAS E SAUDADES


GAIVOTAS E SAUDADES

Como se não bastasse
A saudade a gritar
Dentro do meu peito
Gaivotas gritam na minha janela

Tento tapar os ouvidos
Mas os gritos da saudade
Estão dentro de mim
São silenciosos e me atormentam

Até o sol eclipsou-se
Nem dei importância
Eu também estou sem luz
Uma sombra a mais não fará diferença

A minha cama está gelada
Tomei uma garrafa de vinho sozinho
Cinzas caíram em minha janela
Seriam as do vulcão ou as dela?

Mário Feijó
15.11.12

A VIDA SEMPRE DÁ O TROCO


(Foto: Praia do Itaguaçu - Fpolis -SC autor: Mário Feijó)

A VIDA SEMPRE DÁ O TROCO

                Um dia eu pensei que o meu pai era um “idiota safado” quando aos quarenta e tantos anos ele ficou viúvo e arrumou uma nova companheira. Eu via aquela mulher como uma usurpadora de lares e o meu pai como um velho assanhado.
                A vida fez com que eu, aos sessenta anos, perdesse minha companheira num acidente. A família da minha companheira, já no dia em que ela havia sido cremada me perguntou:
                - você não tem um amigo para dividir um apartamento com você? Sugerindo que eu saísse da casa onde morávamos juntos há quase seis anos.
                Isto que eu estava com seis costelas (arcos costais) quebradas, duas vertebras e os dois pulmões perfurados... (em decorrência do acidente que havíamos sofrido juntos). E quando eu perguntei sobre prazos, a filha que sempre me tratou como se eu fosse seu pai, disse-me “eu não faria nada que minha mãe discordasse, pensei em trinta dias”. Eu saí da casa em vinte dias, diante de “tanto amor e solidariedade”... e se eu não gostasse tanto de você, nem deixaria você voltar para a casa...
                Cheguei à conclusão de que a vida só estava me dando o troco. Eu jamais fiz isto, porém o olhar que tive para com a substituta de minha mãe, com o meu pai. A vida estava me dando o troco...
Eu jamais fiz isto, porém olhar que eu tive para com a substituta da minha mãe e por não ter compreendido meu pai, fez com que a vida me ensinasse a me curvar diante dela. Foi um pagamento na mesma moeda com um pouco mais de crueldade. Eu penso que por ter um pouco mais de condições financeira pude sair com mais facilidade da situação, mas não sem dores, sem marcas, mas aquela pobre coitada, depois que meu pai também morreu perdeu-se pelo mundo e eu não soube mais nada a respeito dela...
O mesmo acontece comigo agora que me perco no mundo...

Mário Feijó
15.11.12