MEDOS
Eu
tive tantos medos que sorria para não chorar. E quando eu sorria era um riso amarelo,
falso, medroso.
Eu tinha
medo de mim, de ser quem eu era e me escondia em máscaras.
Eu tinha
medo do escuro. Tinha medo dos mortos, medo dos vivos e só tinha confiança perto
de crianças e idosos e, ganhava sorrisos deles. Até hoje sou assim, crianças desconhecidas
me encaram e sorriem.
Nunca
tive medo dos bichos, com raras exceções. Tinha medo de cobras e nojo de sapos.
Talvez até porque sabia que nenhum deles se transformaria num príncipe. Se restasse
alguma dúvida talvez eu até gostasse porque era sonhador.
E tinha
muitos outros medos. Por exemplo tinha medo de ficar só. Se continuasse assim
não poderia ficar velho nunca, porque este é o destino de todos os velhos. Porém
nesta semana eu descobri que me tornei velho (porque idoso eu já sabia que
era). E, envelhecer é estar só, mesmo quando amamos alguém ou temos alguém por
perto.
A velhice
é um eterno aprendizado de solidão (como se durasse muito, pois quando
realmente envelhecemos já temos pouco pela frente) e quem não aprende com a
solidão se deprime e abre as portas para as doenças. Hoje mesmo ouvi uma psicóloga
dizendo que depressão é excesso de passado, e os velhos têm muito passado e
pouco futuro.
Neste
momento eu tenho medo de mim. Sei que não viverei mais muito, não mais do que
já vivi porque se isto acontecesse eu seria o homem contemporâneo mais velho do
mundo.
Tenho
medo da senilidade, da imobilidade, da dependência, das dores que me
atormentam, da falta de recursos para me cuidar e tantos outros que estão
brotando devagar.
Vejam
bem, nenhum dos meus medos é uma critica política ou social, uma acusação para
alguém, seja este alguém parente ou amigo.
Meus
medos antigamente ficavam enjaulados e me obedeciam. Agora quebraram todas as
jaulas de onde estavam aprisionados e passaram a me atormentar. Um deles anda
me ameaçando com “pânico”. Certamente não darei espaço para que se crie.
Quando
eu era criança tinha verdadeiro pavor de ficar sozinho dentro de casa. Ouvia barulhos
em todo canto, achava que eram fantasmas. Agora, se eles realmente eram
fantasmas já devem ter percebido que não me assustam porque seus barulhos não
mais me assustam. Meus medos agora são outros, nem tão ingênuos e infantis. Aprendi
que fantasmas não mais me assustam porque os seres humanos se tornaram mais
perigosos que meus fantasmas de criança.
Mário
Feijó (03.07.24)
Nenhum comentário:
Postar um comentário