MINHA
EXPERIÊNCIA COM A COVID-19
Praticamente 120 dias depois de testar positivo
para esta doença, ainda tenho resquícios dela.
Tudo começou como se fosse uma simples gripe,
mas no segundo dia fui ao posto especializado verificar o que era aquilo. No primeiro
teste: positivo.
Fazia uns dez dias que eu tinha tomado a
primeira dose da vacina. Tive a sensação de que estava com labirintite. Não conseguia
ficar de pé. A dor de cabeça era terrível. Tinha suores noturnos como nunca
tivera. Não sou dado a suar. Diminuiu meu paladar, apetite, e quase não sentia
cheiros. Mas eu já tinha feito uma cirurgia para correção do desvio de septo e
quase não sentia cheiros. Por isto não me era estranho. Estranho mesmo foi
comer maionese e sentir gosto de picles. Também os cheiros quase desapareceram
e eu ainda estou assim. Não sinto cheiros e o paladar tá ruim.
Outra coisa horrível que senti foi o desânimo,
e dias depressivos. Para eu fazer qualquer coisa era preciso um esforço hercúleo,
ainda está um pouco assim. Tenho que me esforçar muito para vencer isto. Algumas
vezes tenho que usar o telefone para pedir pra alguém me ajudar a levantar.
As dores de cabeça e as tonturas sumiram, mas
o cansaço e a falta de ar persistem. Ainda uso corticoide (por recomendação
médica), para as sequelas pulmonares registradas, em uma tomografia, que mostraram
20% do pulmão com problemas. Além das dificuldades respiratórias noturnas eu
pouco sentia tudo isto. Foi uma coisa rápida e avassaladora. Por sorte procurei
uma UPA nos primeiros sintomas, do que parecia uma gripe, sem febre alguma.
Quando constatado em exames de sangue que eu
estava com uma infecção já bem adiantada, eu não sentia quase nada, só um
incomodo na bexiga e rins. Mas já estava com uma grande infecção.
Em casa houve outra pessoa que também sentiu
tudo isto, mas na primeira semana tomando Tamiflu, Meclin, Azitromicina,
Amoxilina de 875 mg e Predinizona, logo melhorou e não testou positivo, mas tínhamos
contato direto. Eu me pergunto: como pode isto? Eu tive que voltar ao posto três
semanas consecutivas onde os sintomas permaneciam e a cada vez uma nova
batelada de remédios. Agora ainda uso uma bombinha de “Trimbow” para ajudar nas
sequelas pulmonares (cada uma custa R$ 373,00) e dura um mês.
Quatro meses depois de contaminado eu percebo
que não sou mais o mesmo. Não sei se voltarei a ser quem era, mas muita coisa
mudou em mim, inclusive mentalmente. Sinto-me mais esquecido, há coisas que
faço e não lembro. Por vezes sinto pequenos apagões de memória. Nada que eu
possa dizer, tornei-me um inútil. Não nada disso, mas me sinto diferente. Às vezes
tenho medo do que este vírus pode estar fazendo em meu corpo.
Percebo que meus sintomas foram brandos,
diante do que já ouvi de outras pessoas, não precisei ser hospitalizado, mesmo
assim sinto que a doença é cruel e foi devastadora em minha vida. Por mais eu
dissesse o que sentia, as pessoas não acreditavam e se eu estivesse sozinho em
meu apto, como geralmente fico, penso que não teria sobrevivido. Faltava forças
para levantar da cama. Lembro um dia de ter pego o telefone e no whats dizer no
meu grupo que estava com vontade de comer uma sopa, mas não tinha animo para
levantar. Uma amiga veio à minha casa e trouxe uma que tinha feito para
congelar. Eu já tinha passado meu período de contágio, mas parecia que estava
com lepra, alguns tinham medo de se aproximar. É cruel também isto. Penso que
alguns devem se sentir como eu me senti, outros passaram muito mal, e muita
gente que morreu deve ter sofrido horrores. Não é fácil tudo o que esta
pandemia tem causado nas pessoas, nas famílias, nos trabalhadores. E a gente
fica de mãos amarradas olhando àqueles que podem e se utilizam do momento para
fazer corrupção.
Mesmo assim eu penso que as pessoas devem se
vacinar. Acredito que se não tivesse sido vacinado, tudo seria pior. Ou se eu
tivesse esperado a “gripezinha” melhorar. Agora já com a segunda dose e com a
vacina da gripe penso que já posso morrer de outra coisa qualquer, mas de Covid
não... Será?
O momento não será esquecido tão cedo. O país
sofrerá um retrocesso de muitos anos, no desenvolvimento, na educação e em
muitas áreas. As crianças serão adultos traumatizados pela COVID-19. Irão lembrar
dois anos perdidos na escola. Irão lembrarem-se dos pais, irmãos e avós que
morreram. Todos nós teremos alguém conhecido que morreu. O mundo não será mais
o mesmo e não sabemos as consequências que tudo isto irá deixar pra todos nós.
Este é um relato simples das coisas que eu
sinto e senti, acho importante compartilhar porque muitas vezes duvidei até que
fosse COVID, mas se não foi, devo estar ficando louco.
Deixo aqui minhas preces aos mais de 500.000
brasileiros mortos, dentre eles um sobrinho e alguns amigos.
Mário R. Feijó
09.07.2021