sexta-feira, 9 de julho de 2021

MINHA EXPERIÊNCIA COM A COVID-19

 


MINHA EXPERIÊNCIA COM A COVID-19

 

Praticamente 120 dias depois de testar positivo para esta doença, ainda tenho resquícios dela.

Tudo começou como se fosse uma simples gripe, mas no segundo dia fui ao posto especializado verificar o que era aquilo. No primeiro teste: positivo.

Fazia uns dez dias que eu tinha tomado a primeira dose da vacina. Tive a sensação de que estava com labirintite. Não conseguia ficar de pé. A dor de cabeça era terrível. Tinha suores noturnos como nunca tivera. Não sou dado a suar. Diminuiu meu paladar, apetite, e quase não sentia cheiros. Mas eu já tinha feito uma cirurgia para correção do desvio de septo e quase não sentia cheiros. Por isto não me era estranho. Estranho mesmo foi comer maionese e sentir gosto de picles. Também os cheiros quase desapareceram e eu ainda estou assim. Não sinto cheiros e o paladar tá ruim.

Outra coisa horrível que senti foi o desânimo, e dias depressivos. Para eu fazer qualquer coisa era preciso um esforço hercúleo, ainda está um pouco assim. Tenho que me esforçar muito para vencer isto. Algumas vezes tenho que usar o telefone para pedir pra alguém me ajudar a levantar.

As dores de cabeça e as tonturas sumiram, mas o cansaço e a falta de ar persistem. Ainda uso corticoide (por recomendação médica), para as sequelas pulmonares registradas, em uma tomografia, que mostraram 20% do pulmão com problemas. Além das dificuldades respiratórias noturnas eu pouco sentia tudo isto. Foi uma coisa rápida e avassaladora. Por sorte procurei uma UPA nos primeiros sintomas, do que parecia uma gripe, sem febre alguma.

Quando constatado em exames de sangue que eu estava com uma infecção já bem adiantada, eu não sentia quase nada, só um incomodo na bexiga e rins. Mas já estava com uma grande infecção.

Em casa houve outra pessoa que também sentiu tudo isto, mas na primeira semana tomando Tamiflu, Meclin, Azitromicina, Amoxilina de 875 mg e Predinizona, logo melhorou e não testou positivo, mas tínhamos contato direto. Eu me pergunto: como pode isto? Eu tive que voltar ao posto três semanas consecutivas onde os sintomas permaneciam e a cada vez uma nova batelada de remédios. Agora ainda uso uma bombinha de “Trimbow” para ajudar nas sequelas pulmonares (cada uma custa R$ 373,00) e dura um mês.

Quatro meses depois de contaminado eu percebo que não sou mais o mesmo. Não sei se voltarei a ser quem era, mas muita coisa mudou em mim, inclusive mentalmente. Sinto-me mais esquecido, há coisas que faço e não lembro. Por vezes sinto pequenos apagões de memória. Nada que eu possa dizer, tornei-me um inútil. Não nada disso, mas me sinto diferente. Às vezes tenho medo do que este vírus pode estar fazendo em meu corpo.

Percebo que meus sintomas foram brandos, diante do que já ouvi de outras pessoas, não precisei ser hospitalizado, mesmo assim sinto que a doença é cruel e foi devastadora em minha vida. Por mais eu dissesse o que sentia, as pessoas não acreditavam e se eu estivesse sozinho em meu apto, como geralmente fico, penso que não teria sobrevivido. Faltava forças para levantar da cama. Lembro um dia de ter pego o telefone e no whats dizer no meu grupo que estava com vontade de comer uma sopa, mas não tinha animo para levantar. Uma amiga veio à minha casa e trouxe uma que tinha feito para congelar. Eu já tinha passado meu período de contágio, mas parecia que estava com lepra, alguns tinham medo de se aproximar. É cruel também isto. Penso que alguns devem se sentir como eu me senti, outros passaram muito mal, e muita gente que morreu deve ter sofrido horrores. Não é fácil tudo o que esta pandemia tem causado nas pessoas, nas famílias, nos trabalhadores. E a gente fica de mãos amarradas olhando àqueles que podem e se utilizam do momento para fazer corrupção.

Mesmo assim eu penso que as pessoas devem se vacinar. Acredito que se não tivesse sido vacinado, tudo seria pior. Ou se eu tivesse esperado a “gripezinha” melhorar. Agora já com a segunda dose e com a vacina da gripe penso que já posso morrer de outra coisa qualquer, mas de Covid não... Será?

O momento não será esquecido tão cedo. O país sofrerá um retrocesso de muitos anos, no desenvolvimento, na educação e em muitas áreas. As crianças serão adultos traumatizados pela COVID-19. Irão lembrar dois anos perdidos na escola. Irão lembrarem-se dos pais, irmãos e avós que morreram. Todos nós teremos alguém conhecido que morreu. O mundo não será mais o mesmo e não sabemos as consequências que tudo isto irá deixar pra todos nós.

Este é um relato simples das coisas que eu sinto e senti, acho importante compartilhar porque muitas vezes duvidei até que fosse COVID, mas se não foi, devo estar ficando louco.

Deixo aqui minhas preces aos mais de 500.000 brasileiros mortos, dentre eles um sobrinho e alguns amigos.

 

Mário R. Feijó

09.07.2021

 

 

 

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