sexta-feira, 22 de agosto de 2014

DOIS IRMÃOS


DOIS IRMÃOS

        - Venha cá Romeu! Vamos cavalgar antes que a bruma da noite chegue e nos percamos.
- Não Rodrigo! Deixe-me descansar na rede. Aqui pelo menos eu ganho mais e não me perco.
Rodrigo era um daqueles homens que gostava de descobrir coisas novas, ganhar o mundo...
 Romeu? Era seu irmão mais velho, cansado da vida. Desiludido. Não acreditava que sua sorte fosse mudar. Preferia o mundo que já conhecia. Contentava-se com pouco. Quando precisava de comida pegava uma vara, o anzol e iscas e ia pescar. Bastava-lhe ter o pão de cada dia, mais nada. Agradecia a Deus o pouco que sempre teve e bastava.
Rodrigo foi-se embora. Decidira desbravar o mundo. Lutar contra monstros desconhecidos.
- Eu já não sei se o que quero para mim é ficar esperando as armadilhas da vida para depois lutar, disse Rodrigo.
- Eu prefiro ir à luta e vencer o que encontrar pela estrada. Vencerei a fome, o desemprego, a falta de moradia, os meios de transporte e quando achar o que quero construirei meu abrigo definitivo nesta terra de ninguém.
Pensava Rodrigo que não podia ficar esperando a vida acontecer. Ela aconteceria forjada por sua espada invisível da vontade em querer mudar.
Desde que os pais morreram Rodrigo e Romeu ficaram naquela casinha simples. Era um pequeno sitio que poderia suprir necessidades básicas, mas Rodrigo queria mais que aquilo.
Romeu acomodara-se. Era o irmão mais velho. Rodrigo não se contentava com as incertezas e o esperar. Por isto decidira-se a partir com o pouco que tinha e uma pequena mochila com roupas básicas. Tinha apenas 18 anos. O irmão tinha 22.
Rodrigo foi à luta e passados 20 anos havia montado um pequeno negócio que progredira. Tinha agora mulher e dois filhos, uma casa confortável e dois filhos que iam pra faculdade.
Romeu continuou no sitio que não mudara muito. Também casou-se e tinha seis filhos. O mais velho com apenas 15 anos e o mais moço com três.
A única novidade no sitio eram as cabras que sua esposa trouxera e as criava. Fazia queijos, pães e doces que vendia na feira livre da cidade. Não mudaram muito. Eram simplórios. Romeu continuava se contentando com pouco.
Rodrigo queria mais e continuava querendo...

Mário Feijó
22.08.14

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

BRUMAS DE INVERNO



BRUMAS DE INVERNO

Havia apenas bruma
Uma bruma que escondia
Todos os segredos daquele entardecer
E dos dias que se seguiam

Não se viam estrelas no céu
O sol bem cedo sumira
Dele restava ainda um pouco da luz
E uma luminosidade gris

À distância nada se via
Desapareceu o horizonte
Desapareceu o fim do mundo
Parecíamos estar apenas numa pequena redoma

Ao longe se ouvia ruídos
Dava a impressão de um caminhão
Mas quem garantia que não era uma nave?
O tropel de cavalos me despertou
Mas a bruma de inverno continuava...

Mário Feijó
21.08.14

PATÉTICO



TÃO PATÉTICO

A idade imprime em nossos ossos
Uma imobilidade antes desconhecida
Eu pulava, trepava em árvores
E corria de abelhas furiosas

Agora me misturo à poeira
Que se acumula pelo chão
E me perco entre os ácaros
Que se alimentam de restos meus

Somos quase patéticos
Quando o cansaço do corpo frágil
Diminui nossos sorrisos às travessuras do mundo

Há nas juntas partes difusas
Que não se ajudam mais
E o cansaço do corpo nos prostram nos cantos...

Mário Feijó
20.08.14

terça-feira, 19 de agosto de 2014

NA ESCURIDÃO DA LUA NOVA



NA ESCURIDÃO DA LUA NOVA


Pobre de mim que já não tenho tempo
Para ser feliz, para poder amar-te
Perdi-me nas brumas da noite
Minh’alma apaixonada foi tragada
Por um pé de vento, na boca da noite,
Agora vago entre estrelas cadentes
Entre uma galáxia e outra...

Desde que meus girassóis morreram
Eu não sei mais para onde ir
Antes tinha a orientação do sol
Agora me perco na escuridão da lua nova...

Já nada sei de mim ou de ti
Porque a escuridão transformou meus dias
Há tempos perdi-me num leito seco de rio
Espero a chuva cair novamente
Quem sabe assim eu possa encontrar-me no mar...


Mário Feijó
19.08.14

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DIA DE SOL



DIA DE SOL


Domingo pela manhã
Preparo-me para pescar
Pego a vara com anzol
Um balde de iscas e apetrechos

O gato que não era bobo
Parecia dormir no quintal
Levantou as orelhas, arregalou os olhos
E ficou de prontidão “querendo participar”

Eu vou pelo caminho do mar
O gato vem logo atrás
Jogo a isca e espero o peixe
O gato fica atento, pronto a esperar

O mar não está piscoso
Só manda peixes miúdos
O gato guloso pede “não joga fora”
Esperando os aperitivos...

Mário Feijó
18.08.14