sexta-feira, 12 de abril de 2013

A LOUCA QUE EU TANTO AMEI



A LOUCA QUE EU AMEI

Minhas duas avós eram o oposto uma da outra. Uma era branca, a outra negra. Uma era louca, a outra parecia uma santa. Ambas eram lindas e eu as amava. Cada uma de um modo diferente.
É incrível como podemos amar a alguém sem nunca dizer-lhe isto. Eu nunca disse nem a uma e nem à outra, tampouco elas me disseram. Há um tempo atrás as pessoas não falavam muito de amor, tampouco diziam EU TE AMO.
Minha avó Angelina era uma idosa completamente envelhecida, enrugada, alvíssima, sem nenhuma vaidade com uns olhos que pareciam o céu, de tão azuis. Nada é perfeito e desde que eu me lembro por gente ela era senil. Na época dizíamos louca... eu nunca soube se ela sempre fora assim ou tinha ficado com a idade. Nos padrões atuais ela nem era tão velha assim. Minha tia Lourdes hoje faz 84 anos e tem a aparência mais jovem que a que tinha minha avó com 77 anos, quando morreu.
Já minha avó materna era diferente. Era gordinha, mulata, olhos verdes, cheirosa, gostosa e dava vontade de ficar abraçado nela a todo momento. Sempre foi uma benção tê-la por perto e ela me fazia feliz, não só por ser Felicidade o seu nome, mas porque ela era um anjo na minha vida.
Eu não sei os motivos que me levaram a amar estas duas mulheres tão diferentes uma da outra. Não sei se foi a minha responsabilidade social para com elas, desde criança, ou se a razão era simples e biológica.
Hoje eu reflito sobre isto. Reflito sobre nossas convivências e sobre a convivência que tenho com meus netos. Os nossos laços com os avós era mais forte. Eu também me lembro de meus avôs, mas minha interação com eles nunca foi muito relevante e ambos morreram quando eu ainda era uma criança. Tinha menos de 12 anos nos dois casos.
Vale à pena lembrar o forte amor que tive por meus avós.
O mundo mudou e hoje eu não sei se as crianças amam e respeitam os mais velhos como as crianças do meu tempo. Mas sempre houve e há um conflito de gerações em qualquer época da civilização...

Mário Feijó
12.04.13

quinta-feira, 11 de abril de 2013

DEVASSA



ÉS DEVASSA

O teu corpo vadio
Entrega-se ao primeiro que acena
E lá tu vais deitar-te
Como se foras uma cadela vadia

És pior do que elas
Ages como animal no cio
Disputando teus machos
Querendo com todos deitar

És pior do que elas
Porque as vadias cobram por tempo
E tu não tens tempo
Nem mesmo para o sexo cobrar

És coelha insaciável
Rio em dias de enchente
Lava borbulhante em erupção
Tsunami destruindo o que encontra pela frente...

Mário Feijó
11.04.13

TIMIDEZ CURIOSA



TIMIDEZ CURIOSA

Papéis escritos
Para um analfabeto
Tem o mesmo valor
Para um gato curioso

O analfabeto não sabe
O que dizem os papéis
O gato não sabe o que significam
Mas ambos estão curiosos

O gato brinca
O analfabeto folheia
O gato joga pros lados
O analfabeto o mantém virado

O gato apenas quer brincar
O analfabeto tem o desejo intimo
De um dia poder ler
E pela timidez de um gato aprender...

Mário Feijó
11.04.13

ALMAMENTO



ALMAMENTO

Do outro lado do pensamento
Vivem pássaros sem asas
Que se vestem de borboletas
Para morar em casulos

E quando fecho os olhos do corpo
Abrem-se os olhos d’alma
Vendo tudo o que estava
Por estes lados escondidos

Eu ganho asas
Dentro do meu almamento
E vejo tudo aquilo que
O meu pensamento imaginava

O meu corpo desencorpado
Ganha dimensões etéreas
Que só as almas possuem

E quando sem se fazer perceber
Ele desce macio num campo florido
Pousa delicadamente numa flor lilás...

Mário Feijó
11.04.13

quarta-feira, 10 de abril de 2013

NÃO PLANEJE NADA



NÃO PLANEJE NADA

Quando você
Vier para meus braços
Não planeje nada
Apenas se entregue

Quando você
Quiser de mim
Tudo o que deseja
Apenas se entregue

Quando você
Tiver medo da vida
Eu te dou guarida
Mas apenas se entregue

Porque a vida acontece
Todos os dias em todo lugar
O sol, os pássaros, as flores, o mar
 Tudo acontece sem ninguém planejar...

Mário Feijó
10.04.13