quinta-feira, 3 de abril de 2014

NA LATA




NA LATA

No silêncio da noite
Uma luz brilhante
Envolvia aquele casal
Que parecia tão apaixonado

Como se fora um gol
Do time que ele torcia
Os dois sofregamente
Beijaram-se...

Ela via estrelas
Ele na lata disse:
Eu sempre te amei

E olhando fixo nos seus olhos
Perguntou num rompante:
Quer casar comigo?

Mário Feijó
03.04.14

Exercício feito com palavras escritas pelos alunos da Oficina de Criação Literária: SILÊNCIO, BRILHANTE, GOL, ESTRELAS, LATA E OLHOS.



quarta-feira, 2 de abril de 2014

ASAS DA ÁGUIA



ASAS DE ÁGUIA

Eu, que sou sempre alegre,
Hoje acordei triste, depressivo
Com dores por todo o corpo
Como se minhas energias
Tivessem sido levadas
Pela tempestade noturna...

Pensei que por baixo da ponte
Haviam sido levadas pelo rio
E que talvez a encontrassem no mar

Ondas bateram aos meus pés
Havia no mar energia
Mas não eram as minhas

Fechei meus olhos
E viajei nas asas dos pássaros
Procurando a razão do vácuo
Que em mim tentava morar

Deixei-me levar pelo vento
Abri meus braços feito asas de águias
E sobre as rochas renovei minhas energias...

Mário Feijó
02.04.14

terça-feira, 1 de abril de 2014

BRISA – A PRINCESA DOS VENTOS






BRISA – A PRINCESA DOS VENTOS

Durante muito tempo ela contara com a cumplicidade do Vento, mas aquela noite, especialmente aquela noite ele tratou de espalhar seus segredos aos quatros cantos da terra. Sempre fora um amigo, mas aquela noite comportava-se feito amante traída, vingativo e cruel.
Tinha seu pai como aliado. Ele a amava desde antes do ventre intumescido de sua mãe. Parecia um amor de outras vidas. Ele a amava como se fora uma princesa, idealizada nas fábulas infantis.
Senis os dois?
Não! Talvez ele que acreditava em sonhos.
Ela era pura realidade, mas não contava com o desatino do Vento, para arrancar-lhe as folhas, como faz no outono com todas as plantas.
Ela queria apenas mais respeito e seus segredos guardados. Porém naquele dia o Vento não era apenas um vento qualquer, ele era mais que isto, vinha vestido de tufão, tamanha era a sua violência.
Ela, uma simples Brisa, sentia-se ultrajada, rosa desfolhada, desnuda. Não queria ter sua vida espalhada feito panfletos ao vento.
Brisa era assim, guardava o perfume das flores, dava frescor à vida, transmutava o ar, era tão suave que todos a admiravam.
Sua mãe Tempestade apenas por ela chorava. Raios, seu pai, geralmente vinha junto com sua mãe e quando estavam furiosos, Brisa se recolhia. Conhecia-os. Sabia que não eram maus, apenas trabalhavam para Natureza e tinham que cumprir com as determinações do mestre das Intempéries...

...

Mário Feijó
01.04.14

segunda-feira, 31 de março de 2014

DESTINOS



DESTINOS

Lanço raios olhares
Toda vez em que há
Uma trovoada entre nós
Eu me entrego ao vento
E nele sou a duna
Que se transforma
Transportada pela forma

É meu destino te amar
Não sei se este o teu
Pareces ser apenas a trovoada
Antes de todas as tempestades

Quem não se arrisca na enxurrada
Jamais se molhará na chuva
Mas também desconhecerá
As benesses que o amor oferece...

Mário Feijó
31.03.14

sexta-feira, 28 de março de 2014

POBRE É FILHO DE RATO QUE NASCE PELADO



FOTO: internet - Isto é uma família de gambá (tá gente!)


POBRE É FILHO DE RATO QUE NASCE PELADO

- Ôooo D. Janeeete! Aquela pobre tá aí de novo... acho que veio buscar as roupas...
Esta foi a frase que Maria ouviu quando chamava no portão da casa, para buscar a roupa.
Era uma lavadeira que naqueles idos dos anos 60-70 tinha esta como única alternativa para criar os filhos.
Ficou indignada com a expressão, ainda mais que a ouvira da empregada da casa, pessoa tão “pobre” quanto ela.
Maria criava os seis filhos sozinha, com muita dignidade, depois que o marido morrera com cirrose, depois de tanto beber.
E a outra repetia:
- Dona Janeeete, está aqui aquela pobre coitada que vem buscar a roupa.
Aquilo lhe soava como pejorativo, ainda mais vindo de uma pessoa da mesma classe social.
Maria sentia preconceito na referência que a outra fazia de si. Pensando nisto, sentia-se ultrajada porque se sentia uma trabalhadora, com tanta dignidade quanto a outra, só porque aquela usava uniforme e ela não.
Maria não sabia fazer outra coisa. Sempre fora lavadeira e ia nas casas buscar as roupas e as trazia lavadas, dobradas e passadas. Na sua época as mulheres não tinham muitas alternativas, poucas trabalhavam fora, no máximo, trabalhavam no comércio. A maioria ou era doméstica ou lavadeira. Havia ainda as que não saiam de casa: as costureiras. Sua avó não fora costureira, mas uma bordadeira e também ia nas casas buscar e entregar os bordados que fazia.
Percebia que pobre não gosta de pobre, e repetia isto para si mesma, não sem antes gritar indignada para a outra:
- Pobre? Pobre é filho de rato que nasce pelado.


Mário Feijó
28.03.14